tag:blogger.com,1999:blog-45509556928264133102024-02-07T15:11:56.145-08:00Filosofia UfalAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.comBlogger17125tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-51759273626131552432015-07-23T19:31:00.003-07:002015-07-23T19:45:27.318-07:00A crítica de Darwin ao argumento teleológico de Paley<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrQOfMxXICcAMt1YU-X6BiClBzPTWyQtawXPrfxp50rEileuEP0cgEuDZeNsna7EHFZqayaGuGoNtGf26sqoQBIrf0cQ_Bglqg7EkRMvG8jtDmzaRvrDHKPsMctfTv0-X3608uKFagIy75/s1600/Paley+Darwin.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="253" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrQOfMxXICcAMt1YU-X6BiClBzPTWyQtawXPrfxp50rEileuEP0cgEuDZeNsna7EHFZqayaGuGoNtGf26sqoQBIrf0cQ_Bglqg7EkRMvG8jtDmzaRvrDHKPsMctfTv0-X3608uKFagIy75/s400/Paley+Darwin.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;">Autor: Maxwell Morais de Lima Filho</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;">Doutorando em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará e Professor do Instituto de
Ciências Humanas, Comunicação e Artes da Universidade Federal de Alagoas </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"> Contato: max.biophilo@gmail.com </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: inherit;">Cada corpo organizado, nas disposições que contém para a sua manutenção e propagação, atesta um
cuidado por parte do Criador expressamente direcionado para esses fins. (...) As obras da natureza querem
apenas ser contempladas –<b> William Paley</b></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><i><b><br /></b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> <i>O organismo mais insignificante é um tanto mais elevado do que a poeira orgânica debaixo dos nossos pés
e ninguém que use de imparcialidade pode estudar uma criatura vivente, mesmo que seja humilde, sem
entusiasmar-se diante de sua estrutura e das suas características maravilhosas – <b>Charles Darwin </b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><i><b><br /></b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><i><b><br /></b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><i><b><br /></b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;">1. Introdução</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Do início da filosofia até aos dias atuais, esta questão tem constantemente permeado os
debates filosóficos: Deus<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[2]</span> existe? Ao longo da história, foram propostos argumentos com o
intuito de demonstrar racionalmente a existência de Deus. Podem-se dividir, para efeitos
práticos<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[3]</span> , tais argumentos em quatro tipos, a saber: ontológico, cosmológico, kalam<span style="font-size: xx-small;"><span style="color: #073763;">[4</span>]</span> e
teleológico. Apenas esse último será tratado neste texto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> O argumento teleológico ou argumento do desígnio<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[5]</span>
foi apresentado de diversos modos
no decorrer do tempo, sendo bastante famosa a Quinta via de Tomás de Aquino e a própria
versão de Paley, que será abordada logo abaixo. Apesar das diferenças, pode-se dizer que
esse argumento tenta demonstrar que a natureza foi planejada com algum tipo de propósito
ou finalidade (daí o nome teleológico), já que quando a contemplamos encontramos sinais
nítidos de desígnio. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Os organismos biológicos, especificamente, aparentam em máximo grau terem sido
planejados, haja vista a intricada complexidade biológica de seus corpos. No que se segue,
apresentarei dois modos distintos de explicar o desenho e a complexidade biológica, a
primeira delas invoca um Deus pessoal onipotente, onisciente, onipresente, eterno e
sumamente bom (seção 2), enquanto a outra explicação prescinde de um Planejador
sobrenatural e se baseia tão-somente em um processo cego sem qualquer tipo de antevisão
(seção 3). Pretendo mostrar que essa última explica adequadamente a complexa estrutura
biológica do olho<span style="font-size: xx-small;"><span style="color: #073763;">[6</span>]</span>
ao mesmo tempo em que demonstro que não há qualquer evidência de
planejamento inteligente desse órgão (seção 4). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;">2. O Argumento Teleológico de William Paley</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> William Paley nasceu em 1743 em Peterborough e estudou no Christ’s College, em
Cambridge. Apesar de não ter sido um pensador original, ele escrevia de modo entusiástico
e apaixonante; o seu último e mais famoso livro – Teologia Natural<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[7]
</span> – não é exceção à
regra. A temática geral desse livro está bem delineada em seu subtítulo, já que o autor
objetiva “demonstrar as evidências da existência e dos atributos da Divindade reunidos a
partir dos indícios da natureza”, notadamente no que se refere às estruturas biológicas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> A teologia natural<span style="font-size: xx-small;"><span style="color: #073763;">[8</span>]</span>
não é recente (remonta pelo menos à Grécia antiga) e, a despeito da
dificuldade de defini-la precisamente<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[9]
</span>, pode-se ter em mente que ela está relacionada à
prática de inferir a existência de Deus a partir do mundo (EDDY & KNIGHT, 2006, p. ix),
ao conjunto dos argumentos sobre a existência de Deus (PORTUGAL, 2006, pp. 314-5),
ou à ideia de que há uma conexão entre o mundo observável e um domínio transcendente
(McGRATH, 2011, p. 12). No que se refere à teologia natural inglesa, ela surge em meio a um conturbado cenário político e religioso no final do século 17, sendo responsável por
contrabalançar as visões ateístas e materialistas que surgiram durante esse período<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[10]</span>. Ela
despertou interesse na Inglaterra dessa época por, pelo menos, três fatores – (i) o
surgimento da crítica bíblica, (ii) o crescimento da desconfiança na autoridade eclesiástica
e (iii) o desgosto pela religião organizada e pelas doutrinas cristãs (McGRATH, 2011, pp.
50-3). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Os teólogos naturais ingleses defendiam a existência de Deus a partir de dois tipos
distintos de argumentos (McGRATH, 2011, p. 53) – os argumentos do desígnio
(observação da ordem: “a ordem implica um Ordenador”) e para o desígnio (evidência de
projeto: “não existe propósito sem um Ser que o confira sentido”). Esta segunda
abordagem é característica da concepção de teologia natural conhecida como físicoteologia<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[11]</span>,
concepção da qual o livro de Paley é tanto um ponto de referência quanto o
apogeu. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Apesar da ordem e da racionalidade do mundo que é governado pelas leis
newtonianas<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[12]</span>, o Universo não é o candidato ideal para “provar” a existência de um
“Criador inteligente”, pois o desígnio é deduzido a partir da complexidade do artifício, ou
seja, “da relação, do ajuste e da correspondência entre as partes” de determinada estrutura
(PALEY, 2006, p. 199). Sendo assim, Paley concede especial atenção aos organismos e
estruturas biológicas (olho, coração, articulações etc.), pois estes possuem a complexidade
necessária para fundamentar o seu argumento. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Paley (2006, p. 7) inicia a sua Teologia Natural com uma passagem que ficou célebre.
Ele pede que se imagine o seguinte: caso alguém topasse em uma pedra enquanto andava e
se perguntasse como ela havia parado ali, não seria absurdo, diz Paley, que se respondesse
que a pedra sempre estivera ali. Entretanto, prossegue ele, o mesmo não poderia ser dito
caso a pessoa em questão tivesse encontrado um relógio, ou seja, seria totalmente
insensato acreditar que o relógio estava no local desde sempre: a existência do relógio exige uma explicação diferente da que é dada para a pedra. Por quê? Para responder isso,
basta que se analise o relógio e, mesmo que não se saiba dos pormenores de sua origem e
de seu funcionamento, observar-se-ia o seguinte: o ajuste preciso de várias molas,
engrenagens e outras peças é o responsável pelo movimento, devido a um intricado
mecanismo, dos ponteiros do relógio. Esse movimento dos ponteiros, que é visível por
causa da transparência do vidro, tem o propósito de marcar as horas do dia.
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Diferentemente da observação da pedra, uma inferência inevitável surge da análise do
relógio (PALEY, 2006, p. 8): a complexidade do mecanismo e a finalidade do relógio só
são devidamente explicadas por um (ou mais) relojoeiro que o projetou e o montou<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[13]</span>, ou
seja, deve existir uma mente inteligente e intencional por trás do intricado artifício
adaptado à função cronométrica do relógio (PALEY, 2006, p. 12-5). E o que dizer acerca
da natureza? Do mesmo modo que no exemplo do relógio, há também na natureza nítidas
manifestações de desígnio, contudo, as “obras da natureza” exprimem um grau muito
maior de complexidade e propósito, refletindo a superioridade e a perfeição da mente que
as produziu. Superioridade essa em comparação com a inteligente, porém, finita e
imperfeita mente do relojoeiro humano: as obras da natureza compartilham com o relógio
“toda indicação de artifício” e “cada manifestação de desígnio”, com a importante
diferença de que eles são quantitativa e qualitativamente superiores naquelas, predomínio
“num grau que excede todo cálculo” (PALEY, 2006, p. 16).
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Como dito anteriormente, Paley se utiliza de variadas estruturas biológicas – ossos,
articulações, músculos etc. – com o intuito de demonstrar o seu argumento: a análise
dessas complexas e intrincadas estruturas nos leva a postular um Projetista inteligente por
trás das mesmas. Por questões de espaço, restringir-me-ei ao exemplo do olho para ilustrar
esse ponto (PALEY, 2006, pp. 16-28).
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> A constatação de semelhanças estruturais e da obediência aos mesmos princípios
ópticos entre o telescópio e o olho leva à conclusão que esse órgão foi projetado
intencionalmente para a visão (PALEY, 2006, p. 16). Paley faz mais do que sugerir uma
mera analogia<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[14]</span> entre a estrutura e o mecanismo de um instrumento humano, por um lado,
e um instrumento biológico, por outro. Ele aponta, na verdade, para uma identidade: como
o olho é um mecanismo, infere-se que ele foi inteligente e intencionalmente projetado
(McGRATH, 2005a, pp. 129-30; 2005b, p. 301). A partir desse exame, Paley chega à conclusão de que “o olho foi feito para a visão” da mesma maneira que o “telescópio foi
feito para auxiliá-la”, ou seja, as funções da visão e do telescópio partilham exatamente da
mesma prova de desígnio e, portanto, da inferência de um designer que os projetou e os
construiu. Por conseguinte, só é possível explicar a correlação biológica entre a forma
(anatomia) do olho e a sua função (visão) a partir do desígnio divino: o olho, para ser
repetitivo, foi feito para ver (PALEY, 2006, p. 16; GOULD, 1993, p. 148; DAWKINS,
2005, p. 23; McGRATH, 2011, pp. 94-5). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Abordarei no que se segue o mecanismo evolutivo que foi proposto quase 60 anos após
o argumento do desígnio de Paley: a seleção natural. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;">3. Charles Darwin e o Mecanismo de Seleção Natural</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Charles Robert Darwin e William Paley compartilhavam<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[15]</span> o país de origem, os estudos
em Cambridge e a defesa do argumento do desígnio<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[16]</span>: durante toda a sua viagem a bordo
do H.M.S. Beagle (1831-1836), o naturalista inglês ainda possuía uma visão teísta cristã e
acreditava, por conseguinte, que o Deus pessoal da Bíblia havia projetado e criado os seres
vivos<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[17]</span>
. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Entretanto, a concepção de Darwin se distanciou bastante da posição de Paley quando,
por volta de 1837-38, ele descobriu o mecanismo de seleção natural e se deu conta de que
as espécies não eram fixas<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[18]</span>. Tendo em mente o principal mecanismo explicativo do
processo evolutivo, Darwin (2000, p. 75) chegou à seguinte conclusão:
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;"> O antigo argumento do plano da natureza, tal como exposto por Paley, e que antes me parecia tão conclusivo, cai por terra, agora que a lei da seleção natural foi descoberta. Já não podemos argumentar, por exemplo, que a bela articulação de uma concha bivalve deve ter sido feita por um ser inteligente, do mesmo modo que o homem criou as dobradiças das portas. Parece haver tão pouco planejamento na variabilidade dos seres orgânicos e na ação da seleção natural quanto na direção em que sopra o vento. Tudo na natureza é resultado de leis fixas.</span><span style="font-size: x-small;"> </span></span></blockquote>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Para explicar como essa “lei” biológica – descoberta independentemente por Wallace<span style="font-size: xx-small;">19</span>
– foi responsável por essa drástica mudança de perspectiva de Darwin, farei um breve
resumo das ideias centrais da primeira parte do livro A Origem das Espécies<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[20]</span> (capítulos 1-
4), publicado originalmente em 1859. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> A intenção geral de Darwin nesse livro é defender e fundamentar que os organismos
descendem de um ancestral comum e evoluem por seleção natural (principal, mas não o
único mecanismo evolutivo)<span style="font-size: xx-small;"><span style="color: #073763;">[21</span>]</span>. Darwin (2006) constatou que se as espécies estivessem em
condições favoráveis, o seu crescimento populacional se daria de modo exponencial.
Contudo, as populações de organismos em geral são estáveis, e essa estabilidade decorre
da limitação dos recursos naturais. Devido à escassez de recursos, há uma competição<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[22]</span>
ferrenha entre os indivíduos – luta pela existência (capítulo 3) –, onde alguns irão
sobreviver e outros não. Caso se observe atentamente, ver-se-á que os indivíduos de uma
mesma população são diferentes no que se refere a muitas características anatômicas,
fisiológicas e/ou comportamentais (capítulo 2), e muito dessa variabilidade é transmitida dos progenitores aos seus descendentes<span style="font-size: xx-small;"><span style="color: #073763;">[23</span>]</span>. Isso significa que os indivíduos portadores de
características vantajosas levarão vantagem na luta pela existência em relação aos que não
as possuem (maior probabilidade de sobrevivência). Os organismos que vivem mais, por
sua vez, têm maior chance de se reproduzir (sucesso reprodutivo) e, portanto, de passar
essas características aos seus descendentes, e assim sucessivamente. A sobrevivência
desigual dos indivíduos de uma população se dá por seleção natural (capítulo 4), um
processo semelhante à seleção artificial<span style="font-size: xx-small;"><span style="color: #073763;">[24</span>]</span> (capítulo 1) utilizada pelo homem na
domesticação de animais e plantas. A atuação da seleção natural ao longo de muitas
gerações acarretará uma mudança contínua e gradual das populações, mudança essa que é
chamada de evolução biológica. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Com o intuito de explicar melhor a atuação da seleção natural, Darwin (2006, pp. 507-
8) pede que imaginemos que um lobo cace diversos tipos de presas. Dependendo do tipo de
presa, o sucesso pode ser alcançado por diferentes características do canídeo – devido à
“astúcia”, “força” ou “agilidade”, por exemplo. Suponhamos ainda, prossegue ele, que haja
bastantes cervos e que eles sejam o tipo de presa mais rápida do lobo. O que aconteceria
nessa situação? Ora, já que as características na população de lobos são variáveis, os que
“forem mais ágeis e velozes” teriam maior sucesso na captura de cervos, aumentando a
probabilidade de sobrevivência e de sucesso reprodutivo, transmitindo, consequentemente,
tais características vantajosas para as suas crias<span style="font-size: xx-small;"><span style="color: #073763;">[25</span>]</span>. Uma população mais ágil e veloz,
portanto mais adaptada, seria o resultado desse processo de variação, seleção e herança
atuando em numerosos lobos ao longo de milhares de gerações. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Caso se queira representar em uma imagem esse longo e gradual processo, deve-se
imaginar uma imensa e frondosa árvore, onde as espécies são representadas pelos terminais
de seus galhos mortos (espécies extintas) e vivos (espécies atuais). Lembrando-se, é claro,
que esse processo é dinâmico, ou seja, alguns dos atuais ramos irão perecer (espécies que
se extinguirão), bem como ainda brotarão ramos novos (espécies que surgirão). Apesar de
não explicar a origem da vida, Darwin supõe que ela surgiu de uma ou algumas poucas
espécies ancestrais<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[26].</span> Na prática, isso significa dizer que todos os seres vivos que
existiram, existem e existirão na Terra são aparentados em maior ou menor grau, pois
compartilham a mesma raiz. Em resumo, essa é a representação da árvore da vida. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> No 4º capítulo d’A Origem, dedicado à seleção natural, Darwin se utiliza da única
ilustração presente em todo o livro, um diagrama hipotético semelhante à imagem da
árvore supracitada (figura 1)<span style="font-size: xx-small;">27</span>. O eixo vertical do diagrama representa a dimensão
temporal (I, II, III etc.) e a distância entre as letras no eixo horizontal reflete a diferença de
parentesco evolutivo (divergência filogenética) entre as espécies. Dito isso, pode-se
constatar que há quinze novas espécies no topo do diagrama (tempo atual) que
descenderam por modificação a partir de algumas das onze espécies ancestrais presentes na
base (representadas pelas letras A-L), não deixando de se notar também os muitos “ramos”
intermediários entre os dois extremos: </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxuv_Xx03V59goYLI_j5kAK7_yJ9KlEOZFVEGh-k8m0lo65aZSDngtiES1gx6OTO_KVSr3RMMC3gER5la2uy2bhNfC48379OOza3YQL3F7PX21EiuIZdSJf1NcIaUtLNhSClyK8cSOW_Dq/s1600/artigo+max.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxuv_Xx03V59goYLI_j5kAK7_yJ9KlEOZFVEGh-k8m0lo65aZSDngtiES1gx6OTO_KVSr3RMMC3gER5la2uy2bhNfC48379OOza3YQL3F7PX21EiuIZdSJf1NcIaUtLNhSClyK8cSOW_Dq/s320/artigo+max.png" width="320" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">Figura 1: Diagrama em forma de árvore presente n’A Origem das Espécies (DARWIN, 2006, P. 525). </span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Antes de prosseguir, é importante ratificar que Darwin propôs uma teoria gradualista
(mudança contínua e gradual das populações), e isso significa que o estado atual de um
organismo ou de um órgão foi alcançado através de inúmeras gradações intermediárias –
Natura non facit saltum. É justamente por defender esse gradualismo que Darwin (2006, p.
571) admitiu explicitamente que a sua teoria sucumbiria caso se demonstrasse que certo
órgão não poderia ser explicado por meio de pequenas e sucessivas mudanças ao longo do
tempo. Sucumbiria, pois ele se apressa em afirmar logo em seguida: “Só que nunca
consegui encontrar esse órgão” (DARWIN, 2006, p. 571). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Não seria o olho um bom exemplo de órgão complexo não passível de ter evoluído
gradualmente? Essa foi uma das muitas estruturas<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[28]</span> analisados por Darwin n’A Origem. Na
seção seguinte, abordarei a seleção natural como pano de fundo explicativo para o olho,
mostrando que é possível explanar o seu surgimento de modo natural, gradual e não intencional. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;">4. Olho: Desenho sem Desígnio</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Eis aonde chegamos: é possível, a partir do que foi exposto, explicar uma mesma
estrutura – o olho – de dois modos incompatíveis. O primeiro (seção 2) afirma que a
complexidade estrutural e a intrincada conexão entre as partes desse órgão são suficientes
para atestar que ele tenha sido planejado e fabricado, de uma só vez, por um Ser
sobrenatural inteligente, poderoso e bom: o Deus pessoal da concepção cristã. Já de acordo
com a explicação alternativa (seção 3), toda a complexidade e “perfeição” do olho atual
podem ser explicadas por um mecanismo material, a seleção natural, que atuou sobre
inúmeros estágios intermediários, ou seja, a origem dessa estrutura se deve a um processo
gradual e desprovido de finalidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Darwin (2006, pp. 569-71) afirma que pode parecer impossível ou absurdo supor que
um órgão capaz de ajustar o foco, de receber quantidades variadas de luz e de corrigir
aberrações seja explicado pela seleção natural. Essa impossibilidade, entretanto, é apenas
aparente, pois é possível demonstrar que existem numerosas gradações vantajosas entre um olho simples e um complexo. Esse olho complexo resultou da seleção natural atuando
sobre a variabilidade biológica, a qual promoveu uma sobrevivência diferencial dos
indivíduos e da transmissão hereditária das características vantajosas, que se acumularam
por inúmeras gerações. A impossibilidade aparente, portanto, está na suposição de que um
órgão moldado por milhões de anos surja em um só passo (DARWIN, 2006, pp. 569-71).
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Contra essa suposição, Darwin nos adverte repetidas vezes: Natura non facit saltum<span style="font-size: xx-small;">29 </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> No entanto, alguns críticos defendem que o processo evolutivo é incapaz, mesmo
levando-se em consideração o vasto tempo geológico, de moldar um órgão como o olho,
haja vista que o acaso não produziria a sua complexidade estrutural: caso fosse possível
separar cada um dos muitos componentes desse órgão e, após isso, juntá-los
aleatoriamente, constatar-se-ia que seria implausível, em termos práticos, formar um olho
funcional. Se esse é o caso, faz mais sentido postular que a origem dessa estrutura
biológica escapa à explicação naturalista proposta por Darwin. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> A falha do raciocínio acima, porém, está em considerar que o conjunto do processo
evolutivo se dê ao acaso, e isso é um erro. Biólogos atuais utilizam conceitos como
mutação genética para explicar o surgimento de variações<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[30]</span> aleatórias que ocorrem no
interior de uma população de organismos. A imensa maioria dessas mutações é deletéria,
mas o que falar das que são vantajosas? Simples, a seleção natural se encarrega de eliminar
as primeiras e de preservar as últimas<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[31]</span>, promovendo a sobrevivência não aleatória dos
indivíduos e sendo, desse modo, responsável pelo acúmulo das modificações favoráveis na
população em questão: </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">Cada mudança sucessiva no processo evolutivo gradual foi simples o bastante,
relativamente à mudança anterior, para ter acontecido por acaso. Mas a
sequência integral dos passos cumulativos não constitui absolutamente um
processo aleatório, considerando a complexidade do produto final em
comparação com o ponto de partida original (DAWKINS, 2005, p. 73). </span></span></blockquote>
<span style="font-family: inherit;"> O resultado desse processo cumulativo é que as transformações pelas quais passam os
organismos de uma população tendem a tornar suas estruturas corporais mais úteis<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[32]</span>, em
relação às de seus antepassados. Em outras palavras, por eliminar conformações nocivas,
esse mecanismo asseguraria que o grau de perfeição encontrado num certo momento
supere os estágios precedentes (DARWIN, 2006, p. 578). </span><br />
<span style="font-family: inherit;"> Isso implica perfeição? Não. Dizer que um olho é “perfeito” significa o mesmo que
afirmar (i) que ele é bem adaptado à sua função e (ii) que é mais eficiente em relação aos
estágios estruturais anteriores. Até pouco tempo antes da publicação d’A Origem, Darwin
advogava a favor de uma adaptação perfeita dos organismos ao ambiente, ou seja, durante
essa época ele subordinava as mudanças evolutivas às modificações nas condições
ambientais. Entretanto, Darwin mudou de concepção no início de 1857, conjecturando que
se não existisse uma adaptação perfeita dos organismos ao ambiente, “haveria uma
contínua busca por ajustes, no sentido de conseguir o máximo possível de eficiência no uso
de recursos do ambiente” (BIZZO, 2007, p. 360). Por conseguinte, a seleção natural
darwiniana, diferentemente do Deus de Paley, é incapaz de assegurar uma adaptação
ambiental plena dos seres vivos, e a estrutura corpórea desses é sempre, pelo contrário,
imperfeita (BROOKE, 2003, p. 198) – Deus projeta o ideal, a seleção natural molda o
possível. </span><br />
<span style="font-family: inherit;"> No que se refere especificamente ao olho humano, isso é suportado pela falta de
perfeição desse órgão (DAWKINS, 2005, p. 143): ele forma uma imagem invertida, possui
um ponto cego, deteriora-se com o passar do tempo e, para infelicidade de certas pessoas,
alguns vêm com defeito de fábrica! Por que características nitidamente desvantajosas do
ponto de vista de um simples engenheiro humano seriam levadas a cabo por um Deus
sumamente inteligente, bondoso e poderoso? Essas imperfeições são explicadas
satisfatoriamente, e até mesmo preditas, pela seleção natural, mas são mutuamente
excludentes em relação a um planejamento divino. Sendo assim, Darwin é capaz de explicar a adaptação “perfeita” do olho à sua função sem evocar, em momento algum, o
Deus projetista, inteligente e intencional de Paley, substituindo-O pela seleção natural, um
mecanismo cego, sem qualquer tipo de antevisão ou propósito (DAWKINS, 2005, pp. 23-
4). Em resumo, o olho, o imperfeito olho, é um desenho biológico, fruto de um processo
natural, e não o resultado do desígnio de um Ser sobrenatural (DARWIN, 2006, p. 580): a
ciência prescinde da teologia tanto para explicar o seu surgimento como o seu
funcionamento.
</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<b><span style="font-family: inherit;">5. Considerações Finais </span></b><br />
<b><span style="font-family: inherit;"><br /></span></b>
<span style="font-family: inherit;"> De acordo com o que foi visto, concluo que o sucesso da concepção darwinista em
explicar naturalisticamente os organismos vivos e as suas estruturas (seções 3 e 4) é
suficiente para refutar o argumento do desígnio de Paley<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[33]</span> (seção 2). Entretanto, o êxito
daquela concepção não é o bastante para garantir a inexistência de Deus, inclusive do Deus
pessoal invocado pelas religiões monoteístas. E isso se dá basicamente por três motivos:</span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;">(i) Não é possível provar ou refutar Deus a partir de dados empíricos<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[34]</span>. Entre outras
coisas, isso significa que por mais racionais que sejam os argumentos a favor e
contra a existência de Deus, eles nunca serão definitivos para encerrar a
questão: pessoas inteligentes e esclarecidas continuarão a defender pontos de
vista diametralmente opostos sobre o assunto.</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;">(ii) A teoria evolutiva não é necessariamente uma concepção ateísta. Mais do que isso,
o próprio Darwin<span style="color: #073763; font-size: xx-small;">[35]</span> não endossava essa concepção: o abandono da visão teísta
de sua juventude não significou a defesa do ateísmo, pois, provavelmente, ele
adotou uma posição agnóstica no final de sua vida. Cito duas passagens retiradas, respectivamente, de uma carta enviada para Asa Gray (22 de maio de
1860) e de sua autobiografia para ilustrar esse fato: </span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">Jamais foi a minha intenção escrever como um ateu. (...) Sinto, no mais íntimo
de meu ser, que todo esse assunto é profundo demais para o intelecto humano.
(...)
Sem dúvida, concordo com você que minhas posições não são necessariamente
as de um ateu (BURKHARDT, EVANS & PEARN, 2009, pp. 39-40). </span></blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">Não tenho a pretensão de lançar luz sobre esses problemas obscuros
[relacionados a Deus]. O mistério do início de todas as coisas nos é insolúvel.
Devo contentar-me em permanecer agnóstico (DARWIN, 2000, p. 81).
</span></blockquote>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;">(iii) Mesmo que fosse possível refutar empiricamente Deus, isso não se daria tendo
em vista apenas a biologia evolutiva. A descendência comum e o mecanismo
de seleção natural são eficazes para demonstrar que os seres vivos não foram
planejados por Deus, mas não o são para provar que o Universo e suas leis não
foram projetados por um Ser sobrenatural: os organismos biológicos são uma
parcela temporal e espacialmente limitada dos seres materiais do Universo e é
necessário, por conseguinte, mais do que uma explanação do domínio biológico
para dar conta da totalidade do âmbito físico.<span style="font-size: x-small;"> </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Por fim, queria terminar este texto lembrando que o mesmo Darwin que cursou
medicina e se tornou um grande naturalista também estudou teologia e pretendia, assim
como o fez Paley, seguir uma carreira religiosa. Porém, diferentemente da Teologia
Natural escrita por seu conterrâneo, a obra de Darwin não foi recebida de modo
amistoso pelos religiosos: “Considerando a fúria com que tenho sido atacado pelos
ortodoxos, parece ridículo que um dia eu tenha pretendido ser pastor” (DARWIN,
2000, p. 49). Que feliz ironia! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;"> 6. Referências Bibliográficas </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">BIZZO, Nelio. <b>Darwin e o Fim da Adaptação Perfeita dos Seres Vivos: A Superação
da Visão Teológica de Paley e o Princípio da Divergência.</b> In: Lilian MARTINS, Maria
Elice PRESTES, Waldir STEFANO & Roberto MARTINS (Orgs.). <b>Filosofia e História
da Biologia 2</b>. São Paulo: Mack Pesquisa/Livraria da Física, 2007. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">BROOKE, John Hedley. <b>Darwin and Victorian Christianity</b>. In: Jonathan HODGE &
Gregory RADICK (Eds.). <b>The Cambridge Companion to Darwin</b>. Cambridge:
Cambridge University Press, 2003. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">BURKHARDT, EVANS & PEARN (Orgs.). A<b> Evolução: Cartas Seletas de Charles
Darwin, 1860-1870. </b>Tradução de Alzira Vieira Allegro<b>.</b> São Paulo: Editora UNESP, 2009.
CAPONI, Gustavo. D<b>efinitivamente no Estaba Ahí: La Ausencia de la Teoría de la
Selección Natural en Sobre la Tendencia de las Variedades a Apartarse
Indefinidamente del Tipo Original de Alfred Russel Wallace.</b> In: Ludus Vitalis, v. 17, n.
32, 2009a, p. 55-73.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">_______ <b>Sobre la Génesis, Estructura y Recepción de El Origen de las Especies.</b> In:
Scientiae Studia, v. 7, n. 3, jul/set, 2009b, p. 403-24. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">_______. <b>Las Raíces del Programa Adaptacionista.</b> In: Scientiae Studia, v. 9, n. 4,
out/dez, 2011, p. 705-38. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">_______.<b> Função e Desenho na Biologia Contemporânea. </b>São Paulo: Associação
Filosófica Scientiae Studia/Editora 34, 2012. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">CORETH, Emerich. <b>Deus no Pensamento Filosófico.</b> Tradução de Francisco de Ambrosis
Pinheiro Machado. São Paulo: Edições Loyola, 2009. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">DARWIN, Charles. <b>Autobiografia, 1809-1882 (com notas de Francis Darwin)</b>.
Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">_______. O<b>n the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation
of Favoured Races in the Struggle for Life.</b> In: Edward O. WILSON (Editor and
Introduction). <b>From so Simple a Beginning: The Four Great Books of Charles Darwin</b>.
New York: W. W. Norton & Company, 2006. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">DAWKINS, Richard. <b>A Escalada do Monte Improvável: Uma Defesa da Teoria da
Evolução. </b>Tradução de Suzana Sturlini Couto. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">_______. <b>O Relojoeiro Cego: A Teoria da Evolução contra o Desígnio Divino.</b>
Tradução de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">_______. <b>Deus, um Delírio.</b> Tradução de Fernanda Ravagnani. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">DENNETT, Daniel. <b>A Perigosa Ideia de Darwin: A Evolução e os Significados da
Vida.</b> Tradução de Talita M. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">_______. <b>Atheism and Evolution.</b> In: Michael MARTIN (Ed.). T<b>he Cambridge
Companion to Atheism</b>. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">EDDY, Matthew & KNIGHT, David. <b>Introduction</b>. In: William PALEY. <b>Natural
Theology</b>. Oxford: Oxford University Press, 2006. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">GARRETT, Brian. <b>Metafísica: Conceitos-Chave em Filosofia. </b>Tradução de Felipe
Rangel Elizalde. Porto Alegre: Artmed, 2008. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">GOULD, Stephen Jay.<b> Darwin e Paley encontram a Mão Invisível</b>. In: _______. <b>Dedo
Mindinho e seus Vizinhos: Ensaios de História Natural</b>. Tradução de Sergio Flaksman.
São Paulo: Companhia das Letras, 1993. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">_______. <b>The Structure of Evolutionary Theory</b>. Cambridge, MA: Belknap Press, 2002. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">HUME, David. <b>Diálogos sobre a Religião Natural [Partes 5 e 8]</b>. In: Plínio J. SMITH &
Paulo J. L. PIVA. (Orgs.). <b>Dez Provas da Inexistência de Deus.</b> Tradução de Plínio
Junqueira Smith. São Paulo: Alameda, 2012. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">MAYR, Ernst.<b> Biologia, Ciência Única: Reflexões sobre a Autonomia de uma
Disciplina Científica. </b>Tradução de Marcelo Leite. São Paulo: Companhia das Letras,
2006. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">McGRATH, Alister. <b>Fundamentos do Diálogo entre Ciência e Religião</b>. Tradução de
Jaci Maraschin. São Paulo: Edições Loyola, 2005a. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">_______. <b>Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma Introdução à Teologia
Cristã</b>. Tradução de Marisa de Siqueira Lopes. São Paulo: Shedd Publicações, 2005b. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">_______. <b>Darwinism and the Divine: Evolutionary Thought and the Natural
Theology.</b> Oxford: Wiley-Blackwell, 2011. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">OLDING, Alan. <b>Modern Biology and Natural Theology.</b> London: Routledge, 1991.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">PALEY, William. N<b>atural Theology: or, Evidence of the Existence and Attributes of
Deity, collected from the Appearances of Nature.</b> Matthew D. EDDY & David
KNIGHT (Editors, introduction and notes). Oxford: Oxford University Press, 2006. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">PORTUGAL, Agnaldo Cuoco. <b>Argumentos sobre a Existência de Deus [verbete]</b>. In:
João BRANQUINHO, Desidério MURCHO & Nelson GOMES (Eds.).<b> Enciclopédia de
Termos Lógico-Filosóficos</b>. São Paulo: Martins Fontes, 2006. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">WATERS, C. Kenneth. <b>The Arguments in the Origin of Species.</b> In: Jonathan HODGE
& Gregory RADICK (Eds.). <b>The Cambridge Companion to Darwin. </b>Cambridge:
Cambridge University Press, 2003. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;">__________________________________</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #222222; text-align: start;"><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span style="color: red;"><span style="background-color: white; text-align: start;">Texto originalmente publicado como o 3º capítulo (pp. 84-108) do livro </span><b style="background-color: white; text-align: start;"><i>Filosofia, Religião e Secularização</i></b><span style="background-color: white; text-align: start;">, organizado por Antonio Glaudenir Brasil MAIA & Geovani Paulino OLIVEIRA (Porto Alegre: Editora Fi, 2015). Link para a leitura completa do livro</span></span><span style="background-color: white; color: #222222; text-align: start;">: </span><a href="http://media.wix.com/ugd/48d206_de70e326d1ea48509ced8df82cecf15e.pdf" style="background-color: white; color: #1155cc;" target="_blank">http://media.wix.com/ugd/<wbr></wbr>48d206_<wbr></wbr>de70e326d1ea48509ced8df82cecf1<wbr></wbr>5e.pdf</a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[1] Agradeço a André Nascimento Pontes, Professor de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas
(UFAM), pelas críticas e sugestões feitas a este texto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[2] Ressalto que a temática sobre Deus é bem antiga e surgiu com a religião muito antes do aparecimento da
filosofia (CORETH, 2009, pp. 16-27).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[3] Como observado por Eddy & Knight (2006, pp. ix-x), a divisão dos argumentos para a existência em três
categorias (eles não mencionam o argumento kalam) é uma “ferramenta heurística útil”, contanto que não se
esqueça de que tais argumentos frequentemente podem ser apresentados juntos, não sendo, portanto, “pacotes
fechados”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[4] O argumento kalam é proveniente de uma escola árabe do início da Idade Média e alguns estudiosos não o
mencionam separadamente por o considerarem uma variante do argumento cosmológico (McGRATH,
2005b, pp. 298-300).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[5] A palavra inglesa “design” pode ser traduzida de duas formas nas línguas latinas (português, espanhol e
francês): uma possibilidade é “desígnio” e a outra, “desenho”. Enquanto o uso dessa última não acarreta a
inferência de qualquer propósito ou intenção, o mesmo não pode ser dito daquela primeira possibilidade de
tradução. Portanto, é possível se afirmar que os organismos são desenhos biológicos sem se invocar qualquer
desígnio para explicar os mesmos: “(...) a ideia que a seleção natural desenha os organismos sem desígnio
algum não tem a aparência imediata de um contrassenso” (CAPONI, 2012, p. 64, grifos do original).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[6] A abordagem de Darwin explana a complexidade biológica em uma dimensão muito mais ampla e não
apenas fragmentos da mesma. Utilizo a estrutura do olho como um exemplo ilustrativo do poder explanatório
do paradigma darwiniano.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[7] O título completo em inglês é Natural Theology or Evidence of Existence and Attributes of Deity, collected
from the appearances of nature.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[8] Ora, caso se leve em consideração que Deus – com todas as características que as três grandes religiões
monoteístas Lhe atribuem – tanto decidiu se revelar através das escrituras sagradas quanto projetar-criar o
mundo, tem-se a tão famosa metáfora dos dois Livros de Deus, respectivamente, o Livro Revelado e o Livro
da Natureza e, consequentemente, duas formas de conhecê-Lo: o 1º “Livro” é objeto de estudo da teologia
revelada (conhecimento completo de Deus), enquanto que o 2º “Livro” é estudado pela teologia natural
(conhecimento parcial de Deus). Na verdade, a teologia natural não pretende provar a existência de Deus,
mas já pressupõe que Ele exista, ou seja, a teologia natural depende da teologia revelada: “A busca de ordem
na natureza não pretende demonstrar que Deus existe, mas apenas quer reforçar a plausibilidade de uma
crença já existente” (McGRATH, 2005a, p. 170). Ver também Paley (2006, p. 280).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[9] McGrath, por exemplo, lista três (2005a, pp. 171-6) ou quatro (2011, p. 16) concepções abrangentes de
teologia natural.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[10] John Ray publicou em 1691 um livro que é um marco dessa época – The Wisdom of God Manifested in the
Works of the Creation. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[11] Constata-se claramente que Paley foi influenciado, entre outros, por William Derham, sendo sugestivo
comparar os títulos do livro daquele (1802) com o deste (1713) – Physico-Theology: or, A Demonstration of
the Being and Attributtes of God from his Works of Creation.
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[12] Paradoxalmente, o sucesso da física de Newton, que era um teísta cristão, deu margem para uma
interpretação deísta do Universo: sim, o Universo é um grande e complexo relógio, mas a sua manutenção e o
seu funcionamento não dependem de um Deus pessoal. Paley foi o responsável por reabilitar e rearticular a
metáfora do relógio em prol da existência do Deus cristão (McGRATH, 2005a, p. 129; 2011, p. 91). Vale a
pena ressaltar que também é possível se extrair uma interpretação teísta da concepção newtoniana de
Universo: as leis da natureza são um indício ou mesmo uma prova de que há um Legislador e este, por seu
turno, pode “ser facilmente identificado com a, ou assimilado à, noção cristã de Deus” (McGRATH, 2011, p.
54). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[13] O Deus defendido por Paley é tanto um Projetista quanto um Fabricador (McGRATH, 2011, p. 94). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[14] É lugar comum na literatura apresentar o argumento de Paley como sendo uma analogia. A esse respeito,
consultar Portugal (2006, p. 317), Eddy & Knight (2006, p. xviii) e Garrett (2008, p. 25), por exemplo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[15] Sobre a “continuidade física e intelectual entre o jovem Darwin e Paley”, consultar McGrath (2011, pp.
155-7). De acordo com esse autor, a compreensão do pensamento do jovem Darwin só é possível caso se
tenha em conta a influência nele exercida pelos escritos de, entre outros, William Paley. A esse respeito, ver
também Gould (2002, pp. 116-21) e Olding (2003, pp. 6-10). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[16] “Em momento algum me preocupei com as premissas de Paley; aceitando-as em confiança, fiquei
encantado com a longa linha de argumentação e convencido por ela” (DARWIN, 2000, p. 51). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[17] Pode-se destacar na autobiografia de Darwin (2000) duas passagens que precedem à sua famosa viagem e
outra que se refere a esse último período: “(...) como, naquela época, eu não tinha nenhuma dúvida sobre a
verdade rigorosa e literal de cada palavra da Bíblia, logo me convenci de que nossa religião devia ser
plenamente aceita” (pp. 48-9) / “Era profundamente religioso e tão ortodoxo que, um dia, disse-me que
ficaria desolado se uma só palavra dos Trinta e Nove Artigos fosse alterada. Suas qualidades morais eram
admiráveis, sob todos os aspectos” (pp. 55-6) / “Eu era ortodoxo na época em que estive a bordo do Beagle.
Lembro-me de provocar gargalhadas em vários oficiais (embora eles mesmos fossem ortodoxos) por citar a
Bíblia como uma autoridade incontestável numa ou noutra questão de moral” (pp. 73-4). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[18] “Logo que me convenci, no ano de 1837 ou 1838, de que as espécies eram mutáveis, não pude evitar a
crença em que o homem devia estar sujeito a essa mesma lei” (DARWIN, 2000, p. 113). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[19] Em geral, não há qualquer dúvida que Darwin descobriu antes e fundamentou melhor do que Wallace o
mecanismo por ele denominado de seleção natural. Um ano antes da publicação d’A Origem, foi tornado
público a descoberta independente desse mecanismo e, portanto, o mesmo foi atribuído aos dois naturalistas
(leitura de um trabalho conjunto na Sociedade Lineana em julho de 1858). Deve-se ressaltar que há quem
negue que Wallace propôs um mecanismo evolutivo semelhante à seleção natural em seu artigo original de
1858 (CAPONI, 2009a).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[20] O título original do livro é On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of
Favoured Races in the Struggle for Life. Seguirei nessa exposição Waters (2003) e Caponi (2009b,
especialmente o primeiro e o segundo movimento de sua versão do silogismo darwiniano, pp. 413-4). De
acordo com Waters (2003, p. 121), A Origem das Espécies (1ª edição) pode ser dividida em três partes, a
saber: (i) apresentação do argumento analógico da seleção artificial e das observações provenientes da
história natural (capítulos 1-4), (ii) análise do conjunto de problemas enfrentados pela sua abordagem
(capítulos 6-9) e, por fim, (iii) demonstração do poder explicativo de sua concepção científica (capítulos 5,
10-13). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[21] Para Mayr (2006, pp. 113-32), não é correto referir-se a uma teoria de Darwin: o que existe, na verdade, é
um paradigma darwiniano composto por cinco teorias independentes – entre elas, estão a descendência
comum e a seleção natural, as quais explicam, respectivamente, a similaridade interespecífica e a adaptação
ao ambiente. Segundo Caponi (2011, pp. 705-10), o programa adaptacionista (adaptação dos organismos às
exigências ambientais) teve um papel secundário em relação ao programa filogenético (filiação comum na
árvore da vida) logo após a publicação d’A Origem das Espécies, já que nesse período a tarefa principal era
traçar filogenias e não identificar adaptações. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[22] Darwin redigiu o seu livro numa Inglaterra capitalista e industrial e, entre tantas outras, podem-se destacar
aqui as influências de dois economistas britânicos, a saber, Adam Smith e Thomas Malthus. De acordo com o
primeiro, o estabelecimento de uma liberdade natural possibilita que um determinado homem livre persiga os
seus próprios interesses na competição com os demais indivíduos, desde que ele não infrinja as leis que
regem a sociedade. Segundo Malthus, o poder de crescimento da população humana (progressão geométrica)
é muito maior que o da produção de alimentos (progressão aritmética), e essa discrepância gera competição,
cujo resultado é a fome, a miséria, o vício e a morte de alguns indivíduos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[23] Darwin (2006) não sabia explicar como surgiam as variações nem possuía uma teoria que fosse capaz de
explicar satisfatoriamente a transmissão das características hereditárias (ele defendeu uma teoria chamada
pangênese, a qual foi contestada desde o seu tempo e há muito foi descartada). Sendo assim, ele estava
consciente de sua limitação sobre as leis que regulam a variação e de que o resultado dessas leis é
“infinitamente complexo e diversificado” (p. 456). Além disso, ele não sabia explicar o porquê da
herdabilidade de certos traços e não de outros (p. 457).
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[24] Darwin foi muito mal compreendido ao falar da semelhança existente entre esses dois processos, e ele
tentou desfazer textualmente tal confusão nas edições posteriores d’A Origem (capítulo 4). Quando um
pecuarista ou um agricultor manipula o cruzamento de animais e plantas com determinadas características,
ele o faz intencionalmente. Portanto, a domesticação de animais e plantas envolve, literalmente, um processo
de seleção, ou seja, de escolha consciente. Contudo, como não há qualquer tipo de propósito na sobrevivência
diferencial dos organismos na natureza, apenas metaforicamente é que se pode utilizar o termo seleção.
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[25] Note, em primeiro lugar, que há aqui simultaneamente dois aspectos envolvidos, a saber: a seleção dos
lobos mais rápidos e a eliminação dos mais lentos. Em segundo lugar, observe que o sucesso de sobrevida
dos indivíduos selecionados não implica que eles obterão, necessariamente, o mesmo êxito reprodutivo. Com
isso, pode-se afirmar juntamente com Mayr (2006, p. 151) que a seleção natural é constituída por dois
fenômenos diversos: “a seleção natural propriamente dita (seleção de sobrevivência) e a produção diferencial
de prole devida à variação na capacidade de lidar com fatores ambientais que não sejam parceiros e seleção
sexuais (seleção por sucesso reprodutivo) – especificamente, sucesso na competição por parceiros.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[26] Duas questões que estavam claramente separadas para Darwin são, muitas vezes, confundidas pelos
adeptos do criacionismo. Um primeiro problema é saber como se originou a vida e o outro, – relacionado ao
primeiro, mas distinto dele – é explicar como, após o surgimento da vida, surgem novas formas orgânicas. O
processo de diversificação biológica (2ª questão) foi explicado por Darwin através da atuação da seleção
natural em uma ou algumas poucas espécies iniciais: “(...) esse processo de divergência poderia ter seu ponto
de partida em um conjunto muito reduzido de formas primitivas ou, inclusive, em uma única forma; forma
essa cuja origem, claro, a própria teoria da seleção natural não poderia explicar. Ela é uma teoria sobre a
origem das espécies e não sobre a origem da vida” (CAPONI, 2009b, p. 412).
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[27] Para ser mais exato, o diagrama da figura 1 representa apenas um corte abstrato ou ampliação de uma
pequena região da árvore da vida. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[28] Como dito anteriormente, Paley influenciou bastante Darwin. Essa influência pode ser detectada no estilo
argumentativo, na escolha das palavras e, até mesmo, nos exemplos utilizados (talvez inconscientemente) por
Darwin. Cito apenas dois dos paralelos apontados por Gould (2002, pp. 118-21): (i) Ambos se baseiam na
comparação e na extrapolação do artificial para o natural, defendendo, além disso, que o mecanismo que atua
na natureza (desígnio divino e seleção natural) é mais potente que o artificial (desígnio humano e seleção
artificial), e (ii) tanto Paley como Darwin se utilizam de exemplos semelhantes nas suas argumentações:
ambos analisam o olho e o comparam com o telescópio, para ficar somente em um exemplo (PALEY, 2006,
p. 16; DARWIN, 2006, p. 570). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[29] Dawkins (1998, especialmente o capítulo 3) propõe a parábola do monte Improvável para explicar esse
ponto. Imagine que no cume dessa elevadíssima montanha hipotética se encontrem seres e estruturas
biológicas complexas, como é o caso do olho. Além de alto, o monte é bastante íngreme, o que desencoraja
qualquer alpinista sensato. Todavia, caso se observe mais atentamente, ver-se-á um declive gradual por trás
da encosta íngreme citada anteriormente. Existem duas alternativas básicas caso se queira atingir o ápice do
monte Improvável: um salto único da base para o topo, que seria o equivalente de projetar e fabricar o olho
de maneira instantânea (Paley), ou por meio de uma escalada lenta, contínua e gradual, o que representaria o
processo evolutivo (Darwin). Este é, para Dawkins (1998, p. 219), o único meio plausível, e a “seleção
natural é a pressão que impulsiona a evolução rumo ao topo do monte Improvável.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[30] A ausência de uma explicação genética adequada para as variações foi a responsável por uma série de
questionamentos justificáveis ao arcabouço teórico proposto pelo naturalista inglês: “Em todos os seus
brilhantes devaneios, Darwin não chegou a descobrir o conceito básico sem o qual a teoria da evolução é
inútil: o conceito de gene. Darwin não tinha uma unidade adequada de hereditariedade, e a descrição que fez
do processo de seleção natural, portanto, estava infestada de dúvidas totalmente razoáveis quanto à sua
possibilidade de funcionar” (DENNETT, 1998, p. 20).
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[31] Como mencionado, de acordo com Darwin (2006, p. 574), a seleção natural atua preservando a vida dos
indivíduos mais aptos e destruindo aqueles que possuem traços desfavoráveis. Além disso, vale a pena
mencionar que a seleção natural não é capaz de produzir uma estrutura que seja exclusivamente benéfica ou
maléfica aos indivíduos de outra espécie. Caso se observe uma estrutura desse tipo na natureza, é porque ela
é vantajosa, antes de tudo, à espécie que a possui (DARWIN, 2006, pp. 580-1). Uma breve análise de
parasitas e animais polinizadores, por exemplo, é suficiente para atestar esse ponto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[32] Paley também defende que a estrutura biológica é útil ao organismo, porém essa utilidade é assegurada
pelas características da personalidade divina, tais como a inteligência, a benevolência e a onipotência – Deus
sabe como, quer e pode projetar um organismo que funcione bem – e assim Ele o fez repetidas vezes, como
testemunham as Suas “obras da natureza”. Dessa maneira, os organismos não apenas foram projetados pelo
Criador, mas, deve-se acrescentar, foram projetados a partir de “propósitos benéficos” (PALEY, 2006, p.
243; McGRATH, 2011, p. 96). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[33] Hume, ou melhor, Philo (ou Fílon), já havia lançado fortes críticas ao argumento do desígnio antes mesmo
de Paley ter elaborado a sua própria versão desse argumento (HUME, 2012, pp. 96-109). Alguns exemplos
são: (i) mesmo que o mundo tenha sido criado por um Ser sobrenatural, isso não é o suficiente para assegurar
que esse seja o Deus pessoal cristão que Paley tinha em mente; (ii) os argumentos de Paley são perfeitamente
compatíveis com a existência de vários Projetistas; e, por fim, (iii) a observação atenta de nosso mundo é o
bastante para mostrar que ele é defeituoso e imperfeito. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[34] Discordo, portanto, que “‘A Hipótese de que Deus Existe” é uma hipótese científica sobre o universo”
(DAWKINS, 2007, p. 24). A despeito de Dennett se alinhar em muitos pontos à posição de Dawkins, ele está
ciente de que ter sucesso em atacar um argumento para a existência de Deus não comprova Sua inexistência
(DENNETT, 2007, p. 139). E isso se aplica à perspectiva darwiniana: ela não prova a inexistência divina,
mas apenas nos mostra que “não temos nenhuma boa razão para pensar que Deus existe” (DENNETT, 2007,
p. 147). Nesse quesito, penso que a posição de Dennett é mais sensata. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">[35] Para Dawkins (2007), o correto entendimento da ciência, no geral, e da biologia evolutiva, em particular,
leva necessariamente ao ateísmo. Ele sustenta que antes da concepção darwinista o “ateísmo até poderia ser
logicamente sustentável, mas que só depois de Darwin é possível ser um ateu intelectualmente satisfeito”
(DAWKINS, 2005, p. 25). Poder-se-ia perguntar o seguinte para Dawkins: a insatisfação intelectual de
Darwin com uma visão ateia significa que ele não compreendeu corretamente a sua própria teoria? </span></div>
<div style="text-align: center;">
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="color: blue; font-size: x-small;">*As informações e ideias contidas neste artigo são de total responsabilidade do seu autor. </span></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-30666138529865846652015-06-15T08:49:00.001-07:002015-06-15T08:49:53.782-07:001º Semana Nacional de Filosofia (UFAL)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguTZ8YqKLGsXNUB-0LkGMwC36OR1praOQZSHZ3azavbJt0bDZ9_hLrFVTlOGFh-Kfq0Q-_8K-yzEt_-AFHT0QJBaKW08FxNBgTCa2GY_LPhKziGq0YwxoRRoJ-wUszGdhlEf8s4hXzpVaz/s1600/Semana_filosofia.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguTZ8YqKLGsXNUB-0LkGMwC36OR1praOQZSHZ3azavbJt0bDZ9_hLrFVTlOGFh-Kfq0Q-_8K-yzEt_-AFHT0QJBaKW08FxNBgTCa2GY_LPhKziGq0YwxoRRoJ-wUszGdhlEf8s4hXzpVaz/s400/Semana_filosofia.png" width="282" /></a></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px;">
O curso de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas promoverá a 1ª Semana de Filosofia da Ufal durante o Caiite 2015, que será realizado no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, em Jaraguá. O evento vai promover o debate filosófico-acadêmico em âmbito nacional e vai trazer para Maceió pesquisadores e alunos de outras instituições brasileiras.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
O evento é coordenado pelos professores Marcus José Souza, Flávia Benevenuto, Maxwell Lima Filho e Henrique Cahet. Na programação, haverá atividades à tarde e à noite, entre os dias 15 e 19 de junho. A conferência de encerramento será sobre Tecnologia, Capital e Ética, ministrada por Manfredo Araújo de Oliveira, da Universidade Federal do Ceará (UFC), às 19h. Confira em a programação completa no link abaixo.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-top: 6px;">
<a href="http://www.ichca.ufal.br/graduacao/filosofia/?p=1502" rel="nofollow" style="color: #3b5998; cursor: pointer; text-decoration: none;" target="_blank">http://www.ichca.ufal.br/graduacao/filosofia/?p=1502</a></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-76007607381696834212015-06-08T16:55:00.001-07:002015-07-23T19:32:15.533-07:00The Wall e uma reflexão acerca do mecanicismo escolar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdzhUVZiFLDJmMSyj7Ji-lXsHVpZp_HWCUgvQbRXYfrsj-kCdKTB5H1w_ruhMXEYSxL1MuG8pKlqpB9W5xGVcBhAxldRo0wPGhjZI9xwXurYtW3exJ46hXNsIBoBMXyr9lOGJdj1elynWA/s1600/artigovini.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdzhUVZiFLDJmMSyj7Ji-lXsHVpZp_HWCUgvQbRXYfrsj-kCdKTB5H1w_ruhMXEYSxL1MuG8pKlqpB9W5xGVcBhAxldRo0wPGhjZI9xwXurYtW3exJ46hXNsIBoBMXyr9lOGJdj1elynWA/s400/artigovini.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Autora: Felini de Souza</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-align: right;">
<b><span style="color: red; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"> </span></b><span style="background-color: white; line-height: 18.4799995422363px;"><span style="font-family: inherit;">Contato: felini_92@hotmail.com</span></span></div>
<div>
<span style="background-color: white; line-height: 18.4799995422363px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;">RESUMO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Falar
dos problemas da educação parece que já virou clichê. Fala-se sobre isso há
muitos anos, contando com a ideia de “Ensino Enciclopédico” de Nietzsche. Analisando
o filme <i>The Wall</i> e fazendo um
paralelo com os conceitos de Paulo Freire a respeito do ensino e aprendizagem,
consegue-se ter uma visão de que a educação é aplicada para um fim comum a
todos os alunos, fim este que na atualidade podemos entender como sendo a prestação
do concurso vestibular. A necessidade que a escola vê é apenas de levar o aluno
à memorização de conteúdos para responder as questões. Uma reflexão em torno
dessa sistemática da escola e da educação deve ser feita por aqueles que compõem
a escola, ou seja, todos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><b>Palavras-chave</b>: Educação. Ensino. Aprendizagem.
Vestibular. Reflexão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">O sistema educacional
brasileiro sempre entra em discussão, principalmente durante o período de
eleições. As promessas de mais escolas, escolas de qualidade e boa remuneração
ao professor sempre são citadas nesses períodos, porém durante décadas a
educação vem sendo debatida, como uma necessidade mal empregada na sociedade.
Autores como Paulo Freire e Nietzsche teorizaram sobre pontos até hoje muito
atuais e que dizem respeito às problemáticas da educação e da escola. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">E de quem é a culpa
pelos problemas da educação? Da escola? Dos professores? Dos alunos? Da
sociedade? Ou do governo? Essas perguntas não são facilmente respondidas, pois
existem vários pontos e amarras que entrelaçam essas relações existentes na
escola. A escola é reflexo da sociedade
que está ao seu redor e é um reflexo também do contexto familiar dos alunos.
Levando isso em conta, é preciso estabelecer uma ligação entre os conteúdos
passados em sala e a realidade vivenciada pelos estudantes. Formar o aluno não
é simplesmente treiná-lo para os concursos e vestibulares.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">O processo de ensino
não se dá simplesmente por transferência de conhecimento. Quando se associa a
realidade do aluno ao processo da educação escolar é possível construir muito
em cima do conteúdo passado pelo professor.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoQuote">
<span style="font-family: inherit;">[...] na experiência de minha formação, que deve ser
permanente, começo por aceitar que o formador é o sujeito em relação a quem me
considero o objeto, que ele é o sujeito que me forma e eu, o objeto por ele
formado, me considero como um paciente que recebe os conhecimentos – conteúdos
– acumulados pelo sujeito que sabe e que são a mim transferidos. Nesta forma de
compreender e de viver o processo formador, eu, objeto de meu ato formador. É
preciso que, pelo contrário desde os começos do processo, vá ficando cada vez
mais claro que embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao
formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que
ensinar não é transferir conhecimentos [...]. (FREIRE, 1996,p. 22-23.)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">É necessário levar em
consideração os conhecimentos culturais vividos pelos alunos. Por meio desse
conhecimento é possível construir um entendimento melhor a respeito do que é
passado em sala de aula. Não existe professor sem os alunos, assim como não
existe o “ensinar” sem o “aprender”. Portanto,
o professor deve ter uma postura democrática, visando reforçar a capacidade
crítica do educando e sua curiosidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">No filme <i>The Wall </i>(1982) do diretor Alan Parkner,
temos a demonstração do que é uma cultura educacional conservadora e
tecnicista, em que é preciso apenas repetir os ensinamentos do professor a
ponto de decorá-los. Não há criação, apenas repetição. O personagem principal
do filme, chamado Pink, durante a infância, cria um poema que é lido de forma
pejorativa pelo professor. Uma demonstração de uma atividade docente que nega
as origens, ideias e criações de seus alunos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Em <i>The Wall, </i>o professor de Pink não instiga os alunos a buscarem o
conhecimento, não os torna inquietos a ponto de que haja uma procura por parte
deles, somente se vê a repetição, a criação de padrões de mentes. Suas
potencialidades são deixadas de lado, dando vez apenas às “frases” decoradas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoQuote">
<span style="font-family: inherit;">Daí a impossibilidade de ver a tornar-se um professor crítico
se, mecanicamente memorizador, é muito mais um repetidor cadenciado de frases e
de ideias inertes do que um desafiador. (FREIRE, 1996, p.27).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">O professor que utiliza
como um meio apenas a memorização do aluno quanto aos conteúdos, não consegue
dar a liberdade de criação e de assimilação do mundo em que o aluno vive. Um
dos deveres da prática educativa é o desenvolvimento da curiosidade
insatisfeita e crítica do aluno. E é por meio da curiosidade que atingimos a
criatividade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">A criatividade e a
autonomia do aluno devem ser respeitadas, assim como sua identidade, e na
prática educativa é preciso ser coerente com esses deveres. Em <i>The Wall, </i>os alunos são representados em
uma das cenas com máscaras iguais, demonstrando assim que suas potencialidades
e identidades não são respeitadas. E a escola, no filme, tem ainda o caráter de
formá-los para serem “mais um tijolo do muro”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Quando falamos em “mais
um tijolo no muro”, isso nos remete a uma formação mecânica que visa um único
fim a todos os alunos. Na prática, atualmente, podemos observar que o fim comum
das escolas tem sido a boa pontuação no vestibular que leva à aprovação dos
alunos nas universidades. As publicidades apelativas que mostram números de
aprovados chamam a atenção dos pais e dos alunos que sonham estar nos melhores
cursos das universidades. Esse tipo de aprendizado mecânico é condenado pelo
filósofo alemão Friendrich Nietzsche. Nietzsche em <i>Schopenhauer como Educador</i> tratado “ensino enciclopédico” mais
ligado a área da Filosofia. Segundo Nietzsche a Filosofia estava sendo ensinada
distante da realidade dos jovens estudantes e o resultado era que os jovens
decoravam os sistemas e suas refutações antes da prova de avaliação e esqueciam-se
de tudo logo após a avaliação. Nietzsche, portanto, desconsidera o sistema
educacional de sua época, que tem como intenção formar “homens teóricos”, que
separam o pensamento da vida. O professor Nietzsche, não incitava em seus
alunos o simples acúmulo de conteúdos, ao invés disso, propunha um
desenvolvimento do senso crítico e da atividade criadora de cada indivíduo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Nenhuma matéria escolar
deve ser ensinada de forma mecânica, forçando o aluno a decorar fórmulas e
conceitos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoQuote">
<span style="font-family: inherit;">O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura
deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e
não apassivada enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e
alunos se assumam epistemologicamente curiosos. (FREIRE, 1996, p.86).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">A curiosidade
ultrapassa os limites do aprendizado mecânico. Curiosidade é uma característica
vital que proporciona descobertas. Por meio das perguntas e indagações os
alunos vão construindo ou reconstruindo suas opiniões. Esse é o papel principal
das aulas de Filosofia, pois elas precisam ser questionadoras para que desse
modo o aluno encontre meios e soluções para os problemas filosóficos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">No entanto, temos que
lembrar que a culpa pelos problemas da educação não se devem somente ao modo de
ensinar do professor. No filme <i>The Wall, </i>o
professor “desconta” em seus alunos a opressão que ele sofre de sua esposa. A
esposa do professor, no filme, é uma representação do sistema que leva o
professor a ter que cumprir ordens, como a de limitar a liberdade de criação do
seu aluno levando ele a decorar fórmulas e conceitos. Sem contar a falta de
estrutura para a educação que algumas escolas sofrem e a falta de incentivos
aos professores no desempenho das suas funções como educadores, algo que também
é representado pela figura da esposa do professor de Pink.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">A função comum atual da
escola é o vestibular, visando também o mercado de trabalho, bons salários e
boas vagas de emprego; no entanto, tendo a utilidade da escola com esses fins é
possível notar como as capacidades individuais dos alunos são deixadas em
segundo plano. Todos são colocados da mesma forma aos mesmos conteúdos,
deixando de levar em consideração dificuldades ou facilidades pessoais perante
algumas temáticas ensinadas na escola. Esse tipo de postura da escola, que tem
como “produto final” o indivíduo que será útil ao mercado de trabalho é
criticado por Nietzsche, a sabedoria que tem como função a produção sem a
reflexão é uma sabedoria vaga.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">[...] Mas essa sabedoria está
podre e cada fruta tem seu verme. Acreditem em mim; quando quisermos que os
homens trabalhem e se tornem úteis na oficina da ciência, antes de terem
atingido a maturidade, arruinamos a ciência no mais breve prazo, assim como
arruinamos os escravos empregados muito cedo nessa oficina. Lamento que sejamos
obrigados a nos servirmos da gíria dos proprietários de escravos e dos
empregadores para descrever condições de vida que deveriam ser imaginadas
depuradas de todo utilitarismo e ao abrigo das necessidades da existência. Mas
involuntariamente expressões como “oficina”, “mercado de trabalho”, “oferta e
demanda”, “exploração” [...] saem da boca quando queremos descrever a mais jovem
geração de sábios. A honesta mediocridade se torna sempre mais medíocre; a
ciência, do ponto de vista econômico, sempre mais utilitária. (NIETZSCHE, p. 86
- 87)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Os cursinhos
pré-vestibular que focalizam em um ensino rápido de um acúmulo de conteúdos que
deveriam ter sido dados desde o ensino básico, propondo formas de decorar que
são por vezes vazias, para apenas garantir que o aluno, ainda sem muito
conhecimento prático de vida e sem assimilar o conteúdo com situações
cotidianas, passe no vestibular e produza na mesma rapidez em que seu
conhecimento foi produzido.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Precisamos tratar dos
problemas da educação, sabendo que ela mesma é a solução para vários problemas
da sociedade. A educação precisa ainda ser muito pensada para que as pessoas
que a compõe e fazem parte dela cobrem soluções e também sejam elas mesmas as
soluções para tais problemas, tendo em vista a Filosofia como uma portadora da
visão crítica em cima dessas problemáticas e valorizando essa matéria como
todas as outras que fazem parte do currículo da educação escolar. A reflexão
sobre a educação já é o primeiro passo para uma mudança. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<b><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">REFERÊNCIAS<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">DIAS,
Rosa Maria. <b>Nietzsche educador. </b>São
Paulo: Editora Scipione, 1993.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">FREIRE,
Paulo. <b>Pedagogia da autonomia. </b>30. ed.
Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1996.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">GALLO,
Silvio. Chegou a hora da filosofia<b>. </b>In:
<b>Revista Educação</b>, set/2011.
Disponível em: <http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/116/artigo234074-1.asp>.
Acesso em: 17 out. 2013.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">The
Wall (O muro). Direção de Allan Parke. Música de Pink Floyd. EUA, 1982.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">NIETZSCHE,
Friedrich W. <b>Segunda Consideração
Intepestiva.</b> Da Utilidade e do Inconveniente da História Para a Vida.<b> </b>Trad. Antônio Carlos Braga e Ciro
Mioranza. São Paulo: Editora Escala. 2008.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<br />
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br clear="all" />
</span><br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">Sobre a autora:</span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"> Mestranda na área da Ética e
Filosofia Política da PPGFil-UFSC. Licenciada em Filosofia pela Universidade
Federal de Santa Catarina – UFSC. E-mail: <a href="mailto:felini_92@hotmail.com">felini_92@hotmail.com</a>.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">*As informações e ideias contidas neste artigo são de total responsabilidade do seu autor(a).</span></div>
</div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-36673183137108789712015-05-19T22:43:00.000-07:002015-05-19T22:43:45.327-07:00FILOSOFIA DEBATE: METAFÍSICA.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1jUQ3X43GowuPFJMYnW6JOl6PnzYZDgLOIY106kCPdtwrXk3xUwXEmZr7L3LfiyB8CTFI0SGPMdK10AjdSvMg8B5anHsEs1WKzK1JEaXiG4hxUG596PXyhbv4vJD5SXiv4dCFUefqfQF-/s1600/Deusestamorto1.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1jUQ3X43GowuPFJMYnW6JOl6PnzYZDgLOIY106kCPdtwrXk3xUwXEmZr7L3LfiyB8CTFI0SGPMdK10AjdSvMg8B5anHsEs1WKzK1JEaXiG4hxUG596PXyhbv4vJD5SXiv4dCFUefqfQF-/s320/Deusestamorto1.png" width="226" /></a></div>
<br />
<span style="font-family: inherit;">O centro acadêmico de filosofia, nos usos de suas atribuições, promoverá na próxima Quarta Feira (27), um mega debate acerca da existência de Deus.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Na oportunidade, convidamos a todos da comunidade acadêmica e demais interessados para se fazerem presentes, o debate será aberto a todos e a inscrição será feita na hora.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Sobre os debatedores:</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">DRº RICARDO RABENSCHLAG: </span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Bacharel em filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mestre em filosofia da linguagem/filosofia da lógica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Doutor em Filosofia da matemática/filosofia da lógica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com período sanduíche em University Of Virginia. </span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">MSº JOSÉ URBANO: </span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Bacharel em filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco, Mestre em filosofia medieval com especialidade em Tomás de Aquino pela Universidade Federal de Pernambuco.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">MSº MAXWELL MORAIS:</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Bacharel em ciências biológicas pela Universidade Federal do Ceará, Mestre em filosofia da biologia/filosofia da mente pela Universidade Federal do Ceará e Doutorando em filosofia da mente pela Universidade Federal do Ceará.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">_________________________</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">LOCAL: Auditório do ICHCA - Universidade Federal de Alagoas, campus A.C Simões. (Bloco de História).</span><br />
<span style="font-family: inherit;">DATA: 27/05/2015</span><br />
<span style="font-family: inherit;">HORÁRIO: 19:00</span><br />
<span style="font-family: inherit;">__________________________</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Ps: Passado o tempo de fala dos três debatedores, serão abertas as rodadas de perguntas:</span><br />
<span style="font-family: inherit;">* As perguntas serão feitas em blocos, sendo permitido no máximo 5 perguntas por vez.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">* Serão realizados 4 rodadas (blocos) de perguntas.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">* As perguntas terão um tempo limite de 2min e 30s para serem concluídas. </span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">NÃO PERCAM!</span><br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-82560878785483479702015-05-15T22:08:00.000-07:002015-05-15T22:11:23.222-07:00Uma tradução livre do alemão de uma carta de Sigmund Freud endereçada a Wilhelm Fließ: ou as questões sobre as bruxas e os neuróticos<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5XJuDekR2mv-u_FQrrQOZRhxZ63wIBO7UQ50xKyG3Scli2dtOdzX6naGL-90SxS8w91KluBKeisVi31RwQ08JrQdo1v2vO__2Vm4nNYzNdIkxkFjJ2C_0QsDMN48WeTnU5zEgnAS2hoaO/s1600/wihelm+fliess.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5XJuDekR2mv-u_FQrrQOZRhxZ63wIBO7UQ50xKyG3Scli2dtOdzX6naGL-90SxS8w91KluBKeisVi31RwQ08JrQdo1v2vO__2Vm4nNYzNdIkxkFjJ2C_0QsDMN48WeTnU5zEgnAS2hoaO/s320/wihelm+fliess.jpg" width="315" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><b>Autor: </b><span style="line-height: 150%;">Yvisson
Gomes dos Santos</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 24px;"><b>Contato</b>: </span><span style="text-align: justify;">yvissongomes@hotmail.com.</span><span style="line-height: 24px;"> </span></span></div>
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><span style="font-family: inherit;"><br clear="all" /></span>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<br />
<div id="ftn1">
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><b>RESUMO</b>: a presente carta de Freud destinada a
seu amigo Fließ é considerada uma escritura capital do pai da psicanálise em
relacionar os sintomas neuróticos com as crendices populares na busca de se
compreender as relações do sinto(mal) com a cultura do sujeito moderno. Vale
salientar que a tradução da presente Carta de Freud foi-me possível devido as
aulas de Alemão Instrumental I e II que cursei no curso de filosofia da UFAL,
tendo como professora destas duas disciplinas eletivas Irene Maria Dietschi
(FALE/UFAL).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><b>PALAVRAS-CHAVE</b>: Carta, Freud, Cultura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Para
Freud não era interessante e nem adequado limitar o estudo das histerias ou de
outras neuroses pelo viés organicista. A ideia do vienense foi de despertar em
seu leitor as relações do mito, da literatura, do folclore, da sociologia, da filosofia,
dentre outros, com as investigações psicanalíticas que pudessem apresentar-se,
nem que sejam metaforicamente, com o sintoma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Os
sintomas neurótico, psicótico e perverso tinham caminhos distintos na
constituição do sujeito. Ser neurótico era aceitar a barreia da castração, já
ao psicótico seria a forclusão e ao perverso, burlar, ludibriar e denegar a
metáfora paterna. Esses vieses distintos devem ser considerados na arquitetura
freudiana como elementos axiais ao que se convencionou chamar de epistemologia
psicanalítica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Os
primeiros escritos de Freud foram organizados principalmente, aqui no Brasil, pela
Editora Imago. Optamos por traduzir <i>Briefe
an Wilhelm Fließ</i> diretamente do alemão para nossa língua vernácula. Além da
tradução da Imago (português), temos da Amorrortu Editores (espanhol). Boas traduções,
mas que, ao nosso entender, necessita-se de uma maior ênfase à simplicidade e,
ao mesmo tempo, à cumplicidade de Freud com seu discípulo e amigo testamentada
em escritura. Advertimos que não há pretensões outras nesse empreendimento, mas
apenas a necessidade de um novo olhar sobre o referido documento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Considera-se
que toda tradução implica um comprometimento do tradutor, ora ele pode fazer-se
traidor do texto, ora ele pode dar uma leitura hermenêutica através sua
formação cultural e estilística. Essa última opção me dispus a fazer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Escolhemos,
na presente tradução, pelo estilo informal do texto de Freud (já que se tratava
de uma carta ao seu amigo pessoal) pelos meus vieses estilísticos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Sabemos
que a palavra estilo do latim <i>stilum</i>
que pode se desdobrar metonimicamente na palavra estilete; e é nesse sentido
que o estilo corta, perfura, risca certo tecido de palavras e discursos que
perfazem uma colcha de retalhos linguísticos (o estilo é de Freud, e tentamos a
contento fazer permanecer e aclarar o estilo do pai da psicanálise). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">É
de nota que o presente texto de Freud algumas vezes se apresenta em forma de
rabiscos, seguido por reticências, mas que forma um apanhado das inquietações
de Freud à época oitocentista. Preferimos deixar a carta tal como ela se
apresentava, a saber, de uma forma coloquial e sem figuras de linguagens
inapropriadas, ou seja, um escrito que saboreia o estilo freudiano de escrever
em suas incursões sobre os sintomas e patologias inerentes ao século XIX
(aprioristicamente).<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"><br /></span></b>
<b><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">TRADUÇÃO DO ALEMÃO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">A Carta [...]<a href="file:///D:/Documentos/Download/Tradu%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o%20-%20Freud.docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="font-size: x-small; line-height: 107%;">[1]</span></b></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> [...] A ideia de trazer as bruxas na história
ganha vida. E por outra parte a considero bem sucedida. Os detalhes começam a
se proliferarem. O “voar” está esclarecido, a vassoura sobre a qual elas
cavalgam é provavelmente o grande Senhor Pênis. Nos encontros das reuniões
secretas, com dança e divertimentos, pode-se observar isto todos os dias nas
ruas onde crianças brincam. Certo dia li que o ouro que o diabo oferta as suas
vítimas geralmente se transformam em fezes; num certo dia, o Senhor E, me disse
de maneira repentina sobre os delírios de dinheiro de sua [antiga] babá (e por
um desvio Cagliostro-orifício-merda) que o dinheiro de Louise era sempre fezes.
Destarte, nas histórias de bruxas o dinheiro volta a transforma-se na
substância na qual ele foi gerado. Ah, se soubesse porque o esperma do diabo
sempre é qualificado como “frio” nas confissões das bruxas! Encomendei o <i>Martelo das Feiticeiras</i> <i>(Malleus maleficarum</i>), e agora que dei o
último curso sobre as paralisias das crianças, estudá-lo-ei com afinco. A
história do diabo, o léxico popular dos palavreados de insultos nas canções
infantis sobre o malfazejo, tudo isto tem me interessado em particular. Você
poderia me indicar sem esforço, através de sua admirável memória, alguma boa
bibliografia sobre o referido assunto? Sobre as danças e as confissões das
bruxas, recordo-lhe sobre as epidemias das danças das feiticeiras na Idade Média.
A Louise do Senhor E. era uma dessas bruxas que dançavam, e ele costumeiramente
se recorda dela quando assiste a um balé, seguindo-lhe de angústia ao ver uma
peça de teatro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">O
voar, o flutuar, correspondem aos expedientes acrobáticos nos ataques
histéricos dos meninos etc.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Se
me permite uma opinião: nas perversões, cujo negativo é a histeria, podemos
pensar que houve em certo momento uma relação de um culto sexual que
possivelmente se tornou religião no oriente semítico (Moloch, Astarte). [...]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">As
ações perversas são, além disso, sempre as mesmas, e providas de sentido e
construídas segundo algum paradigma que será preciso apreender.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Desta
feita, imagino uma religião do diabo, na antiguidade primordial, cujos ritos se
estenderam em segredo, e assim eu concebo severo tratamento dos juízes às
bruxas. E as investigações se proliferam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Outro
tópico da corrente principal que defendo deriva-se da seguinte consideração:
existe uma classe de pessoas que nos dias atuais narram histórias análogas de
bruxas, também os pacientes contam tais histórias, mas não encontram respaldo nos
outros que não creem nas mesmas, mas, mesmo assim, a crença sobre tal tema
permanece inabalável. Me refiro, como você deve ter imaginado, ao paranoico, que
em suas queixas delirantes relacionam comida com merda, e dizem que foram maltratados
a noite de maneira desprezível e sexual, no qual tudo isto faz parte de seu
conteúdo mnemônico, etc. Você sabe que tenho distinguido o delírio de
recordação do delírio de interpretação. Este último está vinculado ao recurso
impreciso em relação aos criminosos, que por sinal estão abrigados pela defesa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Ainda
um detalhe: na histeria, tem-se o pai com uma elevada demanda de amor pelos
seus filhos, ocorrendo, algumas vezes de forma contrária, um sentimento de humilhação
perante o amado (pai), ocasionado uma impotência por não poder se casar devido
a um ideal insatisfeito. Explico: a grandiosidade do pai inclina-se de forma
condescendente a criança, algumas vezes retraindo-a. Compare esta combinação:
paranoia, delírios de grandeza e a dúvida fantasiosa com relação se a criança é
verdadeiramente filha de seu pai. É o reverso da medalha.<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Tudo
isto, ainda assim, torna-se incerto a sustentar tal conjectura, ou seja, que a
escolha da neurose estaria condicionada pelo seu tempo de origem (gênese), mas
ao invés disso parece ter se fixado na primeira infância. Mas essa definição é
sempre oscilante entre o momento do nascimento e o tempo da repressão (sendo este
último, o meu preferencial).<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">***<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Considerações Finais<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">A
escritura freudiana nesta carta estava em gérmen. Não à toa que ela faz parte também
dos escritos pré-psicanalíticos do autor.<i><o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">O
que versa a <i>Carta </i>é a relação que
Freud inquire sobre o imaginário popular das bruxas e dos neuróticos. As
danças, a vassoura onde as feiticeiras voavam, os sortilégios e divertimentos
têm, segundo o psicanalista, relação com as brincadeiras infantis. Os elementos
físicos que as bruxas ofereciam aos incautos, como o ouro, poderiam ser ligados
metonimicamente as fezes, e assim por diante. Freud nesta Carta demonstra o
interesse sobre o estudo das feiticeiras, e pede a seu discípulo e amigo material
bibliográfico para estudar mais detalhadamente tal assunto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">É
de nota que tal Carta parte de uma inquietação de Freud sobre este universo
folclórico nascido do medievo, e que nos dá pistas, mesmo que neófitas, de que
os sintomas neuróticos e paranoicos têm correspondentes com a <i>imago</i> paterna.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Essa
<i>Carta</i>, em síntese, deve ser vista
como uma das tentativas de Freud para se fazer entender o que viria a ser
futuramente a repressão ligada com as fixações pré-genitais no desenvolvimento
psicossexual do sujeito: parte essencial da construção sinto[mal] do neurótico.<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"> Sobre o autor: É psicólogo (CRP15/1795) e licenciado em filosofia pela UFAL. Especialista em Linguística pela UNICID/AAL. Atualmente é mestrando em Educação pela UFAL. </span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">Referência<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><b><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">FREUD</span></b><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">, S. <b>Briefe an
Wilhelm</b></span><b><span lang="EN-US"> </span></b><b><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">Fließ</span></b><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">. 1887-1904. Hg. Von J.M. Masson. Frankfurt am Main:
Fischer, 1986<b>.<o:p></o:p></b></span></span></div>
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span>
</span><br />
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br clear="all" />
</span><br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Tradu%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o%20-%20Freud.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 107%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a> <span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-ansi-language: EN-US;">FREUD, S. <b>Briefe an Wilhelm Fließ</b>. 1887-1904. Hg.
Von J.M. Masson. Frankfurt am Main: Fischer, 1986. S. 194-</span></span><span style="font-size: x-small;">195.</span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="color: #666666; font-family: inherit;">*As ideias e informações contidas neste artigo são de total responsabilidade do seu autor.</span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: right;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-86869141341200022302015-05-02T19:46:00.000-07:002015-05-02T19:46:57.613-07:00Abelardo e Heloisa contemporâneos <div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm4r5T5KPmZkohoCnDK0u91sXRWHN_w4ob01i7Ewn6JZwhehojrj5kZCIzK6DjNc3dGM-tcR0-icXyu65cuauW-uJ4pYsWYIUW-ppEuPHGnbnuGP0aqyy_hb7W56PqEGtGfwSwOPoyvRFH/s1600/iluminismo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm4r5T5KPmZkohoCnDK0u91sXRWHN_w4ob01i7Ewn6JZwhehojrj5kZCIzK6DjNc3dGM-tcR0-icXyu65cuauW-uJ4pYsWYIUW-ppEuPHGnbnuGP0aqyy_hb7W56PqEGtGfwSwOPoyvRFH/s1600/iluminismo.jpg" height="209" width="320" /></a></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;">Autora: Felini
de Souza</span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;">Contato: felini_92@hotmail.com</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;">(Para um amor filosófico)</span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Caraclito!!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Queria que você
Voltaire<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">mas você quer um
Arendt.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Eu espero que
estejas de Bacon a vida<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">e que não me
Descartes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Eu não estou
Locke<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">mas prefiro
escrever esse poema do que fazer Mill coisas,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">tipo, me
Maquiavel, passar um Hume, me encher de Adorno,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">sair pra tomar
um Schopenhauer.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Embora que eu
Kant por ai que estou Bentham,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">continuo
esperando que Benjamin.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Marx creio que
queiras é me mandar tomar no Kuhn.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="color: #666666; font-family: inherit; font-size: x-small;">*As ideias e informações contidas neste artigo são de total responsabilidade de seu autor(a).</span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-1969432199731791702015-04-14T21:43:00.002-07:002015-05-04T07:00:58.846-07:00O que é a verdade e como podemos apreendê-la?<div style="background: white; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.8pt; mso-line-height-alt: 14.4pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5QL0tcxfGn47P5dWrOWxLLd1aEBnzvFG77FuAi6ctWFj9MxbfzHGhnSrZJdGiO4KOqPcmVJ7-M1kb5h4ADUUDFwFdtE5h1tKsWsFoFBNQbzRWtPjIBUcrhUQNLUwk7odVz3QVD53TTKxv/s1600/pensamento.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="228" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5QL0tcxfGn47P5dWrOWxLLd1aEBnzvFG77FuAi6ctWFj9MxbfzHGhnSrZJdGiO4KOqPcmVJ7-M1kb5h4ADUUDFwFdtE5h1tKsWsFoFBNQbzRWtPjIBUcrhUQNLUwk7odVz3QVD53TTKxv/s1600/pensamento.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div style="background: white; line-height: 14.4pt; margin: 4.8pt 0cm 6pt; text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"> Autor: Islânio Bezerra Nunes Santiago<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 14.4pt; margin: 4.8pt 0cm 6pt; text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;">Contato: islaniosantiago.filo@gmail.com</span></div>
<div style="background: white; line-height: 14.4pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.8pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 14.4pt; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.8pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Muitos ao longo da
vida, em algum momento já pararam para se perguntar acerca deste problema
epistemológico. A verdade ao longo de séculos tem sido alvo dos estudos
filosóficos, porém, apesar do tempo o problema ainda permanece em aberto, não
existindo um consenso acerca da questão. Mas e se existisse um consenso, seria
ele o responsável por determinar o que é verdade? Estaria mesmo a verdade
relacionada à opinião da maioria? Se sim, quais os critérios que levou essa
maioria a formular determinada opinião? Se não, ao que está relacionado o
conceito de verdade? Seria ela relativa e pessoal? Ou seria ela absoluta e
universalizada? Ou ainda, será mesmo que existe verdade? E se existir, quais os
processos necessários para que possamos apreendê-la? Para começarmos a
responder tais questões, devemos primeiro entender o que é o conhecimento.
Conhecimento, do grego, episteme, é o conjunto de ideias que temos a respeito
de algo. Porém, não é uma simples ideia sobre algo que a estabelece como
conhecimento, o que qualifica a ideia como conhecimento é a correspondência
dela em relação à coisa da qual se tem ideia. Por exemplo, ao afirmar que
conheço o endereço de fulano, este endereço que eu afirmo conhecer deve
corresponder ao endereço em questão, ou seja, quando a ideia que está dentro de
mim corresponde à realidade fora de mim, pode-se dizer que de fato conheço
algo. E se ocorrer o inverso, se eu afirmar que o endereço de fulano é tal, de
modo que esse endereço não corresponda ao lugar onde o fulano mora, pode-se
afirmar que não conheço o endereço que afirmo conhecer. Definido o conceito do
que é o conhecimento, vamos agora investigar como ocorre esse processo, o que é
a verdade e como este processo pode-nos ajudar a apreendê-la. O objetivo deste
artigo é tentar estabelecer um dialogo entre os vários conceitos de verdades e
tentar trazer uma resposta as questões estabelecidas. <br />
<br />
Para ilustrar a fim de esclarecer
melhor os pontos chaves deste artigo, vamos imaginar uma situação onde
determinado sujeito foi vitima de um assalto. Após acionar a policia que
posteriormente prendeu alguns suspeitos, a vitima foi levada à delegacia para
fazer o reconhecimento do autor do delito. Porém, após olhar atentamente para
os vários rostos expostos, não soube afirmar com certeza quem daqueles teria
lhe roubado. </span><span style="background-color: transparent; font-family: inherit; line-height: 115%;">Diante da dúvida da
vitima surge um problema: O assaltante estava entre os suspeitos apreendidos?
Supondo que dentre os presos apresentados a vitima estivesse o verdadeiro
criminoso, como afirmar ser isso verdadeiro, haja vista não existir nenhuma
prova que ateste este fato? E por não ter como provar tal situação, deixará ela
de ser verdadeira?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"> Para Descartes, a verdade se estabelece pelo
critério da certeza. Para ele só podemos admitir como verdadeiro aquilo que é
evidente, ou seja, aquilo que for apreendido com clareza e precisão. Esta
conclusão de Descartes parece colocar mais lenha na fogueira, pois uma vez que
só podemos admitir como verdade aquilo que temos certeza, significa que o valor
de verdade é particular de cada ser, haja vista que a certeza é algo subjetivo,
relativa ao individuo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"> Nos dois casos, tanto na ilustração, tanto em
Descartes, a verdade parece ser relativa, particular as certezas adquiridas
pelo individuo. Porém, a certeza é uma convicção adquirida após a verificação
de algo, e neste sentido, sendo a certeza algo particular ao indivíduo, possa
ser que não haja uma relação estrita com a realidade fora dele, isto porque ela
é adquirida através dos sentidos, que são enganosos, ou através da critica
racional via verificação da realidade e por esse viés, pode ocorrer de que os
critérios utilizados para verificar o real sejam insuficientes ou inutilizáveis.
Desse modo, não necessariamente a certeza nos dá a verdade, logo a certeza não
é nem verdade nem tampouco conhecimento, é apenas uma convicção apreendida da
realidade ou não, que pode ser verdadeira, mas não o é de modo necessário.
Obviamente que o conhecimento nos dá certeza, porém a certeza não é
conhecimento. Logo, a resposta para a pergunta: Seria a verdade relativa e
pessoal? É não. Isto porque, como já comentado acima, a convicção pessoal é
apenas uma convicção, podendo ou não ser verdadeira, e por mais que o sujeito
tenha a convicção que esta seja verdade, esta não se tornará verdade
simplesmente por causa da convicção do individuo. Não é a convicção que eu
tenho de que a terra é quadrada que fará com que a terra seja quadrada, a terra
será quadrada ou não independente do que eu pense a respeito. Nesse caso, a
minha convicção será verdadeira só e somente só, se for correspondente à
realidade dos fatos, caso contrário eu estarei enganado. E se a minha convicção
for correspondente, porém não haja como prová-la, ainda assim ela será
verdadeira, pois a verdade não depende das provas para existir. Se um tribunal,
por exemplo, deixou de condenar um sujeito por falta de provas, isso não fará
do sujeito inocente. Ele será culpado ou deixará de ser só e somente só, se
tiver cometido o ato criminoso, independente de ter como provar ou não.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 115%;"> Acreditar que a verdade seja algo
relativo e pessoal é assumir o risco de cair na contradição estabelecida pelo
próprio enunciado. Isto porque a afirmação "A verdade é relativa e pessoal", já
em si se configura como uma proposição universal e absoluta, além de que, sendo
a verdade relativa, a mentira tornar-se-ia inexistente, haja vista que todas as
opiniões deveriam necessariamente ser aceitas como verdadeiras, ainda que fossem
opostas entre si no mesmo contexto. O mesmo ocorre se acreditássemos que a
verdade não existe, pois de um modo ou de outro conceberíamos essa afirmação
como sendo verdadeira. Logo, dizer que a verdade não existe é um equivoco, pois
se essa afirmação for falsa, implica dizer que a verdade existe, e se essa
afirmação for verdadeira, também implica dizer que a verdade existe, de modo
que essa afirmação é logicamente insustentável, pois se autocontradiz. Neste
sentido, o enunciado que afirma ser a verdade algo universal e absoluto parece
ganhar mais força, visto a coerência lógica emitida em sua proposição, neste
caso, tanto a afirmação que diz ser a verdade algo relativo e pessoal, quanto a
afirmação que diz ser a verdade algo absoluto e universal, e mesmo a afirmação
que diz que a verdade não existe, parecem neste aspecto terem o mesmo valor
(peso) lógico. Isto porque há um valor absoluto e universal contido tanto na
afirmação que diz que a verdade é subjetiva, na afirmação que diz que a verdade
é objetiva, como também na afirmação que diz que a verdade não existe. Desse
modo, a resposta para a pergunta: é a verdade universal e absoluta? É sim.
Porém, existem casos onde a verdade pode ser relativa, uma dessas
situações é a verdade relativa ao tempo histórico. Historicamente já foi
verdade que não existiam carros, computadores, celulares e aviões, hoje, porém, é
verdade que tudo isso existe, isso implica dizer que aquilo que era verdade já não é mais, isto é, que a verdade mudou. No entanto, não podemos a partir disso </span></span><span style="line-height: 18.3999996185303px;">elucubrar</span><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 115%;"> teorias para defendermos a relatividade barata pregada pelos sofistas, pois a verdade mesmo sendo </span></span><span style="line-height: 18.3999996185303px;">mutável</span><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 115%;"> ainda assim obedece aos termos lógicos e por isso não admite contradições, </span></span><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 115%;"> ela ou é ou não é, podendo já ter sido ou podendo vir a ser e em todas essas possibilidades o absoluto encontra-se presente. Quando não existiam tecnologias, era uma verdade absoluta que tecnologias não existiam, agora que existem tecnologias, é verdade absoluta que tecnologias existem, é certo que a verdade mudou, mas, é certo também, que essa mudança é absolutamente verdadeira. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">
<br /> A essa altura poderíamos nos
questionar: Ora, tudo bem que a verdade existe e é absoluta, mas finalmente, o
que é verdade? Gostaria de começar
respondendo essa pergunta dizendo o que não é a verdade. A verdade não é um
objeto. O objeto apenas é um portador de verdade. Uma folha, por exemplo, não é
a verdade, é apenas uma folha. E o conceito de folha não está na folha, está no
homem que a conceitua, isto porque todo
conceito existente inclusive o conceito de verdade é estabelecido na linguagem.
Dizendo assim, podemos afirmar então que a verdade é um conceito estabelecido
pelo homem. De fato isso é verdadeiro, porém, não podemos esquecer que os
conceitos necessariamente correspondem a um referencial, material ou não, logo,
o conceito que o homem estabelece serve apenas para fazê-lo referisse a
determinada coisa. Ou seja, não é porque o homem criou o conceito de verdade
que significa que o homem criou a verdade, significa apenas que o homem criou
um conceito para se referir aquilo que chamamos de verdade. E verdade nesse
sentido será a correspondência entre a ideia em relação à coisa da qual temos ideia. Neste caso, verdade aqui parece confundir-se com o conhecimento,
porém, o conhecimento só é conhecimento se for verdadeiro. No limite, verdade e
conhecimento são intrinsecamente associados.<br />
<br />
Ao conceituar o que é a verdade,
sobrará espaço ainda para um ultimo questionamento, alguém poderá dizer: Mas
ora, este conceito parece ser um consenso aceito por uma grande parte da escola
filosófica, sendo assim, não seria a verdade algo estabelecido pela maioria
como sendo verdadeiro? Ou seja, verdade não é aquilo que o consenso afirma ser?
Olhando por esse viés, a pergunta até parece possuir uma relevância, porém, o
individuo que fizer esta pergunta, deverá se perguntar também: Se for assim,
quais os critérios que levou a maioria a formular tal opinião? Ao perguntar
isso, voltaremos ao conceito acima descrito do que é conhecimento e do que é
verdade, o conceito que afirma se verdadeiro somente aquilo que for
correspondente, logo, se o que o consenso afirmar ser verdade não corresponder
à realidade em questão, a afirmação do consenso será falsa. E mesmo que esse
consenso seja formado por pessoas poderosas, influentes, que tenham o poder de
mandar e desmandar, fazer e desfazer, ainda assim, se o que eles afirmarem ser
verdade não corresponder ao real, a afirmação será falsa, pois não há poder no
mundo que mude as formas da lógica, não há bomba atômica no mundo capaz de
fazer que uma unidade somada a outra unidade seja igual a mil, como também não
existe poder linguístico capaz de transformar uma neve branca em azul, de modo que não existe nenhuma relação de poder que seja capaz de mudar a
verdade. A verdade é o que é independente do que achemos a respeito. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="color: #666666; font-family: inherit; font-size: x-small;">*As ideias e informações contidas neste artigo são de total responsabilidade do seu autor. </span></span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-14567513327991291142015-04-07T21:16:00.000-07:002015-05-07T06:27:46.585-07:00Campanha de Arrecadação de Livros para a Sala de Leitura do Curso de Filosofia/UFAL<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-line-height-alt: 15.6pt; mso-outline-level: 2; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-line-height-alt: 15.6pt; mso-outline-level: 2; vertical-align: baseline;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6m3XECFRbhiErCOOqXEDFUcDDybDsPmaRfi3bPvY66JmhE77PEeyB9PF3o5fclbd6N-kXpZcU27Bi80fU6zpNrkhcGMMychRYb0w-MIb1vwvq93vc-XUruGltVMRTkQxnLnHMIyBiuLeC/s1600/CAMPANHA+FILOSOFIA.fw.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6m3XECFRbhiErCOOqXEDFUcDDybDsPmaRfi3bPvY66JmhE77PEeyB9PF3o5fclbd6N-kXpZcU27Bi80fU6zpNrkhcGMMychRYb0w-MIb1vwvq93vc-XUruGltVMRTkQxnLnHMIyBiuLeC/s400/CAMPANHA+FILOSOFIA.fw.png" width="280" /></a></div>
<b><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 16pt;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-line-height-alt: 15.6pt; mso-outline-level: 2; vertical-align: baseline;">
<b><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 16pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-line-height-alt: 15.6pt; mso-outline-level: 2; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: 18.0pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #333333;"><span style="font-family: inherit;">Prezados(as) Estudantes,
Professores(as), Servidores(as) Técnicos-Administrativos e demais
Companheiros(as),<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #333333;"><span style="font-family: inherit;">
A Coordenação do Curso de Filosofia/UFAL em conjunto com o Centro Acadêmico
Douglas Magalhães iniciam, a partir do corrente mês (abril-2015), uma campanha
de arrecadação de livros para montar o acervo bibliográfico da <b><span style="border: none windowtext 1.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Sala de Leitura</span></b>, com o propósito de disponibilizá-la
para o uso da Comunidade Acadêmica do Curso de Filosofia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #333333;"><span style="font-family: inherit;">
Esta CAMPANHA requer a participação de toda Comunidade Acadêmica e de mais
interessados, por isso convidamos a todos(as) a contribuírem com doações de
livros, aumentando e qualificando o acervo de Filosofia da nossa <b><span style="border: none windowtext 1.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Sala de Leitura.</span></b><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: red; padding: 0cm;"><br /></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: red; padding: 0cm;">PONTOS
DE ARRECADAÇÃO </span></b><span style="color: #333333;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 18.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify; text-indent: -18.0pt; vertical-align: baseline;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: inherit;"><span style="color: #333333;">§<span style="font-stretch: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: #333333; padding: 0cm;">Ponto fixo:</span></b><span style="color: #333333;"> Secretaria
do Curso de Filosofia, de segunda à sexta, das 14:00 às 21:45h.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 18.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify; text-indent: -18.0pt; vertical-align: baseline;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: inherit;"><span style="color: #333333;">§<span style="font-stretch: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: #333333; padding: 0cm;">Ponto itinerante</span></b><span style="color: #333333;">:
Bloco de Sala de Aula (BSA2) do Curso de Filosofia e demais dependências da
Universidade, nos dias de terça, quinta e sexta, das 19:00 às 21:45.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: 18.0pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #333333;"><span style="font-family: inherit;">A Coordenação do Curso e o Centro
Acadêmico pretendem ainda realizar outras ações com este mesmo objetivo:
adquirir livros de Filosofia para o usufruto dos estudantes. Em breve,
informaremos sobre essas novas ações.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: 18.0pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #333333;"><span style="font-family: inherit;"> Contamos com
o interesse, a divulgação e a participação empenhada de cada estudante, de cada
servidor(a) professor(a) e de cada servidor(a) técnico-administrativo nesta
CAMPANHA. Esperamos, com ações como esta, possibilitar maior participação da
Comunidade nas atividades do Curso, mais usufruto do conhecimento filosófico,
mais qualidade e mais dinâmica acadêmicas no nosso Curso.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: red; padding: 0cm;">DÚVIDAS
E MAIS INFORMAÇÕES</span></b><span style="color: #333333;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: #333333; padding: 0cm;"><br /></span></b></span>
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: #333333; padding: 0cm;">-
(82) 9934-6165</span></b><span style="color: #333333;"> – Falar com: Islânio Santiago,
Coordenador do Centro Acadêmico Douglas Magalhães.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<b style="font-family: inherit;"><span style="border: 1pt none windowtext; color: #333333; padding: 0cm;">-
(82) 3214-1325</span></b><span style="color: #333333; font-family: inherit;"> – Secretaria do Curso de
Filosofia</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: #333333; padding: 0cm;"><br /></span></b></span>
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: #333333; padding: 0cm;">OBS</span></b><span style="color: #333333;">: Aos que desejam doar, mas não podem se dirigir
aos pontos de arrecadação, favor entrar em contato.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18.0pt; margin-bottom: 18.0pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #333333;"><span style="font-family: inherit;">Maceió, 06 de abril de 2015.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: #333333; padding: 0cm;">Maxwell
Morais de Lima
Filho
Islânio Bezerra Nunes Santiago</span></b><span style="color: #333333;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 18pt; margin-bottom: 18pt; text-align: center; vertical-align: baseline;">
<span style="color: #333333;"><span style="font-family: inherit;">Coordenador do Curso de
Filosofia
Direção do Centro Acadêmico de Filosofia<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-2276678630410666032015-03-30T05:54:00.000-07:002015-05-14T07:14:39.556-07:00O que é um texto filosófico: caracterização e condições<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFwbBmpKFsaVWKUTA0itfkSjFzWqRvCadc0nIsDBJd1YHUqiAjFxEmHzJ0esfExIelMu04AOkoCVIUoQtsM7UJXDgzdytG6Zj224lG-3ixiiBPnXjk4zZVHxRN_bgLXq2nPI407vgFCWia/s1600/coruja+lendo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="398" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFwbBmpKFsaVWKUTA0itfkSjFzWqRvCadc0nIsDBJd1YHUqiAjFxEmHzJ0esfExIelMu04AOkoCVIUoQtsM7UJXDgzdytG6Zj224lG-3ixiiBPnXjk4zZVHxRN_bgLXq2nPI407vgFCWia/s1600/coruja+lendo.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%;">Autor: </span><span style="background-color: white; color: #444444; line-height: 21.2999992370605px;">William Michaell dos Santos Torquato</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white; color: #444444; line-height: 21.2999992370605px;">Contato: </span><span style="background-color: white; color: #444444; line-height: 19.9935989379883px; white-space: nowrap;">williamnesia@gmail.com</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> <span style="font-family: inherit;"> </span></span></span><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%; text-align: justify;">Antes
de partirmos para a explicitação do conceito de texto filosófico, considero
importante levantar a definição de uma classe mais geral e que abarca esse
predicamento: a definição de Texto. Dessa forma, cabe a mim perguntar: o que
significa texto? Significa que um simples amontoado de palavras não se encaixa
na categoria "texto" se não possuir um sentido. Para encontrarmos o
sentido, é preciso prestar atenção ao contexto cujas palavras, frases e parágrafos
estão sendo utilizados. Além disso, há a necessidade de um conhecimento de
mundo, através de nossas experiências em sociedade, para compreendermos com
mais atenção as dimensões lógica e psicológica das palavras, lógica porque "é
o seu conteúdo de pensamento, que pode ser expresso em sua definição conforme o
dicionário"</span><a href="file:///D:/Documentos/Download/O-que-%C3%A9-um-texto-filos%C3%B3fico.docx#_ftn1" name="_ftnref1" style="line-height: 150%; text-align: justify;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[1]</span></span></span></a><span style="line-height: 150%; text-align: justify;">
e psicológica por causa das "imagens relacionadas, as nuanças e a emoção
espontaneamente associada às palavras",</span><a href="file:///D:/Documentos/Download/O-que-%C3%A9-um-texto-filos%C3%B3fico.docx#_ftn2" name="_ftnref2" style="line-height: 150%; text-align: justify;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[2]</span></span></span></a><i style="line-height: 150%; text-align: justify;"> </i><span style="line-height: 150%; text-align: justify;">evitando-se cair em ambiguidades, porque
cada palavra vem carregada com um sentido individual que, quando relacionada
com outras, criam um outro sentido. Isso também se aplica às frases e aos
parágrafos. Essa correspondência entre as ideias do texto, intencionalmente, é
chamada de Coerência. A Coesão, por sua vez, pretende estar em harmonia com a
Coerência, dando ao texto as articulações e ligações necessárias entre suas
diferentes partes, ou seja, lógico-semântica, promovendo a transição fluida das
ideias para que a mensagem do autor seja passada. Essa harmonia entre a
coerência e a coesão nos mostra que o caminho percorrido até aqui trouxe mais
uma característica de conceituação de um texto, ou seja: o texto transmite uma
mensagem outrora intencionada pelo autor e direcionada ao leitor. Isso deixa
claro que também há maneiras de escrever que dependem desse leitor. Vejamos um
exemplo simples: um texto introdutório pressupõe primordialmente leitores que
não estão familiarizados com aquele determinado assunto, de modo contrário, textos
concebidos com mais densidade e com maior número de termos técnicos são
voltados para pessoas que já passaram pela fase de introdução e dominam melhor
o assunto — isso nada impede que um leitor em fase de introdução, se desejar,
leia um livro mais avançado, no entanto, as chances desse leitor conseguir absorver
algum conhecimento são imensamente pequenas. Por fim, não sendo mais necessário
prolongar o assunto em questão, encerro este breve conceito de texto e me
disponho a explicitar uma de suas categorias, por assim dizer, que é: o texto
filosófico. Porém, não será uma das tarefas mais fáceis, e certamente irá
requerer extremo cuidado de minha parte, além de dedicação e honestidade. Por
isso, minha pretensão é apenas a de fomentar a reflexão sobre o assunto, mas
sempre caminhando em direção à verdade.</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> Quando observamos os inúmeros
autores durante toda a história da filosofia, como forma de encontrar um padrão
ou uma semelhança em seus escritos, para que possamos vir a afirmar sem medo
que aquele poderá sempre ser considerado um texto filosófico, descobrimos que
existem inúmeras formas de escrever filosoficamente: poemas, diálogos, ensaios,
tratados, aforismos, etc. Analisando com mais cuidado todas essas formas de
escrita e afunilando ainda mais o gargalo do problema, buscando nelas aquela
mesma semelhança ao qual determinamos como ponto de partida de nossa
investigação, podemos vir a encontrar o ponto de convergência tão desejado. Mas
o que há de semelhante em todos esses textos considerados filosóficos?
Essencialmente falando, posso afirmar que o teor argumentativo e reflexivo são uns
dos grandes responsáveis pela categorização de um texto como filosófico, manifestando
um rigor lógico em seu desenvolvimento para ser capaz de pensar a realidade o
mais próximo possível do que ela é (ou de fato é), pensando-a conceitualmente e
consequentemente afastando de si particularidades que não venham somar nada,
mas apenas desviar seu âmbito universal e conceitual de repensar o mundo. No
entanto, os textos científicos também possuem esse caráter argumentativo e
reflexivo, então como diferenciar um texto filosófico de um científico? A
partir do problema. Iniciar uma investigação a partir de um problema é natural
da Filosofia. Mas onde encontrar esse problema? Para a Filosofia, os problemas
estão no mundo, ao redor do homem, no seu dia-a-dia, e sua investigação é estritamente
teorética, além disso, são problemas comuns a todos os homens. Diferentemente,
para a ciência, esses problemas não necessariamente são comuns a todos, mas em
grande medida são problemas alocados em laboratórios para que um grupo seleto
de pessoas (cientistas) trabalhem sobre eles, o que demonstra a diferença
metodológica entre a Ciência e a Filosofia. Apesar de ambas buscarem o mesmo
objetivo, não trilham exatamente o mesmo caminho até esse objetivo. Por
conseguinte, é comum ouvir afirmações acerca da atividade filosófica do tipo:
"o filósofo é uma coisa, sua filosofia outra", como se fossem duas coisas
distintas, ao qual cada uma deveria ser analisada separadamente da outra, sem
qualquer relação do modo como o filósofo vive e pensa com sua produção
filosófica. Sem sombra de dúvidas os gregos repudiariam categoricamente tal
afirmação, pois o ato de filosofar, para o grego, estava intrinsecamente ligado
à vida do filósofo, a chamada <i>bíos
theoretikós</i> (vida teorética ou contemplativa). Não se concebia a filosofia
como algo "fora" da vida do filósofo, não para o povo grego. Arrisco-me
até a afirmar que esse seja o caminho mais virtuoso em direção à Verdade, o
genuíno <i>Método Filosófico</i> herdado de
Sócrates, Platão e Aristóteles, que é animado pela atividade de viver a
filosofia, em outras palavras, trazer a filosofia para o cotidiano do homem em
busca de fazer florescer uma vida reflexiva e virtuosa, para viver bem tanto consigo
mesmo quanto com os outros. Mas isso é um assunto para outro momento.
Retornemos ao nosso problema.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> O texto filosófico, por ter como base
a Filosofia, busca a compreensão da realidade tal como ela é e não somente como
se apresenta, expondo ao leitor uma determinada tese defendida pelo autor, que não
necessariamente estará limitada ao rigor técnico, mas também estará
fundamentada numa <i>pessoalidade<a href="file:///D:/Documentos/Download/O-que-%C3%A9-um-texto-filos%C3%B3fico.docx#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="line-height: 115%;">[3]</span></b></span><!--[endif]--></span></a></i>
específica de cada autor, suas experiências e sua própria visão da realidade como
um todo e em como ela o afetará, permitindo que suas vivências dessa realidade
possam vir à tona como uma cosmovisão inalienável. Isso não quer dizer que ele estará
mergulhando em puro subjetivismo em cada momento de reflexão, espalhando ideias
como se escrevesse um diário, muito pelo contrário, estará tomando para si o
problema de tal forma que sua argumentação e reflexão servirão para lapidar esse
<i>apropriamento da problemática</i>, impedindo
que o autor caia, ou venha a cair, em contradições ou confusões, fugindo do
problema que ele estava a tratar e da própria realidade. Portanto, da mesma
forma que o texto filosófico necessita partir de um problema, como também refletir
sobre esse problema e, por fim, dar argumentos que justifiquem o seu ponto de
vista sobre esse problema, é de suma importância que o filósofo não seja
escravo dessa cultura tecnicista exagerada para produzir bons textos, sendo
capaz de encarar o problema com essa <i>pessoalidade</i>
que é comum a todos os homens (mas nem todos exercitam) e que talvez venha até
a se transformar em originalidade — que não é necessariamente uma obrigação do
estudioso, visto que o conceito de filósofo, concretizado nas imagens de Sócrates, Platão e Aristóteles, e
humildemente definido por Pitágoras, nunca tencionou ser original, mas alcançou
tal façanha como consequência da busca pela verdade, uma busca que a
contemporaneidade necessita resgatar urgentemente dos clássicos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> Por conseguinte, quando partimos
para o âmbito geopolítico e social, como meio de analisar se são importantes do
ponto de vista do texto filosófico, tendemos a cair nas afirmações de que são
sempre condições para que enxerguemos o mundo sob suas influências, o que não é
necessariamente verdade. Expressemos isso com um exemplo: um estudioso
brasileiro não está impedido de escrever filosoficamente sobre os problemas
político-religiosos que existem há anos entre Israel e Palestina, dois países
que vivem uma situação totalmente distinta do Brasil, sem que o seu texto seja
desconsiderado porque não foi escrito sob as bases dos problemas político-religiosos
do autor. O mesmo ocorre se ele resolver escrever sobre a escravidão em outros países,
que apesar de ter feito parte da cultura brasileira por muitos anos, não
corresponde mais à realidade atual do país e a dele mesmo. Fica evidente,
analisando por esse ângulo, que mesmo que tais fatores tenham grande peso sobre
nossa forma de encarar a realidade, não é correto afirmar que todo texto
filosófico será escrito tendo como base esses fatores, porque estaríamos
reduzindo a liberdade da filosofia de pensar a realidade além deles, a
particularidades muito apequenadas, senão isoladas. Entretanto, é possível usar
essas particularidades como ponto de partida de uma investigação teórica que mais
tarde poderá ser ampla e profunda, refletindo o problema em sua complexidade plena,
para então construir um caminho até o objetivo desejado. Tomando isso como
premissa, os fatores sociais e políticos apresentam sua contribuição para o
texto filosófico porque são problemas que o autor viveu, vive ou talvez viverá,
e como experiências de vida, estão aptos a serem usados como meios (ou fins,
visto que o filósofo busca resolver o problema que se pôs a investigar, sendo
ele, o problema, o foco de todo o trabalho) de uma construção textual
filosófica profunda.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> Por fim, é preciso ressaltar que,
mesmo com tudo o que foi dito até aqui, um texto considerado filosófico pode
simplesmente não despertar inquietação nenhuma em determinado leitor, passando
a ser encarado apenas como um texto histórico, científico, pedagógico, ou de qualquer
outro tipo. Esse fato em específico leva mais em consideração o próprio leitor,
que diante de um texto considerado filosófico não terá em si a <i>vivência</i> daquilo que o texto minimamente
exige para que seja compreendido e assimilado, ao ponto de despertar o desejo
de refletir o que está sendo lido. Evidentemente nos colocamos diante de uma
condição para que um texto seja classificado como filosófico: a compreensão,
assimilação e a incitação da reflexão do que está sendo proposto no texto por
parte do leitor. Ora, certamente os filósofos escreveram seus textos com a
intenção de que fossem lidos, dando abertura para serem estudados e,
consequentemente, refutados ou corroborados. Alguns desses autores foram seletivos
em quem deveria ler seus textos, escrevendo de forma "truncada" como
Kant e Heidegger, muitas vezes
obscuras como Heráclito de Éfeso, pois analisavam determinado problema com todo
o rigor lógico, argumentativo e linguístico exigido pela razão em todos os
ângulos permitidos, tanto por ele mesmo, quanto pelo problema, ocasionando numa
dificuldade natural para quem se propunha a lê-los despreparadamente, já que
nem todos estão prontos filosoficamente para compreender os conceitos usados
naquele determinado texto, exigindo do leitor uma carga de leitura suficiente
para assimilar com mais facilidade o conteúdo. Além disso está o modo de vida
do filósofo, citado acima, que transfere para o texto as vivências do filósofo.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> Eis aí possíveis caracterizações e
condições para definirmos o que é um texto filosófico. Dessa forma, a definição
se mostra extremamente complicada de ser objetivada concretamente, mas não está
livre de reflexão, está sim apta a incitar o leitor a se embrenhar cada vez
mais no pensamento usando o próprio pensamento para buscar respostas, pois
afinal de contas, parafraseando Mário Ferreira dos Santos, <i>o pensamento é a única arma que o filósofo tem para enfrentar as
dificuldades da realidade</i>. Por fim, finalizo minha reflexão sobre <i>texto filosófico</i> sendo fiel a minha
pretensão inicial: </span><b><span style="font-family: inherit;">fomentar a reflexão
sobre o assunto, caminhando sempre em direção à verdade.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/O-que-%C3%A9-um-texto-filos%C3%B3fico.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> Irmã Miriam Joseph, <i>O Trivium</i>. São Paulo, É Realizações,
2014, p. 54.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn2">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/O-que-%C3%A9-um-texto-filos%C3%B3fico.docx#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"> <i>Ibidem</i>, p. 55.</span><o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/O-que-%C3%A9-um-texto-filos%C3%B3fico.docx#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 115%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a> <span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Essa <i>pessoalidade</i> se refere à capacidade que cada homem tem de, a partir
de suas vivências, refletir sobre a realidade (realidade → homem) e transferir
essas reflexões de volta para a realidade como uma cosmovisão expressa em uma
teoria (realidade ← homem).</span><o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="color: #666666; font-family: inherit; font-size: x-small;">*As ideias e informações contidas neste artigo são de total responsabilidade do seu autor.</span></span></div>
<div class="post-body entry-content" id="post-body-2923419028854078188" itemprop="description articleBody" style="background-color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; line-height: 1.4; position: relative; width: 510px;">
<div style="clear: both;">
</div>
</div>
<div class="post-footer" style="background-color: #f3f3f3; border-bottom-color: rgb(232, 232, 232); border-bottom-style: solid; border-bottom-width: 1px; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; line-height: 1.6; margin: 20px -2px 0px; padding: 5px 10px; text-align: right;">
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-29234190288540781882015-03-12T21:03:00.000-07:002015-03-13T06:36:58.255-07:00Maquiavel: do cosmos medieval ao renascentista, a fortuna e as circunstâncias da liberdade <div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQSW8805B0xv5hAPhBs9U0wGbqzW7PgF_WnJounHK973tmT75NkA9werKJRbMhyuIp3MECCyCG0CNiaH3tSZRECmxMjLve0xGtmFC_9Z3aTxhCNHyujBc06CWNSjfD3hS-cJ2yTD7ejppC/s1600/maquiavel+-+blog+do+Iba+Mendes.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQSW8805B0xv5hAPhBs9U0wGbqzW7PgF_WnJounHK973tmT75NkA9werKJRbMhyuIp3MECCyCG0CNiaH3tSZRECmxMjLve0xGtmFC_9Z3aTxhCNHyujBc06CWNSjfD3hS-cJ2yTD7ejppC/s1600/maquiavel+-+blog+do+Iba+Mendes.jpg" height="363" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
Autora: Flávia Roberta Benevenuto de Souza.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<span style="text-indent: 47.2000007629395px;">Professora Adjunta, Universidade Federal de Alagoas (UFAL). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
Doutora em Filosofia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-Doutorando, Departamento
de Filosofia, Universidade de São Paulo (USP), com financiamento do CNPq.<br />
Contato:<span style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;"> flaviabenevenuto@gmail.com</span><br />
<flaviabenevenuto gmail.com=""></flaviabenevenuto><flaviabenevenuto gmail.com=""></flaviabenevenuto><br />
<flaviabenevenuto gmail.com=""></flaviabenevenuto></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 35.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br /></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 35.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br /></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 35.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="line-height: 150%;">Resumo: </span></b><span style="line-height: 150%;">As
circunstâncias se apresentam como definitivas quando se pretende executar
qualquer tipo ação humana, especialmente aquelas que dizem respeito à conquista
e à manutenção do poder. Admitindo-se que quanto maior a força da <i>fortuna</i> menor a liberdade para efetivar
ações capazes de conduzir o ator político ao êxito no mundo da contingência,
torna-se imprescindível saber até que ponto ela exerce poder sobre as ações dos
homens. Mas será possível precisá-lo? Partimos do contexto histórico em que as
obras de Maquiavel foram escritas para compreender a relação que o autor
estabelece com a tradição, ora assumindo-a, ora a ela se opondo. Recuperamos os
textos de Maquiavel e estabelecemos, então, diálogo com alguns comentadores da
obra do autor para investigar a questão da <i>fortuna</i>
propriamente dita. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 35.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="line-height: 150%;"><br /></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 35.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="line-height: 150%;">Palavras-chave:</span></b><span style="line-height: 150%;">
Maquiavel, <i>fortuna</i>, circunstâncias,
liberdade<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 35.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"><br /></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 35.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">Abstract: </span></b><span lang="EN-US" style="background: white; line-height: 150%;">The circumstances present themselves as definitive
when trying to run any human action, especially those that relate to the
achievement and maintenance of power. Assuming that the higher the power of
fortune less freedom to commit actions that can lead to successful political
actor in the world of contingency, it becomes essential to know how it
exercises power over the actions of men. But is it possible to do it precisely?
We start from the historical context in which the works of Machiavelli are
written to understand the relationship the author establishes with tradition,
sometimes taking it, now opposing it. We recovered Machiavelli’s texts and
established dialogue with some commentators the author's work to investigate
the question of <i>fortune</i> itself.</span><b><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 35.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"><br /></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 35.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">Key-words: </span></b><span lang="EN-US" style="background: white;">Machiavelli, <i>fortune</i>, circumstances, freedom</span><b><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"> </span></b><span style="line-height: 150%;">Se procurássemos
pela origem do termo <i>fortuna</i>,
depararíamos talvez com um momento histórico tão antigo quanto a própria origem
da filosofia, talvez até mais antigo que ela. Nota-se uma grande quantidade de
significados assumidos pelo termo. Thomas Flanagan, ao investigar a questão,
apresenta uma lista de “usos” que podem, em contextos específicos, ser pensados
como sinônimos de <i>fortuna</i>. De acordo
com ele, “todas estas concepções se referem aos diferentes aspectos ou momentos
da experiência fundamental em que o homem não tem controle total sobre o seu
destino na terra”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Deste modo, o termo <i>fortuna</i> apresenta
muitas acepções</span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="EN-US" style="line-height: 115%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="EN-US" style="line-height: 150%;">
</span><span style="line-height: 150%;">e,
de acordo com Flanagan, são de difícil dissociação. Ele recorre à estrutura do
termo latino “<i>fortuna</i>” que, de acordo
com ele, constitui-se como um adjetivo, a partir do substantivo <i>fors</i>, que significa ‘sorte’, associado
ao verbo <i>ferre</i>, ‘trazer’<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
Ao prosseguir em sua análise e, especificamente ao tratar as origens do termo <i>fortuna</i> no pensamento de Maquiavel,
Flanagan parece reconstruir o percurso das interpretações apontadas por
comentadores da obra de Maquiavel<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn4" name="_ftnref4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
Aponta alguns autores que teceram comentários sobre a obra de Maquiavel e suas
respectivas “origens” do termo <i>fortuna</i>
no pensamento do secretário florentino. O primeiro deles é Joseph Mazzeo. Ele
“sugeriu que Maquiavel desenhou sua noção de fortuna a partir de Políbio”<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn5" name="_ftnref5" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
Na sequência Flanagan apresenta a perspectiva de J.H. Whitfield, para quem
Maquiavel ‘obviamente’ herdara a discussão entre <i>virtù</i> e <i>fortuna</i> dos
‘Historiadores Latinos’<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn6" name="_ftnref6" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
Flanagan completa sua apresentação afirmando haver uma relação entre a
percepção que Maquiavel tinha da dos termos <i>virtù</i>
e <i>fortuna</i> e a percepção de autores
que o antecederam.<i> </i>O autor, no
entanto, menciona haver certo exagero nas similaridades apresentadas, por
exemplo, pelos autores supracitados.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn7" name="_ftnref7" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Parte deste trabalho pretende investigar
esse “exagero” nas similaridades, presentes nas afirmações de autores que
tendem a desconsiderar as modificações pelas quais o termo <i>fortuna</i> passou<i> </i>até ser analisado
por Maquiavel. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> Maquiavel
parte to termo <i>fortuna</i> tomando-o da
concepção da deusa romana, um sentido muito antigo do temo. Ele sugere se
remeter à deusa pagã dos antigos romanos que assume, em certo sentido, o lugar
antes ocupado em parte pelo “destino”, tal como os gregos o tratavam. Essa acepção
é apontada, por exemplo, por Hannah Pitkin.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn8" name="_ftnref8" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></a>
A autora parte da argumentação de Flanagan e parece corroborá-la, pelo menos no
que diz respeito aos significados assumidos pelo termo <i>fortuna</i>. Ao fazê-lo, confere atenção especial ao seu correspondente
grego, <i>tyche</i>. Nesta acepção a <i>fortuna</i>,
que passa a assumir a imagem da roda dos tempos da qual nada escapa, é marcada
pelo determinismo, talvez tão fatídica quanto o “destino” grego. O termo, no entanto,
uma vez associado à figura de uma deusa, assume determinadas peculiaridades. A
deusa <i>Fortuna</i> dos Romanos se impõe sobre o “destino” dos homens e estes
aos seus caprichos dificilmente podem resistir. De fato, a recorrência com que
Maquiavel faz a utilização romana do termo <i>fortuna</i> é clara em suas obras
políticas, com destaque para os <i>Discorsi.</i>
Mas será que esta alusão aos antigos romanos e sua roda dos tempos, em grande
medida determinista, fatalista, resume o significado do termo no pensamento de
Maquiavel? A resposta a esta questão parece ser não. Esta perspectiva fatalista
da força que a <i>fortuna</i> exerce sobre
os antigos romanos pode ser observada mais de perto por meio de obras clássicas
certamente lidas por Maquiavel, sendo uma delas a de Políbio. Gérard Colonna
d’Istria e Roland Frapet abordam a questão da <i>fortuna</i> e a forma como o termo aparece nos textos de Políbio e
indicam alguns dos usos que Maquiavel faz do texto a partir das <i>Histórias</i> de Políbio.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn9" name="_ftnref9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Apontam, entretanto, distinções entre o uso que os dois autores fazem do texto
no sentido de evidenciar “que a concepção maquiaveliana do tempo e de como as
coisas acontecem no mundo impede a concepção finalista de Políbio”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn10" name="_ftnref10" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Mas, de acordo com os autores, a principal oposição de Maquiavel a Políbio
seria mais específica: “Maquiavel se opõe categoricamente à principal ideia de
Políbio, segundo a qual a conquista romana seria o exemplo mesmo da execução de
um plano estabelecido pela <i>fortuna</i> e
bem conduzido por ela, somente por ela”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn11" name="_ftnref11" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Embora Maquiavel
se valha desta perspectiva, ela não resume o conjunto de significados que o
termo assume ao longo dos seus textos. Assim, no que diz respeito aos exemplos
que o inspiram, se, por um lado, os romanos se configuram como seus exemplos
antigos por excelência, por outro, não constituem sua única fonte. André
Rélang, a este respeito, afirma que, <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">tomando por tema a noção de <i>fortuna</i> (com suas variações boa fortuna e infortúnio), Maquiavel
não ignora que ele é herdeiro e seguidor de uma tradição rica que podemos
retomar ao menos em Homero em meio aos poetas, em Aristóteles entre os
filósofos passando por outros como Plutarco, Políbio, Petrarca, Bruno e Dante.</span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn12" name="_ftnref12" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: x-small;">[12]</span></span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Por outro lado,
homem sempre alinhado aos acontecimentos de seu tempo, o autor não negligencia
os exemplos modernos, nesta questão e nem no que diz respeito às demais. Mais
que isso, Maquiavel recorre ainda à noção do termo tal como ele foi incorporado
pelo senso comum. A sequência da argumentação de Rélang nos remete justamente a
este ponto. Segundo ele, apesar desta relação estabelecida e assumida com a
tradição, Maquiavel, ao tratar a noção de <i>fortuna</i>,
recorre, segundo ele, à “quintessência da sabedoria popular”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn13" name="_ftnref13" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Nesse sentido, logo em seguida, afirma o seguinte: “opinião sobre a que é
importante dar uma réplica porque, como a ‘<i>doxa’</i>,
ela não se limita a oferecer uma representação de mundo, ela institui um tipo
particular de relação com o real (...): ela já é uma atitude e uma opção sobre
o que virá”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn14" name="_ftnref14" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Desse modo, a atitude de Maquiavel diante daquilo que não pode ser controlado
pelos homens parece só poder ser inteligível se pensada a partir de seu
contexto específico. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Podemos dizer
assim que a questão da <i>fortuna</i>, tal como ela aparece no pensamento de
Maquiavel nos remete imediatamente ao contexto histórico da época: o fatalismo
da concepção pagã, a tentativa de ultrapassar este fatalismo pela compreensão da
conciliação entre Providência Divina/livre-arbítrio cristão medieval e o
espírito da liberdade republicana renascentista que insurgia. Filho de seu
tempo, Maquiavel, se inscreve em todos eles sem, no entanto, se prender a
nenhum. Estas distintas perspectivas se configuram todas elas como pertinentes
(haja vista suas distinções por vezes radicais) para a compreensão do contexto
em que Maquiavel escreveu e consequentemente dos posicionamentos que ele assume
em seus textos. Tal como afirmam os autores Gérard Colonna d’Istria e Roland
Frapet, a obra de Maquiavel apresenta uma “novidade radial”<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn15" name="_ftnref15" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></a>
e “é verdade que ela possui todas as características e todas as ambiguidades de
um pensador que tenta romper com uma longa tradição e anuncia tempos novos”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn16" name="_ftnref16" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Maquiavel, de fato, rompe com a tradição. Melhor dizendo, assume a tradição,
transgredindo-a em inúmeros aspectos. Naquilo que diz respeito à fortuna,
assume seu legado conceitual, rompendo indiretamente com uma tradição que se
edificava desde os gregos a partir do rompimento direto com as afirmações de
Cícero e Políbio. Este rompimento não se dá apenas em relação àquilo que diz
respeito à política, mas parece se estender a outros âmbitos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Por causa disso,
ao recuperarmos alguns dos elementos pertencentes a este contexto, precisamos
compreender que não se trata de recuperar somente aquilo que diz respeito
diretamente ao âmbito político, mas, e além dele, o contexto <i>della</i> <i>scientia</i>, assim como sua
influência nas concepções que se formavam no âmbito público. A primeira coisa a
que precisamos nos ater quando tratamos da <i>fortuna,</i> no contexto em que
se inscreve o pensamento de Maquiavel, é que é preciso deixar de lado a
separação moderna existente entre âmbitos distintos da <i>scientia</i>. Naquilo
que diz respeito à <i>fortuna</i>, por exemplo, o contexto político não pode
ser dissociado do astro-físico. Parece ser antes influenciado por ele. Mais que
isso, estes dois âmbitos se complementam. Em um tempo marcado pela sede de
novidades e em que todos os olhares se voltam em grande medida para os astros,
não havia âmbito do saber que ignorasse as novas descobertas. Neste sentido, as
concepções que se constituíam a partir da investigação do <i>cosmos</i>
influenciavam as ações dos homens no âmbito público. Naquilo que diz respeito à
<i>fortuna</i>, há uma tentativa de identificá-la em função de uma determinada
compreensão do <i>cosmos</i>. Mais que isso,
a maneira como os homens concebiam a força ou a interferência da <i>fortuna</i>
em suas vidas ou mesmo no corpo político poderia alterar seu modo de agir, e
talvez este seja um dos principais pontos que conferem a tal questão um lugar
tão especial no pensamento de Maquiavel. Antes, porém, de tratarmos da
influência direta da <i>fortuna</i> nas
ações dos homens, precisamos tentar compreendê-la e, em especial, precisamos
fazê-lo tendo em vista os mesmos mecanismos em que isso era feito no contexto
vivido pelo autor. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<b><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> <i>Fortuna</i>
e cosmologia: uma nova concepção de liberdade<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Gérard Colonna
d’Istria e Roland Frapet apontam que, pelo menos como ponto de partida, o termo
<i>fortuna</i> pode ser tomado como aquilo
que há de irracional no domínio da política.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn17" name="_ftnref17" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Se esta afirmação é verdadeira, parece sê-lo também a tentativa de investigar
isto que há de indeterminado no campo da política por via do estudo do <i>cosmos</i>. Se nos voltamos mais especificamente
para Maquiavel, percebemos que a Renascença se constituía, de fato, como um
momento em que o estudo dos astros, do <i>cosmos</i>, do universo não somente
estava em voga, como também passava por um momento de transição. A antiga
estrutura cósmica medieval, marcada pelo determinismo de uma força divina,
vinha de pouco em pouco cedendo espaço a perspectivas cada vez menos
relacionadas à ordem religiosa vigente e, consequentemente, cada vez menos
deterministas. Pensar a <i>fortuna</i> remete-nos assim ao contexto histórico
de Maquiavel, tomando-o a partir de sua concepção de cosmos. Concepção esta
circunscrita neste período de transição de conceitos, fato que impõe certa
atenção à sua investigação. Podemos dizer até que o estudo dos astros, do cosmo
no período do Renascimento, se desenrola em um ambiente complexo, ligado à
magia e marcado por preceitos religiosos. Isto, segundo Eugenio Garin, se deve,
em especial, a uma questão histórica. Segundo ele, <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">no Renascimento e no que diz respeito à astrologia
aparece uma distinção entre os dois aspectos desta disciplina: religioso e
supersticioso de um lado, crítico e científico de outro; enquanto na
Antiguidade e na Idade Média eram relacionados e misturados até serem
confundidos sob o termo único de astrologia.</span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn18" name="_ftnref18" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: x-small;">[18]</span></span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">O tempo de Maquiavel coincide com o
momento em que estas questões são analisadas com mais clareza, com alguma
divisão teórica. Entretanto, não se pode desconsiderar que a época de Maquiavel
ainda é marcada pela influência do modelo medieval — em grande medida engajado
em conciliar Liberdade e Providência Divina no universo determinado por Deus —
e, ao mesmo tempo, pela modificação deste sistema assim como pela recuperação
de alguns elementos próprios da Antiguidade clássica abandonados no período
medieval. Podemos dizer, generalizando, que, ao mesmo tempo que questões
tradicionalmente discutidas no período medieval (como a conciliação entre
livre-arbítrio e providência divina) são mantidas, a forma de se conceber a
liberdade se altera um pouco. O indivíduo, embora preso a forças que lhe são
superiores e que, direta ou indiretamente, nele interferem, parece mais
autônomo, mais responsável pelas suas ações e pelo resultado produzido por
elas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> Assim,
de acordo Gérard Colonna d’Istria e Roland Frapet, <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">a afirmação de um continente político autônomo
implica o abandono da ideia de uma finalidade da natureza ou da providência
divina. Um <i>cosmos</i> conduzido a um
tempo e a uma ordem da Natureza privada de finalidade — na qual se insere a
ideia de <i>fortuna</i> — conduzida à
emergência de um universo político autônomo e de uma arte política que não se
situa mais no interior de uma hierarquia cosmológica e não é mais tratada tendo
em vista uma finalidade moral transpolítica.</span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn19" name="_ftnref19" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: x-small;">[19]</span></span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Essa nova possibilidade, no entanto, se
abria em função de uma mudança profunda na forma de compreender o universo, o <i>cosmos</i> e a <i>fortuna</i>, assim como a capacidade que estes poderiam ter de
interferir na vida dos homens. Esse novo modo de lidar com o <i>cosmos</i>, de perceber a <i>fortuna</i> nos
interessa em função das alterações que foi capaz de provocar no âmbito público
e enquanto condição de possibilidade para a realização dos objetivos de
Maquiavel. Ernest Cassirer,<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn20" name="_ftnref20" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[20]</span></span><!--[endif]--></span></a>
ao abordar a questão do <i>cosmos</i>,
também trata do Renascimento como um período de grandes transformações que se
devem, em grande medida, a uma nova forma de se conceber o mundo. Forma esta
que altera a maneira como o homem se vê no mundo e, em especial, a relação mais
livre que é capaz, a partir de então, de estabelecer com este.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn21" name="_ftnref21" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[21]</span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Tudo isso parece
constituir o ambiente no qual Maquiavel pensa a política. Mesmo assim o autor
parece não somente ter seguido uma tendência de pensamento de sua época, mas
ter ainda contribuído para sua concretização definitiva na história. Sfez
afirma ao iniciar seu livro, <i>Machiavel, la politique du moindre mal</i>, que
“a obra de Maquiavel — de <i>O Príncipe</i> aos <i>Discorsi </i>— foi saudada
como uma demonstração da potência da liberdade humana face à pretendida
fatalidade da <i>Fortuna</i>”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn22" name="_ftnref22" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[22]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Na sequência do texto ele afirma não invalidar a conclusão, mas a problematiza
apontando uma resistência que segundo ele se faz dupla. “Não seria [a <i>fortuna</i>] o nome daquilo que resiste à
nossa liberdade?”, questiona Sfez.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn23" name="_ftnref23" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[23]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Ao inverter a questão, ele nos chama a atenção para o fato de ser o seu poder
um poder de resistência que se revela duplo: “resistência da <i>Virtù</i>,
resistência da <i>Fortuna</i>”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn24" name="_ftnref24" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[24]</span></span><!--[endif]--></span></a>
De acordo com ele, esta atitude de Maquiavel pode ser tomada “como um ato de
ruptura com a herança renascentista”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn25" name="_ftnref25" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[25]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Isto porque, ainda segundo Sfez, “era grande a tentação, diante das
dificuldades de se chegar aos seus fins, se remeter à providência divina ou à <i>fortuna</i> e se renunciar a esperar alguma
coisa da ação”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn26" name="_ftnref26" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[26]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Nesse sentido, se havia já uma abertura maior para se pensar o <i>cosmos</i> e sua influência na vida dos
homens como menos implacável, ainda era difícil pensar em grande liberdade em
relação a ele. Maquiavel, tal como parece ter feito em relação também a outras
questões, dá sequência àquilo que se pensava em sua época ao mesmo tempo que
introduz certo rompimento. Neste caso especificamente introduz uma forma
alternativa de pensar a ação humana que não se reduz a ser controlada
exclusivamente nem pela providência divina cristã nem pela cosmologia
aristotélica.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn27" name="_ftnref27" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[27]</span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Anthony Parel
nos ajuda a compreender melhor os termos da relação que Maquiavel estabeleceu
com a forma como o <i>cosmos</i> era
percebido em seu tempo. Ele nos oferece um panorama mais específico da questão.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn28" name="_ftnref28" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[28]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Em seu <i>The Machiavelian Cosmos</i>, ele
investiga a <i>fortuna</i> sob a perspectiva
da cosmologia, ou seja, de modo geral, sob a perspectiva da ciência natural
renascentista.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn29" name="_ftnref29" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[29]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Parte do pensamento de Ptolomeu,<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn30" name="_ftnref30" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[30]</span></span><!--[endif]--></span></a>
que, segundo ele, pode ser observado em alguns aspectos d’<i>O Príncipe</i>.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn31" name="_ftnref31" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><i><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="line-height: 115%;">[31]</span></b></span><!--[endif]--></i></span></a>
Mas, antes de tratar diretamente da questão da <i>fortuna</i> no pensamento de Maquiavel, investiga o impacto das obras
de Ptolomeu e Abu Ma’shar no pensamento cosmológico renascentista. O ponto de
partida parece ser o fato de que “nem tudo que acontece no mundo tem uma
explicação causal na atividade intencional de agentes inteligentes”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn32" name="_ftnref32" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[32]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Volta-se então à análise da obra de Maquiavel e à questão da <i>fortuna.</i> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Ao tratá-la,
afirma que a questão passa necessariamente pela concepção de cosmologia que
Maquiavel herdara de sua época e, ao mesmo tempo, por algumas novidades
introduzidas pelo pensamento do autor.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn33" name="_ftnref33" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[33]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Segundo ele, “o império do céu e da <i>fortuna</i>
cedem um limite para que a autonomia humana possa se efetivar”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn34" name="_ftnref34" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[34]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Neste ponto, podemos identificar um espaço maior para que o homem pudesse se
pensar mais livre em relação ao universo do que em momentos anteriores da
história. Seguindo a argumentação de Parel, encontramos outros trechos que
parecem guiar-nos na mesma direção: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">No <i>cosmos</i>
maquiaveliano não há lugar para Providência Divina, embora haja espaço tanto
para céu quanto para <i>fortuna</i>; ele
cede espaço para esses porque apontam para dois tipos causais distintos, um
pertencente à necessidade e outro ao que é fortuito.</span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn35" name="_ftnref35" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: x-small;">[35]</span></span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Esta afirmação de Parel nos conduz a
refletir sobre o pensamento de Maquiavel e seu lugar na tradição. Tal como
afirma em seu artigo publicado em francês com o título <i>Ptolomé et le Chapitre 25 du Prince</i>, “a forma como as coisas
humanas e as coisas do mundo eram governadas era a questão mais debatida na
Florença de Maquiavel. A discussão, conhecida historicamente como disputa da
astrologia, revela a atualidade do capítulo <st1:metricconverter productid="25”" w:st="on">25”</st1:metricconverter>.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn36" name="_ftnref36" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[36]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Assim, Maquiavel se põe a pensar sua época e, ao mesmo tempo que rompe com a tradição
cristã, não rompe em definitivo com sua época e com os valores da tradição.
Parel parece não ignorar esta possível ambivalência existente entre o
pensamento de Maquiavel e a tradição. Ele recupera o poema <i>Di Fortuna</i> e, na sequência, o capítulo XXV d’<i>O Príncipe</i> no
intuito de investigar a questão.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">No primeiro,
segundo ele, a <i>fortuna</i> está associada
ao céu.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn37" name="_ftnref37" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[37]</span></span><!--[endif]--></span></a>
No segundo, afirma que “o homem aparece em primeiro plano e a natureza em
segundo e a <i>fortuna</i> sempre pode
controlar ambos”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn38" name="_ftnref38" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[38]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Neste sentido, e em especial a partir desta constatação, Parel argumenta a
favor não de um rompimento que teria sido efetuado por Maquiavel em relação ao
sistema astrológico próprio de sua época, mas de uma adaptação deste modelo.
Segundo ele, “pode parecer que Maquiavel abandona a solução astrológica
clássica, (...) [mas] longe de abandonar o modo de compreensão astrológico, ele
o adapta à sua maneira”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn39" name="_ftnref39" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[39]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Destarte, a partir do momento em que Maquiavel relaciona suas hipóteses a uma
concepção cosmológica por ele “adaptada”, abre espaço para se pensar o lugar do
homem, assim como suas relações, de forma distinta da tradição. A principal
diferença parece ser justamente naquilo que diz respeito às questões que se
relacionam à liberdade. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Embora a
argumentação de Parel nos pareça razoável até este ponto, encontramos aqui
certa hesitação em seu texto. Ele chama de adaptação do modelo tradicional o
que acreditamos ser um rompimento com este modelo. Um rompimento definitivo que
partia da aceitação de elementos da tradição como uma estratégia de
argumentação. Maquiavel, assim como era comum aos autores humanistas de seu
tempo, habituado à arte retórica, sabe que refutar de imediato uma opinião
amplamente aceita por um determinado público (entimema)<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn40" name="_ftnref40" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[40]</span></span><!--[endif]--></span></a>
não contribuirá para a modificação desta opinião já admitida. Aceitando-se que
o discurso tem por fim substituir uma opinião prévia por outra, é preciso
admitir pontos comuns entre as duas premissas para captar atenção do expectador
e tentar então conduzi-lo a outra perspectiva, ou seja, tentar persuadi-lo.
Maquiavel não pode refutar de forma prévia e sumária o discurso religioso, no
caso cristão, nem com o discurso astrofísico tradicional. Ele sabe que só
poderia se fazer ouvir admitindo pontos destes discursos e, somente a partir
desta admissão inicial, poderia introduzir um novo modo de pensar a ação humana
e as possíveis influências da <i>fortuna</i>
que recaem sobre ela. Este procedimento não parece implicar uma adaptação da
tradição, pois era o método usado por uma longa tradição intelectual, por aqueles
que desejam introduzir mudanças difíceis de serem admitidas por seus
expectadores em função de terem daquele assunto uma opinião contrária.
Preferimos acreditar que Maquiavel inova em sua proposta teórica por meio de um
recurso discursivo tradicional. Assim, ao pretender modificar a concepção da
liberdade da ação humana no espaço público, vale-se de meios capazes de
efetivá-lo (mesmo que sob pena de diminuir aos olhos do leitor a novidade das
proposições que enuncia).<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn41" name="_ftnref41" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[41]</span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Deixando de lado
este assunto e voltando à argumentação de Parel, partindo agora do capítulo XXV
d’<i>O
Príncipe,</i> sua análise chama nossa atenção para duas questões que
também dizem respeito a esta guinada maquiaveliana: a relação da <i>fortuna</i> com o temperamento dos homens e
sua relação com a qualidade dos tempos. No primeiro, caso Parel afirma que,
apesar de a <i>fortuna</i> relacionar-se
melhor ou pior com os diferentes <i>humores</i>
ou temperamentos dos homens, “empiricamente, podemos ver que pessoas com o
mesmo temperamento não alcançam os mesmos resultados. (...) Este fenômeno
reflete a regra da ‘variação dos tempos’ em que o sucesso é obtido em um ponto
específico do tempo e em outro ponto pode falhar”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn42" name="_ftnref42" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[42]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Neste sentido, Aranovich, ao analisar o poema <i>Di Fortuna</i>, afirma que “a <i>fortuna</i>
é constantemente inconstante: é de sua natureza ser volúvel e móvel”<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn43" name="_ftnref43" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[43]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
Mais adiante, a autora completa seu argumento afirmando que <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">“a <i>Fortuna</i>
é poderosa e inconstante, mas não inteiramente imprevisível, pois sua
imprevisibilidade se refere apenas ao tempo, isto é, não se pode prever quando
ela mudará os giros. Há, no entanto, constância na inconstância, pois não se
pode prever quando, mas é certo que o momento da mudança virá, posto que é uma
roda. (...) Há altos e baixos, elevação e derrota, nunca o meio-termo”<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn44" name="_ftnref44" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[44]</span></span><!--[endif]--></span></a>.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">A introdução de variações postas pela
fortuna pode, então, se dar imediatamente ou daqui a um século, dois, cinco,
não se pode saber. Por isto, estas questões se relacionam, em certa medida, com
a perspectiva que Maquiavel tem da história. Esta última, que lhe serve de
ferramenta para analisar as possibilidades de ação do governante em um
determinado momento, pode se tornar o único refúgio diante das variações
impostas pela <i>fortuna</i>. A recorrência
à história pode se fazer eficaz apesar da inconsistência de um modelo acabado
diante desta fonte de variação desmedida e incontrolável. É válida como uma
possibilidade de se analisarem tais variações e pensar meios de resistir a
elas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Entretanto, há
muitas dificuldades no tratamento da questão da <i>fortuna</i> quando se tenta generalizá-la. Talvez por isso Maquiavel
tenha dividido sua análise em dois âmbitos. Parel segue a divisão introduzida
por ele e investiga, em um primeiro momento, a <i>fortuna</i> naquilo em que ela afeta um determinado corpo político e,
mais tarde, naquilo em que ela afeta os indivíduos. De acordo com ele, esta
divisão não pode ser afirmada sob uma mesma medida. Conclui, neste sentido, que
“Maquiavel se dedica mais a analisar a <i>fortuna</i>
naquilo em que ela afeta os indivíduos que naquilo em que ela afeta os países”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn45" name="_ftnref45" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[45]</span></span><!--[endif]--></span></a>
E, ainda segundo Parel, quando o assunto é a <i>fortuna</i> dos indivíduos, duas coisas estão em questão: o tempo e a
natureza. A natureza (<i>natura</i>: humor/temperamento) de um determinado
indivíduo pode concordar ou não com a natureza dos tempos, e do resultado desta
concordância ou discordância se dá o seu sucesso ou sua ruína.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn46" name="_ftnref46" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[46]</span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Não podemos
ignorar que esta divisão não passou despercebida aos comentadores da obra de
Maquiavel. Faraklas, ao tratar “as paixões políticas”,<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn47" name="_ftnref47" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[47]</span></span><!--[endif]--></span></a>
também a evidencia. Parece indicar que, por um lado, enquanto é necessário
resistir à <i>fortuna</i> <i>in universali</i>,<i> </i>pode-se dizer, por outro lado, que no caso da <i>fortuna</i> <i>in particulari</i>,
da boa <i>fortuna,</i> faz-se necessário ao
ator político adequar-se ao acaso. De modo mais específico, o autor afirma que
a <i>fortuna</i> <i>in universali</i> nos remete “ao acaso, à necessidade exterior que uma
vez determinante na tomada de decisão não se desprende dela”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn48" name="_ftnref48" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[48]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Já no caso da <i>fortuna</i> <i>in particulari</i>, parte-se do pressuposto
de que “somente a adaptação oportuna conserva o mesmo capitão junto à tropa”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn49" name="_ftnref49" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[49]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Colonna d’Istria e Frapet também investigam a questão. Ao analisarem os textos
de Políbio e uma possível relação entre estes e a obra de Maquiavel,<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn50" name="_ftnref50" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[50]</span></span><!--[endif]--></span></a>
embora por um caminho mais longo (haja vista que Maquiavel não incorpora o
sentido finalista do qual se valia Políbio), encontram uma distinção parecida,
apesar de não definida por estes mesmos termos.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn51" name="_ftnref51" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[51]</span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="line-height: 150%;"> </span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: inherit;"><b><span style="line-height: 150%;"></span></b><span style="line-height: 150%;"> Mesmo havendo
algumas distinções entre as designações apresentadas pelos comentadores da obra
de Maquiavel, estes dois âmbitos distintos, assim como suas peculiaridades,
parecem lhes ser coincidentes. Para explorá-las um pouco mais de perto,
recorreremos aos textos de Maquiavel, mais especificamente ao <i>Príncipe</i> e ao <i>Discorsi</i>, no intuito de não deixar de lado elementos importantes
para a compreensão tanto do que Maquiavel aponta como <i>fortuna</i>, quanto das peculiaridades que o tratamento desta questão
adquire ao longo de suas obras.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<b><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">O
que pode a <i>fortuna</i> afinal?<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Vimos que
Maquiavel compreende o homem mais livre do que as concepções vinculadas à
religião cristã ou à tradição cosmológica. Esta liberdade, no entanto, parece
ser ainda limitada pelas circunstâncias que a todo o momento exigem que o
governante efetive suas ações de uma maneira específica, sob pena de perder o
poder do corpo político. Se aquela que impõe tais modificações circunstanciais
é a <i>fortuna</i>, então precisamos
verificar se é possível compreender melhor os limites do seu poder. Esta
investigação nos conduzirá consequentemente a analisar melhor as variações das
circunstâncias e, em última instância, a vislumbrar mais de perto as
possibilidades efetivas de liberdade da ação humana no espaço público. Para
tentarmos compreender melhor as possibilidades da <i>fortuna</i>, partiremos da obra que nos parece ser a mais apropriada
para a análise da questão: <i>O Príncipe.</i>
A questão da <i>fortuna</i> aparece em todas
as obras políticas de Maquiavel, permanecendo um tema recorrente também em seu
legado. <i>O Príncipe</i>, porém,
é uma obra que tende a lidar com a ação política no seu caráter mais
emergencial, é também nele que a <i>fortuna</i> é apresentada de forma mais
apelativa e, talvez por ser apresentada em seus extremos, poderíamos dizer
também de forma mais explícita.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn52" name="_ftnref52" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[52]</span></span><!--[endif]--></span></a>
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Analisar <i>O Príncipe</i>, especialmente seu capítulo
XXV, que diz respeito diretamente à questão da <i>fortuna</i>, faz-se fundamental neste trabalho, mas não podemos nos
esquecer de que o príncipe novo não encarna a figura do ator político mais
importante no pensamento de Maquiavel. Sua urgência pode tornar uma análise
sobre este gênero mais clara, mas acreditamos que os atores republicanos
assumem peso equivalente no pensamento do autor. Sob alguns aspectos talvez até
um peso maior, tal como afirma Pancera: “entre o principado e a república, esta
última é a forma de governo que melhor se conforma às novas exigências”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn53" name="_ftnref53" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[53]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Neste sentido, tomar o príncipe novo em detrimento dos atores republicanos nos
conduziria a uma falta de precisão naquilo que diz respeito à questão da <i>fortuna. </i>Tentaremos evitar este desvio
apesar da força das passagens d’<i>O</i> <i>Príncipe</i> e recorreremos, embora de forma
menos direta, também aos <i>Discorsi</i>,
que nos oferecem a possibilidade de refletir sobre a análise que Maquiavel faz
dos antigos romanos e, consequentemente, sobre os desígnios da <i>fortuna</i> sobre a República. Esperamos,
dessa forma, poder vislumbrar um panorama mais completo da utilização do termo,
assim como das dimensões que ele assume na obra do autor. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 260.9pt; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 260.9pt; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Maquiavel,
tal como vimos, se apropria inicialmente do uso que os romanos faziam do termo <i>fortuna</i>, a deusa da roda dos tempos, que
se apresenta, tal como afirma Bignotto, “como aquela que retira dos homens tudo
aquilo que conquistaram quando decide mudar o rumo das coisas sem aviso
prévio”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn54" name="_ftnref54" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[54]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Este ponto de partida da utilização que Maquiavel faz do termo nos remete
diretamente a uma reflexão sobre a possibilidade de liberdade da ação humana
anunciada pela modificação da perspectiva cosmológica na época e suas
implicações práticas. Mas as modificações que dizem respeito à estrutura
cosmológica de então não implicam a única peculiaridade daquele período<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn55" name="_ftnref55" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[55]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
De modo geral, o homem ocupava um lugar de pouca significância no universo.
Bignotto toma Santo Agostinho para afirmar que “a presença do homem no mundo
era coisa sem importância, quando comparada com o lugar da plena existência
humana na ‘Cidade de Deus’”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn56" name="_ftnref56" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[56]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Entretanto, segundo o autor, “a concepção republicana, própria aos humanistas,
punha o homem no centro do universo, exigindo dele aquilo que, aos olhos de um
pensador medieval, só a graça poderia dar”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn57" name="_ftnref57" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[57]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Esta percepção, que se distanciava dos motes clássicos do período medieval,
foi, em certo sentido, fundamentada por autores clássicos da Era Pagã. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 260.9pt; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 260.9pt; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Cícero,
especialmente naquilo que dizia respeito ao estudo da retórica, e a filosofia
antiga foram retomados e contribuíram de forma definitiva para esta mudança de
perspectiva. Trata-se de um contexto bastante complexo em que os <i>studia humanitatis</i> favoreceram o que
passou a chamar de virtude cívica que, por sua vez, não coincidia com a virtude
cristã e, ao mesmo tempo, não necessariamente a contrariava.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn58" name="_ftnref58" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[58]</span></span><!--[endif]--></span></a>
No <i>quatrocentto</i>, de acordo com o que
afirma Bignotto, <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">voltando a Cícero, recuperando
suas ideias em torno da educação, eles buscavam uma nova maneira de conceber a
presença do homem na terra, sem se preocuparem em fazer a crítica da tradição,
dada como realizada pelo simples fato de que o universo conceitual medieval
fora abandonado.</span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn59" name="_ftnref59" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: x-small;">[59]</span></span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 260.9pt; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Maquiavel bebera
diretamente nesta fonte, embora saibamos que rompera com esta tradição em
alguns aspectos, especialmente naquilo que diz respeito à <i>fortuna</i> e sua relação não necessariamente simples com a <i>virtù</i>, tal como veremos mais adiante.
Antes, no entanto, de chegarmos a esta questão, precisamos compreender melhor a
<i>fortuna</i> no pensamento de Maquiavel.
Após ter vivenciado direta ou indiretamente tantas perspectivas distintas da <i>fortuna</i>, como Maquiavel a compreendia
afinal? Raros seriam os motivos para partirmos da concepção cristã tradicional
que herdara dos romanos alguns de seus principais fundamentos. Partindo dos
humanistas, sabemos que podemos nos aproximar mais da perspectiva do autor.
Mas, tendo em vista uma maior possibilidade de liberdade naquilo que diz respeito
à efetividade das ações humanas, como compreender a força muitas vezes
devastadora da <i>fortuna</i>? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 260.9pt; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 260.9pt; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Sabemos
que conhecê-la efetivamente não é possível. Bignotto, a este respeito, afirma
que “Maquiavel não sugere nem de longe que possamos conhecer seus desígnios”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn60" name="_ftnref60" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[60]</span></span><!--[endif]--></span></a>
De fato, não podemos conhecer as causas de sua força nem mesmo suas dimensões.
Podemos conhecer apenas seus efeitos. Ainda de acordo com o que afirma
Bignotto, “da <i>fortuna</i> conhecemos
apenas os efeitos e o fato de que pode sempre se manifestar, mas nunca suas
vontades e o momento em que vai lançar seus fios”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn61" name="_ftnref61" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[61]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Mas, se podemos conhecer seus efeitos, parece-nos plausível analisar então os
registros dos desígnios da <i>fortuna</i> na
história, tal como o investigou Maquiavel. A respeito deles o autor sugere que
ela se manifesta principalmente por meio da modificação das circunstâncias.
Esta modificação por si só já parece ser nociva tanto àquilo que diz respeito
ao corpo político propriamente dito quanto aos seus atores tomados
individualmente. Mas por quê? Não seriam os homens capazes de improvisar e
reagir às tais modificações? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 260.9pt; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 260.9pt; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Bignotto
novamente nos indica a resposta. Segundo ele, “os homens amam repetir seus
comportamentos e se agarram à sua forma de agir, quando ela os conduz ao
sucesso”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn62" name="_ftnref62" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[62]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Agindo sempre da mesma forma, enfrentam grandes dificuldades quando o padrão
adotado, em vez do êxito, passa a conduzi-los à ruína. Dessa forma, ao adotarem
um determinado modo de ação e consagrá-lo sugestivo ao êxito, esquecem-se de
que mantêm o sucesso apenas enquanto a <i>fortuna</i>
coincide com a maneira de agir que adotaram. Quando ela modifica as
circunstâncias, não modificando os homens seus modos de ação (o que parece não
ser fácil tendo em vista que tendem às repetições), tornam-se infortunados. Tal
como afirma Maquiavel, “variando a <i>fortuna</i>
e obstinando-se os homens em sua maneira de ser, eles serão felizes enquanto
ambas as coisas estiverem de acordo; mas, quando elas discordarem, serão
infelizes”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn63" name="_ftnref63" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[63]</span></span><!--[endif]--></span></a> A
<i>fortuna</i> é capaz de produzir este
desacordo entre os tempos e as ações dos homens e, quanto maior a distância que
ela insere entre uma coisa e outra, mais sujeitos à ruína se veem os homens. Tal
como sugere Aranovich, “a ação humana tem uma direção constante e busca a
estabilidade, a <i>Fortuna</i> é volúvel e
inconstante. (...) Essa incompatibilidade provoca a ruína dos que se deixam
levar por ela e daqueles que não lhe opõem obstáculos”<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn64" name="_ftnref64" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[64]</span></span><!--[endif]--></span></a>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 123.5pt; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 123.5pt; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Embora
tenhamos, neste primeiro momento, tentado mostrar os efeitos nocivos da <i>fortuna</i> sobre os homens (que certamente
implicam as maiores preocupações concernentes ao tema), temos que considerar
ainda dois pontos: 1) nem sempre eles recaem sobre os indivíduos, podendo
incidir diretamente sobre o corpo político; 2) nem sempre os efeitos da <i>fortuna</i> são nocivos<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn65" name="_ftnref65" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[65]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
No primeiro caso, a afirmação nos remete à divisão que, tal como vimos
anteriormente, nos foi apresentada pelos comentadores da obra de Maquiavel. De
acordo com ela, a <i>fortuna</i> incide, por
um lado, sobre o corpo político propriamente dito e, por outro, sobre os
indivíduos tomados como agentes no interior do corpo político. O vigésimo
quinto capítulo d’<i>O Príncipe</i>, intitulado “De quanto pode a <i>fortuna</i> nas coisas
humanas e de que modo se pode resistir-lhes”, nos indica esta divisão.
De fato, a forma como o capítulo foi escrito e a divisão que nele nos é
apresentada confirmam a possibilidade de distinção da atuação da <i>fortuna</i> em sua forma mais geral e em sua
forma particular. Logo após apresentar a metáfora do rio, Maquiavel afirma o
seguinte: “julgo ter dito o suficiente sobre como opor-se à <i>fortuna</i> de modo geral. Mas,
restringindo-me aos aspectos mais particulares, digo que se vê que um príncipe
tem sucesso e amanhã fracassa sem ter mudado sua natureza ou qualidade”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn66" name="_ftnref66" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[66]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Sugere ser também em função desta distinção que ele apresenta duas metáforas
para tratar da questão. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">A primeira delas
nos remete aos fenômenos da natureza e ilustra o que os comentadores da obra
identificaram como sentido geral ou universal da <i>fortuna</i>. Assim, a <i>fortuna</i> pode ser ilustrada pelas enchentes
(que especialmente no Arno tantos danos provocaram a Florença) e nada pode ser
feito quando ela mostra sua força. Mas muito pode ser feito para tentar
neutralizar ou minimizar sua força, tal como a construção de diques minimiza a
destruição de que uma enchente potencialmente é capaz. Nas palavras do autor,
“comparo a sorte a um desses rios impetuosos que, quando se irritam, alagam as
planícies, arrasam as árvores e as casas, arrasam as terras de um lado para
levar a outro: todos fogem deles, mas cedem ao seu ímpeto, sem poder detê-los
em parte alguma”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn67" name="_ftnref67" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[67]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Logo na <i>sequência</i> o autor parece
procurar evidenciar a possibilidade de uma resistência ordenada à força da <i>fortuna</i>. De acordo com ele, “mesmo
assim, nada impede que, voltando à calma, os homens tomem providência,
construam barreiras e diques, de modo que, quando a cheia se repetir, ou o rio
flua por um canal, ou sua força se torna menos livre e danosa.”<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn68" name="_ftnref68" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[68]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Para finalizar a apresentação da metáfora, Maquiavel se refere diretamente à <i>fortuna</i> e ao seu par conceitual <i>virtù</i> (que investigaremos mais adiante)
que parece oferecer aos homens possibilidades de resistência aos vitupérios da <i>fortuna</i>. Assim, “o mesmo acontece com a <i>fortuna</i>, que demonstra a sua força onde
não encontra uma <i>virtù</i> ordenada,
pronta para resistir-lhe e voltar o seu ímpeto para onde sabe que não foram
erguidos diques ou barreiras para contê-la”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn69" name="_ftnref69" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[69]</span></span><!--[endif]--></span></a>
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Este primeiro
sentido apresentado por Maquiavel e apontado por ele como mais “geral” nos
remete às possíveis modificações das circunstâncias que envolvem o corpo
político e que, <i>a priori</i>, não dizem
respeito diretamente ao governante. No entanto, se não lhe dizem respeito <i>a priori</i> poderão recair sobre ele, pois
ele terá que reagir aos efeitos da enchente e tentar evitar que os efeitos da <i>fortuna</i> no corpo político desencadeiem
efeitos secundários sobre seu governo. Não se pode dizer também que os efeitos
da <i>fortuna</i>, ao atuarem sobre um
determinado ator político, não desencadearão efeitos secundários sobre o corpo
político. Isto nos leva a crer que, apesar de haver uma separação clara entre o
geral e o particular e de a <i>fortuna</i>
os afetar de forma distinta, não é possível isolar estes âmbitos e pensá-los
isentos de interferência mútua. Ao contrário, são complementares, e talvez a
forma mais clara de perceber isto seja por meio das metáforas que os ilustram.<s><o:p></o:p></s></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">A segunda
metáfora apresentada por Maquiavel diz respeito à <i>fortuna</i> em particular, ou seja, quando ela afeta diretamente os
indivíduos. Nesta segunda metáfora, Maquiavel apresenta inicialmente alguns
casos em que determinados homens perderam o poder por não se adequarem às
variações dos tempos. Somente no final do capítulo ele nos oferece a metáfora: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">a <i>fortuna</i>
é mulher e é necessário para dominá-la bater-lhe e contrariá-la. Vê-se que ela
se deixa vencer mais pelos que agem assim do que pelos que agem friamente; e,
como mulher, é sempre amiga dos mais jovens, porque são menos prudentes, mais
ferozes e a dominam com maior audácia.</span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn70" name="_ftnref70" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: x-small;">[70]</span></span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Talvez a constatação mais imediata que a
passagem nos traz é que, ao pensar a <i>fortuna</i><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn71" name="_ftnref71" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[71]</span></span><!--[endif]--></span></a>
sob “seus aspectos mais particulares”, Maquiavel nos remete a uma força não
mais inexorável e, portanto, passível de dominação. Esta metáfora pode ser
vista como o ponto em que Maquiavel se distancia de fato da tradição humanista.
Bignotto, a este respeito, nos diz que “embora implique um certo saber a <i>virtù</i> não é, como queria Petrarca, o
resultado de uma boa preparação para a vida comum”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn72" name="_ftnref72" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[72]</span></span><!--[endif]--></span></a>
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Além disso,
devemos observar que, ao contrário do que nos indica a primeira metáfora, a
segunda parece estar isenta das discussões cosmológicas que vimos
anteriormente. Tal como afirma Parel, “a <i>fortuna</i>,
considerada desta forma, não tem nenhuma conotação cósmica ou divina”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn73" name="_ftnref73" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[73]</span></span><!--[endif]--></span></a><b>
</b>Independentemente desta distinção,
uma coincidência entre as metáforas e os sentidos da <i>fortuna</i> que nos são apresentados por meio delas nos indica a chave
de compreensão do termo pelo menos no que diz respeito ao príncipe novo. Assim,
se Maquiavel, ao apresentar a metáfora da enchente, sugere concluir
restringindo-a à <i>fortuna</i> em geral, ao
tratar da <i>fortuna</i>, no que ela diz
respeito aos particulares, não chega a uma conclusão muito diferente. Em outras
palavras, as duas metáforas nos conduzem a pensar que a força da <i>fortuna</i> pode ser pelo menos minimizada e
que a autonomia humana diante das circunstâncias da vida seria efetiva, embora
delimitada pela capacidade dos homens de resistir às modificações impostas pela
<i>fortuna</i>. E, mesmo naquilo em que diz
respeito ao modo como a <i>fortuna</i>, em
geral, afeta o corpo político, atentar para a construção de diques de maneira a
impedir que a fúria da <i>fortuna</i>
produza tantos estragos depende do ator político e constitui tarefa deste
tomado em sua particularidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><i><span style="line-height: 150%;"><br /></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><i><span style="line-height: 150%;">O
Príncipe</span></i><span style="line-height: 150%;">, no entanto, não encerra a questão da <i>fortuna</i>. Já mencionamos aqui o pequeno
texto de Maquiavel <i>Di Fortuna</i>, que
trazia uma perspectiva mais sombria da liberdade de ação dos homens sujeitos
aos vitupérios <i>das rodas</i> dos tempos. A
análise do poema apresentada por Aranovich é categórica quanto ao seu tom
determinista. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">“A
conclusão a que Maquiavel chega, ao final do
poema, é de que a Fortuna não proporciona a felicidade e de que é muito grande
a dificuldade para completar o ciclo: à elevação segue-se a ruína e desta não
se volta a encontrar elevação, mas sim a morte, que seria o destino dos que
foram aprisionados pela Fortuna”<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn74" name="_ftnref74" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[74]</span></span><!--[endif]--></span></a>. </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 123.5pt; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"> O poema, de fato, nos
remete à forma como os antigos a percebiam a <i>fortuna</i>. Ela era uma deusa boa, e os infortúnios resultavam em
grande medida de sua ausência. Em outras palavras, tal como a deusa romana, a <i>fortuna</i> pode configurar-se como aquela
que favorece os que estão perto dela. Sua ausência, neste sentido, propiciaria
os infortúnios. Certamente o poema faz uma alusão à deusa romana da <i>fortuna</i>, porém, a mudança sutil do
singular para o plural parece não ter sido feita de maneira fortuita. Bignotto,
a este respeito, afirma que “a escolha da imagem das várias rodas não foi feita
sem segundas intenções. Na tradição ocidental, o fato de apresentar a <i>fortuna</i> como o mestre de uma roda serviu
sempre para mostrar a inexorabilidade de suas decisões”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn75" name="_ftnref75" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[75]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Assim, ao multiplicar a figura da roda, Maquiavel parece ter lançado as
primeiras premissas para começar a se apartar deste fatalismo tradicionalmente
associado à ideia de <i>fortuna</i>.
Premissas estas que parecem ter se tornado fecundas n’<i>O</i> <i>Príncipe</i> e,<i> </i>tal como veremos, também nos <i>Discorsi</i>, que nos falta ainda
contemplar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Nestes últimos,
Maquiavel recupera a questão da <i>fortuna</i>
de forma peculiar. Ele inicia o primeiro capítulo do segundo livro dos <i>Discorsi</i> discordando de Plutarco e Tito
Lívio naquilo que diz respeito à grandeza de Roma ter sido fruto da <i>fortuna</i>. Este posicionamento assumido
pelo autor parece se tornar mais definitivo ao longo da obra e termina por
distanciá-lo, tal como veremos mais adiante, das definições clássicas assumidas
pelos humanistas. Precisamos, neste ponto, atentar para o fato de que a relação
que Maquiavel assume frente à tradição é, tal como vimos ao tratar da percepção
do <i>cosmos</i> em seu tempo, repleta de
nuances e, por vezes, demanda certa atenção. Tal como afirma Marie Gaille-Nikodimov a este
respeito,<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">o fato de já ter a noção de <i>fortuna</i> uma longa existência até Maquiavel retomá-la não tira a
importância do uso que ele faz dela e da difusão que ela ganha a partir de sua
obra. Nela a <i>fortuna</i> aparece
sobretudo como uma noção polissêmica. Suas múltiplas caracterizações nunca são
unificadas e, deste modo, a ideia de <i>fortuna</i>
permanece sempre misteriosa: ela não pode ser verdadeiramente conhecida e
dominada, nem na prática e nem na teoria.</span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn76" name="_ftnref76" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: x-small;">[76]</span></span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Esta dificuldade parece emergir à medida
que avançamos a leitura das páginas do autor. Uma passagem dos <i>Discorsi</i>,<i> </i>do capítulo intitulado “A <i>fortuna</i>
torna cego o ânimo dos homens, quando não quer que eles se oponham a seus
desígnios” parece exemplificá-la: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">e a <i>fortuna</i>,
quando quer realizar seus feitos, escolhe um homem que tenha tanto espírito e
tanta <i>virtù</i> que perceba as ocasiões
que ela lhe oferece. Assim também, quando quer provocar grandes ruínas, incumbe
homens que as facilitem. E se houver alguém que possa obstar-lhe, ela o mata ou
o priva de todas as faculdades de realizar algum bem.</span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn77" name="_ftnref77" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: x-small;">[77]</span></span></span><!--[endif]--></span></a>
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Muitas questões
podem ser pensadas a partir dessa passagem. O que nos salta aos olhos é a
retomada do fatalismo da <i>fortuna</i>
sobre os homens. Ilustra, mediante os efeitos do que ela é capaz, a força da <i>fortuna</i> em fúria por ter sido
contrariada. Além dele, nos conduz a refletir sobre os desígnios da <i>fortuna</i> que nem sempre tendem a se
efetivar nocivos aos homens. Em um primeiro momento, o autor sugere que ela
pode favorecê-los. Porém, favorecê-los enquanto suas ações contribuem aos seus
desígnios. Permanecemos em um cenário dominado pela inexorabilidade da <i>fortuna</i>. Por fim, nos faz pensar — e
aqui talvez tenhamos alguma possibilidade de compreender melhor as anteriores —
na relação que <i>fortuna</i> estabelece com
a <i>virtù</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Acreditamos que
o fatalismo desta passagem não implica uma retomada da concepção tradicional e
tais dificuldades demandam passos cautelosos. Percorrendo as páginas dos <i>Discorsi</i>, encontramos trechos mais
elucidativos. No terceiro livro, tal qual havia feito n’<i>O</i> <i>Príncipe</i>, o autor
retoma o tema da necessidade de se adaptarem as ações dos atores políticos às
variações dos tempos. O nono capítulo, “De como é preciso variar com os tempos
quem quiser sempre ter boa <i>fortuna</i>”,
parece retomar o mesmo tom que marcara as páginas d’<i>O</i> <i>Príncipe</i>. Nele
Maquiavel afirma que<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">já considerei várias vezes que a razão da má e da
boa <i>fortuna</i> dos homens vem do ajuste
de seu modo de proceder com os tempos: porque se percebe que alguns homens, em
suas ações, procedem com ímpeto, e outros com circunspeção e cautela. E como,
nestes dois modos, são ultrapassados os limites convenientes, por não se
observar a verdadeira via, em ambos se erra. Mas erra menos e tem a <i>fortuna</i> próspera quem, como já disse,
ajusta seu modo aos tempos e sempre procede conforme o força a natureza.</span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn78" name="_ftnref78" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: x-small;">[78]</span></span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Vimos uma
passagem semelhante n’<i>O</i> <i>Príncipe,</i> mais especificamente na
ocasião em que Maquiavel metaforicamente tomava a <i>fortuna</i> por mulher. A conclusão aqui não parece ser diferente da de
lá: sugere aos homens a possibilidade de se sobreporem de alguma forma à força
da <i>fortuna</i>. Isto seria possível em
grande medida pela adequação de suas ações, assim como pela audácia da
tentativa de sobrepujar aquilo que se considerava ter força inexorável. Já
sabemos das dificuldades de se efetivar esta adequação, assim como da tendência
dos homens em repetir suas ações. Porém, tal como afirma Bignotto, <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">para pensarmos a ação política é preciso não
creditar à <i>fortuna</i> mais do que ela
pode efetivamente fazer. Se reconhecemos que a ação humana é criadora de nossas
realidades, é preciso seguir até o fim dessa determinação e chegar à conclusão
de que todo problema reside na <i>virtù</i>,
e não na <i>fortuna</i>, que aparece no
curso de nossos atos apenas como uma força de oposição, como um obstáculo a ser
transposto.</span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn79" name="_ftnref79" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: x-small;">[79]</span></span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">A <i>fortuna</i> pode favorecer ou prejudicar corpo
políticos ou indivíduos. Não é ela, no entanto, que necessariamente determina a
conclusão do desenrolar da história. Este papel pode ser incorporado pela <i>virtù</i> que se lhe impõe. Esta perspectiva
parece constituir a conclusão a que Maquiavel nos conduz tanto n’<i>O</i> <i>Príncipe</i>
quanto nos <i>Discorsi</i>. E, se no
primeiro acreditávamos que o autor considerava como ponto de partida a
inexorabilidade da <i>fortuna</i> no intuito
de dialogar ou mesmo seduzir seus interlocutores, no segundo acreditamos que a <i>fortuna</i> pode ser pensada como inexorável
não por ser efetivamente fatal, mas por ser sua inexorabilidade inversamente
proporcional à <i>virtù</i> dos homens.
Assim, se a <i>virtù<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn80" name="_ftnref80" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="line-height: 115%;">[80]</span></b></span><!--[endif]--></span></a></i>
é a chave que nos falta para a compreensão da questão da <i>fortuna<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn81" name="_ftnref81" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="line-height: 115%;">[81]</span></b></span><!--[endif]--></span></a></i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Enquanto
a maioria de seus contemporâneos considerava que o homem não tem absolutamente
nenhuma chance de se sobrepor à <i>fortuna</i>,
Maquiavel rompe com esta perspectiva determinista e insiste em propor meios em
que se proteger da <i>fortuna</i>
configura-se viável. Assim, metade cabe à <i>fortuna</i>
e, nesta metade, não nos cabe interferência. É a “roda dos tempos”, implacável,
tal como a “força das águas durante uma grande enchente”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn82" name="_ftnref82" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[82]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Sobre essa parte conselhos não seriam cabíveis. No entanto, se os homens
assumem a responsabilidade sobre quase metade das coisas que lhes dizem
respeito, há ainda muito a ser controlado. Podemos pensar, neste sentido, que
Maquiavel percebe, e alerta seus leitores, que há duas opções. A primeira seria
deixar de lado essa questão, uma vez que a roda dos tempos é, por definição,
desgovernada e implacável. Assim, nenhum esforço sobre o “controle do incontrolável”
traria êxito e, tomando como parâmetro esta primeira opção, não haveria o que
fazer a não ser se entregar de bom grado à fúria do “destino”. Já a segunda
opção seria tentar atrair os favores da <i>fortuna</i>,
fazer com que a deusa não resista a determinados caprichos. Nesse sentido,
atrair os privilégios que poderiam ser recebidos da <i>fortuna</i> acabaria por exigir um modo de proceder. Por isso, esse
tema é de grande importância para Maquiavel, atrair a bondade da deusa exige um
determinado modo segundo o qual se deve proceder, ou seja, pode-se então tecer
conselhos a um governante que tenha pretensões em relação aos bens dos quais
dispõe a <i>fortuna</i>. Se, no que diz
respeito à primeira, não se pode fazer nada, no caso da segunda, ao contrário,
há muito que se pensar. Tal como afirmam D’Istria e Relang, “a vida de um
homem, assim como de um Estado, é esta necessidade ingrata e sem cessar urgente
que consiste, estando ela mesma no tempo, em afrontar as circunstâncias que os
tempos nos depositam nos braços”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn83" name="_ftnref83" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[83]</span></span><!--[endif]--></span></a><b> </b>Afrontar as circunstâncias pode ser
pensado também como agir de acordo com elas, superá-las. Muitas passagens do
texto de Maquiavel chamam nossa atenção para a necessidade de se adequar às
circunstâncias. No Livro III dos <i>Discorsi</i>,
por exemplo, Maquiavel faz a seguinte afirmação: “já considerei várias vezes
que a razão da má e boa <i>fortuna</i> dos
homens vem do ajuste do seu modo de proceder com os tempos. (...) Erra menos e
tem a <i>fortuna</i> próspera quem, como já
disse, ajusta seu modo aos tempos (...)”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn84" name="_ftnref84" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[84]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Agir de acordo com o seu tempo, ou ainda, agir de acordo com as circunstâncias
de seu tempo seria a expressão máxima da <i>virtù</i>
e, no entanto, é também o que se deve fazer para tentar atrair os gracejos da <i>fortuna</i>. Parece que agora Maquiavel
torna mais clara essa relação entre <i>virtù</i>
e <i>fortuna<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn85" name="_ftnref85" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="line-height: 115%;">[85]</span></b></span><!--[endif]--></span></a></i>.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">No
entanto, de acordo com o autor, naquilo que diz respeito àqueles que detêm o
poder, há vários modos de agir capazes de conduzir o governante aos seus
objetivos. Modos às vezes contrários podem atingir o mesmo resultado, bastando
para isso que estejam de acordo com os tempos. Mas dois governantes podem agir
da mesma maneira e um deles fracassar enquanto o outro conquista seu objetivo.
Para Maquiavel, a explicação é simples: um agiu de acordo com as variações dos
tempos, enquanto o outro não soube lhes dar a atenção devida. Tal fato, para o
pensador de Florença, “não acontece por outra razão senão pela natureza dos
tempos, com a qual se conformam ou não aos procedimentos deles”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn86" name="_ftnref86" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[86]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Na sequência do texto, o autor afirma que<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">dois agindo
diferentemente alcançam o mesmo efeito, e dois agindo igualmente, um vai direto
ao fim e o outro não. Disso dependem também as diferenças da prosperidade, pois
se um se conduz com cautela e paciência e os tempos e as coisas lhe são
favoráveis, o seu governo prospera e disso lhe advém felicidade. Mas se os
tempos e as coisas mudam, ele se arruína, porque não alterou o modo de
proceder. (...) Se mudasse de natureza, conforme o tempo e as coisas, não
mudaria de <i>fortuna</i>.</span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn87" name="_ftnref87" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-size: x-small;">[87]</span></span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Os
<i>Discorsi</i> guardam passagens tão
esclarecedoras quanto as d’<i>O</i> <i>Príncipe</i>. Neles Maquiavel conclui que
justamente “por isso a <i>fortuna</i> dos
homens varia: ela altera os tempos, mas nem todos modificam sua conduta”.<a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftn88" name="_ftnref88" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[88]</span></span><!--[endif]--></span></a>
E, poderíamos dizer que “mudar”, “modificar um determinado modo de agir”, é de
grande dificuldade. Não se pode, no entanto, atribuir a <i>fortuna</i> uma força maior do que ela tem. E, se de fato esta força
descomunal lhe é atribuída, deve-se à dificuldade humana de “mudar”. Mas esta é
uma dificuldade humana e não propriamente uma das características da força da <i>fortuna</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">* * *<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Precisamos
admitir que, apesar da força da <i>fortuna</i>
e de sua capacidade de alterar as circunstâncias, é dos homens ou dos Estados a
responsabilidade de obtenção do êxito ou de sucumbirem diante das variações dos
tempos. Tal como procuramos mostrar aqui esta não é conclusão definitiva em seu
tempo. A <i>fortuna</i> era tomada como a
grande responsável pelo êxito ou fracasso. Maquiavel parece inverter essa
lógica conferindo à ideia de <i>virtù</i> a
capacidade de ‘atrair a <i>fortuna</i> e de
dominá-la’. Tendo em vista melhor compreender os liames desta inversão, assim
como a continuidade e descontinuidade do pensamento de Maquiavel com seu tempo,
procuramos apresentar, por meio dos trabalhos de alguns autores que
desenvolveram estudos em torno desta questão, interpretações que se tornaram
clássicas ao longo da história. Partimos assim do trabalho de autores que se
detiveram sobre o termo e seus usos, especialmente os trabalhos que se
detiveram no período que antecede a obra de Maquiavel. Nesta primeira parte
nosso objetivo era apenas reconstruir as hipóteses interpretativas do termo em
questão, mostrando os aspectos convergentes com a tradição e também aqueles que
a transgrediram. As especificidades e as “novidades” da <i>fortuna</i>, tal como apresentada por Maquiavel, foram assim
apresentadas por oposição à tradição. Por isso nos detivemos longamente nas
análises de historiadores e comentadores da obra de Maquiavel que procuraram
analisar o contexto de sua obra. É exatamente esta relação que Maquiavel
estabelece com a tradição que possibilita mostrar que quanto mais se pensava a
força da <i>fortuna</i> como inexorável,
menor era o papel e a responsabilidade do homem, assim como do próprio
governante, sobre as ações humanas no terreno da política. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Procuramos
analisar os dois sentidos centrais que o termo <i>fortuna</i> assume na obra de Maquiavel, ambos apresentados por
metáforas, a saber, a metáfora do rio e a da mulher. Neste ponto foi possível
observar que certa tensão que parece acompanhar os comentários tecidos a partir
das metáforas apresentadas por Maquiavel. A <i>fortuna</i>
seria em Maquiavel uma força tão inexorável quando era para os autores
clássicos que o antecedem? A roda da <i>fortuna</i>,
também para Maquiavel, gira de modo a produzir inconstâncias sem possibilidade
de superação? Não nos alinhamos a esta hipótese interpretativa. Para tentar
esclarecê-la recuperamos textos que nos ajudaram a compreender melhor o
contexto em que Maquiavel escrevera sobre a questão da <i>fortuna. </i>E, a partir desta melhor compreensão deste momento em que
havia certa tensão no uso deste termo, as afirmações de Maquiavel, que procuramos
analisar mais tardiamente, puderam ser tomadas de modo mais definitivo e é
justamente esta a pretensão deste trabalho, romper com a perspectiva de que a <i>fortuna</i> se configura como uma força absolutamente
inexorável. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">O
terreno da política é, sem dúvida, o da contingência. Portanto, não se pode
prever o futuro, não se pode ignorar as reviravoltas que a <i>fortuna</i> é capaz de introduzir a qualquer momento. Mas é possível ao
ator político se impor aos seus reveses pela ação de <i>virtù</i>. Tanto a metáfora do rio quanto a da mulher, ambas analisadas
na segunda parte deste trabalho, nos conduziram a esta conclusão. Nestas
metáforas é possível perceber o esforço de Maquiavel para mostrar a
possibilidade da ação humana como efetivamente autônoma. A ação do homem é
capaz de imprimir sua marca no terreno na contingência. Deste modo, o ator
político não precisa ser uma vítima da contingência, mas um ator autônomo: que
edifica diques e barragens para impedir que a força das contingências próprias
da vida pública o destrua, e destrua a organização política na qual ele se
insere. Além disso, para Maquiavel, agir de acordo com as circunstâncias é o
agir caracterizado pela <i>virtù</i> e, esse
agir, independentemente de que direção segue, tem uma chance maior de ser
acompanhado, ou mesmo amparado pela <i>fortuna</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;">Referências
Bibliográficas<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">ARANOVICH, P. F. <i>Di Fortuna e a Fortuna em Maquiavel</i>. “Cadernos de Filosofia
Política”, 18, 1/2011, pp. 221-230.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">BARTHES, R. <i>A Aventura Semiótica</i>. Tradução de Mario Laranjeira. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">BIGNOTTO, N. <i>Maquiavel</i>. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">BIGNOTTO, N. <i>Maquiavel Republicano</i>. São Paulo: Loyola, 1991.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">CARDOSO, S. “Que República? Notas sobre
a tradição do governo ‘misto’”. <span lang="IT">In: BIGNOTTO,
Newton (Org.). <i>Pensar a República</i>. Belo Horizonte: Ed. </span><span lang="FR">UFMG, 2000.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="FR"><span style="font-family: inherit;">CASSIRER, E. <i>Individu et cosmos dans la philosophie de la Renaissance</i>. Tradução. de
P. Quillet. Paris: Éditions de Minuit, 1983.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="FR"><span style="font-family: inherit;">COLONNA d’ISTRIA, G; FRAPET, R. <i>L’Art
Politique chez Machiavel</i>. Paris: J. Vrin, 1980.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="EN-US">DEANE, H, <i>The Political and Social
Ideas of St. Augustine</i>. </span><span lang="FR">New York: Columbia
Univresity, 1963.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="FR"><span style="font-family: inherit;">FARAKLAS, G. <i>Machiavel: Le Pouvoir du
Prince</i>. Paris: Presses Universitaires de France, 1997.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="FR"><span style="font-family: inherit;">GAILLE-NIKODIMOV, M. Machiavel, penseur de l’action politique. In: GAILLE-NIKODIMOV,
M; MÉNISSIER, T. <i>Lectures de Machiavel</i>. Paris: Ellipses, 2006.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="FR"><span style="font-family: inherit;">GARIN, E. <i>Le Zodiaque de la Vie</i>: <i>Polemiques Antiastrologiques a la Renaissance</i>.
Traduit de l’italien par Jeannie Carlier. Paris: Les Belles Lettres, 1991.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="FR"><span style="font-family: inherit;">ION, C. « Conquérir, Fonder,
se mantenir . In: GAILLE-NIKODIMOV, Marie; MÉNISSIER, Thierry. <i>Lectures de Machiavel</i>. Paris: Ellipses, 2006.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="FR"><span style="font-family: inherit;">LEFORT, C. <i>Le Travail de l’oeuvre</i>:
Machiavel. Paris: Gallimard, 1972.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="FR">MANENT, P. <i>Naissances de la Politique
Moderne: </i>Machiavel, Hobbes, Rousseau. </span><span lang="EN-US">Paris: Gallimard, 2007.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US"><span style="font-family: inherit;">MANSFIELD, H. C. <i>Machiavelli's
Virtue</i>. Chicago; London: The University of Chicago Press, 1996.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="EN-US">MARKUS, R. A. <i>Saeculum</i>: <i>History and Society in Theology of St.
Augustine</i>. </span><span lang="FR">Cambridge: Cambridge University Press, 1970. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="FR">MÉNISSIER, T. <i>Le Vocabulaire de
Machiavel</i>. </span><span lang="IT">Paris: Ellipses, 2002.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="IT">MACHIAVELLI, <i>Opere</i>. </span><span lang="ES-TRAD">A cura di
Conrado Vivanti.</span><span lang="ES-TRAD"> </span>Torino: Einaudi-Gallimard, 1997.
3v.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="ES-TRAD">MAQUIAVEL</span>.
<i>O Príncipe</i>. São Paulo: Martins
Fontes, 2004.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="ES-TRAD">MAQUIAVEL. <i>Discursos a Primeira
Década de Tito Lívio</i>. </span>São Paulo: Martins Fontes, 2007.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="ES-TRAD">MAQUIAVEL</span>.
<i>História de Florença</i>. São Paulo:
Martins Fontes, 2007.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">PANCERA, C. G. K. <i>Maquiavel entre
Repúblicas</i>. <span lang="EN-US">Belo Horizonte: Ed. UFMG,
2010. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="EN-US">PAREL, A. J. <i>The Machiavellian Cosmos</i>. New Haven; London: Yale
University Press, 1992.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US"><span style="font-family: inherit;">PITKIN, H. F. <i>Fortune is a Woman</i>:
<i>Gender & Politics in the Thought of
Niccolò Machiavelli</i>. Chicago; London: The University of Chicago Press,
1999.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="EN-US">POCOCK, J.G. A. <i>The Machiavellian
Moment</i>. </span><span lang="FR">Princeton: Princeton University Press, 1975.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="FR"><span style="font-family: inherit;">POLYBE, <i>Histoires, Livre VI</i>.
Paris : Les Belles Lettres, 2003.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="EN-US">PRICE, R. “The Senses of virtù in Machiavelli”. </span><span lang="FR">European Studies Review, 3, p. 315-345, 1973.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="FR"><span style="font-family: inherit;">RÉLANG, A. « La Dialectique de La fortuna et de La virtù chez
Machiavel ». Archives de Philosophie, v. 66, p. 649-662, 2003/3.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="FR"><span style="font-family: inherit;">SFEZ, G. <i>Machiavel, la politique du
moindre mal</i>. Paris: Presses Universitaires de France, 1999.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US"><span style="font-family: inherit;">SKINNER, Q. <i>Visions of Politics.</i> <i>Renaissance Virtues.</i>
Cambridge: Cambridge University Press, 2002. v. 2.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US"><span style="font-family: inherit;">STRAUSS, L. <i>Thoughts on
Machiavelli</i>. Chicago; London: University of Chicago Press, 1958.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="IT">TARANTO, D. <i>Le Virtù della Politica</i>: <i>Civismo tra Machiavelli e gli Antichi</i>. </span><span lang="FR">Napoli: Bibliopolis, 2003. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="FR">VAROTTI, C. « Une écriture fondée sur
l'experience ». Tradução do italiano por Marie Gaille-Nikodimov. In: </span><span lang="FR">GAILLE-NIKODIMOV, M; MÉNISSIER, T. <i>Lectures de
Machiavel</i>. Paris: Ellipses, 2006.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span lang="FR"><span style="font-family: inherit;">ZARKA, Y C. <i>Figures Du Pouvoir</i>.
Études de Philosophie Politique de Machiavel à Foucault. Paris: Presses
Universitaires de France, 2001a.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="FR">ZARKA, Yves Charles; MÉNISSIER,
Thierry.<i>
Machiavel, Le Prince ou le nouvel art politique</i>. Paris: PUF, 2001.</span><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<!--[if !supportFootnotes]--><br />
<hr size="1" style="text-align: left;" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">*Texto originalmente publicado pela </span><span style="background-color: white; color: #444444; font-size: 15px; line-height: 21.2999992370605px;"><span style="font-family: inherit;">Revista Veritas (QUALIS A em Filosofia)</span></span><span style="font-size: x-small;">, revista de filosofia e ciência da PUCRS. </span><span style="font-size: x-small;">V. 59, n. 1, jan.-abr. 2014</span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref1" title="">[1]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref1" title=""><!--[endif]--></a></span> <span lang="EN-US">FLANAGAN. The History of the Goddess Fortuna<i>. In: </i>PAREL, Anthony. <i>The
Political Calculus: Essays on Machiavelli’s Philosophy</i>, p. 128.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn2">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref2" title="">[2]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref2" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US">
Cf. FLANAGAN. The History of the Goddess Fortuna<i>. In: </i>PAREL, Anthony. <i>The
Political Calculus: Essays on Machiavelli’s Philosophy</i>, p. 127.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref3" title="">[3]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref3" title=""><!--[endif]--></a></span> Esta acepção,
segundo o autor, apresenta similaridades ao termo grego equivalente, ‘<i>tyche</i>’. <span lang="EN-US">Cf. FLANAGAN, Thomas. The History of the Goddess Fortuna<i>. In: </i>PAREL, Anthony. <i>The Political Calculus: Essays on Machiavelli’s
Philosophy</i>, p. 129-130.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn4">
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref4" title="">[4]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref4" title=""><!--[endif]--></a></span> <span lang="EN-US">Cf. FLANAGAN. The History of the Goddess Fortuna<i>. In: </i>PAREL, Anthony. <i>The Political Calculus: Essays on
Machiavelli’s Philosophy</i>, p. 133-134.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn5">
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref5" title="">[5]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref5" title=""><!--[endif]--></a></span> <span lang="EN-US">FLANAGAN. The History of the Goddess Fortuna<i>. In: </i>PAREL, Anthony. <i>The Political Calculus: Essays on
Machiavelli’s Philosophy</i>, p. 133.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn6">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref6" title="">[6]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref6" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US">
FLANAGAN. The History of the Goddess Fortuna<i>.
In: </i>PAREL, Anthony. <i>The Political
Calculus: Essays on Machiavelli’s Philosophy</i>, p. 133.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn7">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref7" title="">[7]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref7" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US">
FLANAGAN. The History of the Goddess Fortuna<i>.
In: </i>PAREL, Anthony. <i>The Political
Calculus: Essays on Machiavelli’s Philosophy</i>, p. 134.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn8">
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref8" title="">[8]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref8" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US"> PITKIN. <i>Fortune
is a Woman</i>: <i>Gender & Politics in
the Thought of Niccolò Machiavelli</i>, p. 138.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div id="ftn9">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref9" name="_ftn9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></a> Não trataremos da influência da
obra de Políbio sobre a obra de Maquiavel neste trabalho. Apontamos o assunto
apenas enquanto ele diz respeito diretamente à origem do termo <i>fortuna</i> e às formas de utilização dele. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn10">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref10" title="">[10]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref10" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
COLONNA D’ISTRIA; FRAPET. <i>L’Art Politique
chez Machiavel</i>, p.181. </span>De
acordo com os autores “a Fortuna dirige as coisas humanas” (ver p. 181).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn11">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref11" title=""><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">[</span></span></a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref11" name="_ftn11" style="font-family: inherit; font-size: small;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;">11]</span></span></span></a><span lang="FR" style="font-family: inherit; font-size: x-small;">
COLONNA D’ISTRIA; FRAPET. <i>L’Art Politique
chez Machiavel</i>, p. 181.</span></div>
</div>
<div id="ftn12">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref12" title="">[12]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref12" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
RÉLANG. <st1:personname productid="La Dialectique" w:st="on">La Dialectique</st1:personname>
de la fortuna et de la virtù chez Machiavel, p. 650.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn13">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref13" title="">[13]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref13" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
RÉLANG. <st1:personname productid="La Dialectique" w:st="on">La Dialectique</st1:personname>
de la fortuna et de la virtù chez Machiavel, p. 650.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn14">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref14" title="">[14]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref14" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
RÉLANG. <st1:personname productid="La Dialectique" w:st="on">La Dialectique</st1:personname>
de la fortuna et de la virtù chez Machiavel, p. 650.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn15">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref15" title="">[15]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref15" title=""><!--[endif]--></a></span> <span lang="FR">Cf. COLONNA D’ISTRIA; FRAPET. <i>L’Art
Politique chez Machiavel</i>, p. 207.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn16">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref16" title="">[16]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref16" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
COLONNA D’ISTRIA; FRAPET. <i>L’Art Politique
chez Machiavel</i>, p. 207.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn17">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref17" title="">[17]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref17" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
COLONNA D’ISTRIA; FRAPET. <i>L’Art Politique
chez Machiavel</i>, p. 179.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn18">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref18" title="">[18]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref18" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
GARIN. <i>Le Zodiaque de <st1:personname productid="la Vie" w:st="on">la Vie</st1:personname>:
polémiques antiastrologiques à la renaissance</i>, p. 19.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn19">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref19" title="">[19]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref19" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
COLONNA D’ISTRIA; FRAPET. <i>L’Art Politique
chez Machiavel</i>, p. 207.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn20">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref20" title="">[20]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref20" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR"> Ver
CASSIRER. <i>Individu et Cosmos</i>: dans <st1:personname productid="la Philosophie" w:st="on">la Philosophie</st1:personname> de <st1:personname productid="la Renaissance." w:st="on">la Renaissance.</st1:personname><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn21">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref21" title="">[21]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref21" title=""><!--[endif]--></a></span> Neste sentido, um caso
interessante e muito conhecido um pouco posterior a Maquiavel, mas que nos
auxilia a </span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">compreender melhor estas modificações no modo de o homem compreender
sua inserção no universo, é o de Galileu.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn22">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref22" title="">[22]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref22" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
SFEZ. <i>Machiavel, la politique du moindre
mal</i>, p. 23.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn23">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref23" title="">[23]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref23" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
SFEZ. <i>Machiavel, la politique du moindre
mal</i>, p. 23.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn24">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref24" title="">[24]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref24" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
SFEZ. <i>Machiavel, la politique du moindre
mal</i>, p. 23.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn25">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref25" title="">[25]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref25" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
SFEZ. <i>Machiavel, la politique du moindre
mal</i>, p. 24.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn26">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref26" title="">[26]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref26" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
SFEZ. <i>Machiavel, la politique du moindre
mal</i>, p. 24.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn27">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref27" title="">[27]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref27" title=""><!--[endif]--></a></span> Ver a este respeito, COLONNA
D’ISTRIA; FRAPET. <i><span lang="FR">L’Art
Politique chez Machiavel</span></i><span lang="FR">, p. 193.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn28">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref28" title="">[28]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref28" title=""><!--[endif]--></a></span> Segundo Parel, muitos dos
comentadores da obra de Maquiavel constataram a existência do tema da
astrologia nos textos deste autor (ele cita diretamente Ernst Cassirer, Hans
Baron, Leo-Strauss, Eugenio Garin, que segundo Parel foi mais longe que os
outros, e Gennaro Sasso). Mas, segundo ele, seu <i>The Machiavelian Cosmos</i> não tem por objetivo simplesmente constatar
esta existência (que considera incontestável). Objetiva investigar, em suas
palavras, “sua extensão e seu significado” (PAREL. <i>The Machiavelian Cosmos</i>, p. 6).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn29">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref29" title="">[29]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref29" title=""><!--[endif]--></a></span> Vale lembra que Parel inicia <i>The
Machiavellian Cosmos </i>criticando Burkhardt pela sua pouca atenção ao tema,
assim como por “não ver nada positivo na astrologia” (PAREL. <i><span lang="EN-US">The Machiavelian Cosmos</span></i><span lang="EN-US">, p. 2). <o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn30">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref30" title="">[30]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref30" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US">
Ver capítulo 1: The Astrological Debate. In: PAREL. <i>The Machiavelian Cosmos</i>, p. 11-25.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn31">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref31" title="">[31]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref31" title=""><!--[endif]--></a></span> De acordo com Parel, “algumas
das ideias de Ptolomeu são particularmente relevantes para a proposta que temos
<st1:personname productid="em m ̄os. Na" w:st="on">em mãos. Na</st1:personname>
primeira parte da tese ele divide a astrologia em duas partes maiores: a geral,
ou católica, e a particular, ou genética. A primeira compreende as fortunas e <i>ethos</i> dos Estados, enquanto a segunda
compreende os temperamentos e fortunas dos indivíduos. A influência desta
divisão entre astrologia geral e particular pode, penso eu, ser detectada no
tratamento mais famoso que Maquiavel dá à fortuna no capítulo XXV do <i>Príncipe</i>” (PAREL. <i><span lang="EN-US">The Machiavellian Cosmos</span></i><span lang="EN-US">, p. 12).
<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn32">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref32" title="">[32]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref32" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US">
PAREL. <i>The Machiavelian Cosmos</i>, p.
23.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn33">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref33" title="">[33]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref33" title=""><!--[endif]--></a></span> <span lang="EN-US">Cf. PAREL. <i>The Machiavelian
Cosmos</i>, p. 63.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn34">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref34" title="">[34]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref34" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US">
PAREL. <i>The Machiavelian Cosmos</i>, p.
63.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn35">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref35" title="">[35]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref35" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US">
PAREL. <i>The Machiavelian Cosmos</i>, p.
65-66.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn36">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref36" title="">[36]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref36" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
PAREL.<i> </i>Ptolomé et le Chapitre 25 du
Prince. In: SFEZ; SENELLART. <i>L’Enjeu
Machiavel</i>, p. 25.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn37">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref37" title="">[37]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref37" title=""><!--[endif]--></a></span> <span lang="EN-US">Cf. PAREL. <i>The Machiavelian
Cosmos</i>, p. 74.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn38">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref38" title="">[38]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref38" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US">
PAREL. <i>The Machiavelian Cosmos</i>, p.
76.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn39">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref39" title="">[39]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref39" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US">
PAREL. <i>The Machiavelian Cosmos</i>, p.
76.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn40">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref40" title="">[40]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref40" title=""><!--[endif]--></a></span> Referimos-nos aqui a uma
designação própria do vocabulário do estudo da arte retórica. De acordo com o
que afirma Roland Barthes “o
entimema recebeu duas significações sucessivas (que não são contraditórias). 1.
Para os aristotélicos, é um silogismo fundamentado em verossimilhanças ou em
sinais, e não sobre algo de verdadeiro ou de imediato (como é o caso do
silogismo científico); o entimema é um silogismo retórico, desenvolvido
unicamente <i>no nível do público</i> (como
se diz: colocar-se no lugar de alguém), a partir do <i>provável</i>, isto é, a partir daquilo que o público pensa; é uma
dedução cujo valor é concreto, colocado em vista de uma <i>apresentação</i> (é uma espécie de espetáculo aceitável), por oposição
à dedução abstrata, feita unicamente pela análise: é um arrazoado público,
manipulado facilmente por homens incultos. Em virtude desta origem, o entimema
obtém a persuasão, não a demonstração (...). 2. Desde Quintiliano e com total
triunfo na Idade Média (desde Boécio), uma nova definição prevalece: o entimema
é definido não pelo conteúdo de suas premissas, mas pelo caráter elíptico de
sua articulação: é um silogismo incompleto, um silogismo encurtado: ‘não tem
tantas partes nem partes tão distintas quanto o silogismo filosófico’: pode-se
suprimir uma das premissas ou a conclusão: é então um silogismo truncado pela
supressão (no enunciado) de uma proposição cuja realidade aparece aos homens
incontestável e que é, por esta razão, simplesmente ‘retida na mente’ (<i>en thumô</i>)”. (BARTHES. <i>A
aventura semiológica</i>, p. 57-58).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn41">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref41" title="">[41]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref41" title=""><!--[endif]--></a></span> Sabemos que este é um assunto
controvertido entre os comentadores do pensamento de Maquiavel. Discuti-lo nos
desviaria do nosso problema central. Em função disto, optamos por mencioná-lo
apenas, sem deixar de assumir um posicionamento em relação ao tema. Acreditamos
que o autor objetivava efetivamente mitigar a inovação que introduzia para
facilitar a plausibilidade e, portanto, a aceitação de sua proposta.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn42">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref42" title="">[42]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref42" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US">
PAREL. <i>The Machiavelian Cosmos</i>, p.
77.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn43">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref43" title="">[43]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref43" title=""><!--[endif]--></a></span> ARANOVICH, P. F. <i>Di Fortuna e a Fortuna em Maquiavel</i>. “Cadernos
de Filosofia Política”, p. 222.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn44">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref44" title="">[44]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref44" title=""><!--[endif]--></a></span> ARANOVICH, P. F. <i>Di Fortuna e a Fortuna em Maquiavel</i>.
“Cadernos de Filosofia Política”, p. 223.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn45">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref45" title="">[45]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref45" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US">
PAREL. <i>The Machiavelian Cosmos</i>, p.
74.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn46">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref46" title="">[46]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref46" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="EN-US">
Ver PAREL. <i>The Machiavelian Cosmos</i>,
p. 77.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn47">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref47" title="">[47]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref47" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR"> Ver
FARAKLAS. <i>Machiavel</i>: <i>Le Pouvoir du Prince</i>, p. 50-88.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn48">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref48" title="">[48]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref48" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
FARAKLAS. <i>Machiavel</i>: <i>Le Pouvoir du Prince</i>, p. 52.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn49">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref49" title="">[49]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref49" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
FARAKLAS. <i>Machiavel</i>: <i>Le Pouvoir du Prince</i>, p. 52.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn50">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref50" title="">[50]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref50" title=""><!--[endif]--></a></span> Vale lembrar que a comparação e
a possível influência dos textos de Políbio sobre os de Maquiavel apresentada
pelos autores parece não ter o objetivo de evidenciar apenas as coincidências
entre o pensamento dos dois, mas também os pontos em que suas obras não são
coincidentes. Ao invés disso, os autores chegam a afirmar que “através da
comparação com Políbio foi esclarecida a originalidade do conceito de <i>Fortuna</i> em Maquiavel” (COLONNA D’ISTRIA;
FRAPET. <i><span lang="FR">L’Art
Politique chez Machiavel</span></i><span lang="FR">, p. 193).<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn51">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref51" title="">[51]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref51" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR"> Ver
COLONNA D’ISTRIA; FRAPET. <i>L’Art Politique
chez Machiavel</i>, p. 179-193.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn52">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref52" title="">[52]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref52" title=""><!--[endif]--></a></span> Assumimos aqui parte da tese de
Pocock que vislumbra a urgência enunciada na obra <i>O</i> <i>Príncipe</i> e que, segundo
o comentador, se fundamenta pelo objetivo de pensar as possibilidades do
príncipe novo. Este último, ainda segundo o autor, carece de legitimidade e, em
função disso, ficaria mais vulnerável à <i>fortuna
</i>(Ver POCOCK. <i>The Machiavellian Moment</i>,
p. 158-159). Este seria um dos motivos que tornam o assunto tão relevante e
peculiar na obra<i> O</i> <i>Príncipe</i>.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn53">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref53" title="">[53]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref53" title=""><!--[endif]--></a></span> PANCERA. <i>Maquiavel entre Repúblicas</i>, p. 13.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn54">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref54" title="">[54]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref54" title=""><!--[endif]--></a></span> BIGNOTTO. <i>Maquiavel</i>, p. 26.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn55">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref55" title="">[55]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref55" title=""><!--[endif]--></a></span> Precisamos considerar que o
período do Renascimento é marcado por mudanças significativas que se
inter-relacionam, de modo que apontar uma única mudança na estrutura de
pensamento da época implica a omissão de outras. Cientes deste risco e ao mesmo
tempo cientes da necessidade de não nos desviarmos de nossa questão central,
podemos dizer que, de modo geral, a modificação da estrutura cosmológica
(embora não somente ela) afetou diretamente a percepção do lugar do homem no
mundo. Nesse sentido, perceber a questão da <i>fortuna</i>
em função de uma maior liberdade dos homens não é exatamente uma novidade no
pensamento de Maquiavel. Veremos mais adiante as peculiaridades do tratamento
da questão no pensamento do autor e sabemos da importância do seu legado.
Queremos apontar apenas que uma modificação de tamanha envergadura só foi
possível em função de uma conjunção de fatores, não se tratando assim de uma
questão pontual.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn56">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref56" title="">[56]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref56" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
BIGNOTTO. <i>Maquiavel Republicano</i>, p.
32.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn57">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref57" title="">[57]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref57" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
BIGNOTTO. </span><i>Maquiavel Republicano</i>, p. 32.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn58">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref58" title="">[58]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref58" title=""><!--[endif]--></a></span> Ver BIGNOTTO. <i><span lang="IT">Maquiavel</span></i><span lang="IT"> <i>Republicano</i>, p. 32-38.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn59">
<div class="MsoFootnoteText" style="tab-stops: 36.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="tab-stops: 36.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref59" title="">[59]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref59" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
BIGNOTTO. <i>Maquiavel</i> <i>Republicano,</i> p. 33.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn60">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref60" title="">[60]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref60" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
BIGNOTTO. <i>Maquiavel</i>, p. 27.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn61">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref61" title="">[61]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref61" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
BIGNOTTO. <i>Maquiavel</i>, p. 27.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn62">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref62" title="">[62]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref62" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
BIGNOTTO. <i>Maquiavel</i>, p. 26.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn63">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref63" title="">[63]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref63" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
MACHIAVELLI. <i>Il Principe</i>, XXV, p.
189: <i>Concluo adunque che, variando la
fortuna e’ tempi e stando li uomini ne’ loro modi ostinati, sono felici mentre
concordano insieme e, come e’ discordano, infelici.</i><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn64">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref64" title="">[64]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref64" title=""><!--[endif]--></a></span> ARANOVICH, P. F. <i>Di Fortuna e a Fortuna em Maquiavel</i>.
“Cadernos de Filosofia Política”, p. 221-222.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn65">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref65" title="">[65]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref65" title=""><!--[endif]--></a></span> Aranovich, ao analisa o poema <i>Di Fortuna</i>, mais especificamente ao se
debruçar sobre as afirmações de Maquiavel sobre os que se encontram no <i>Reino da Fortuna</i>, acaba por constatar
uma das causas da má fama da <i>fortuna</i>:
“Os homens reconhecem como provenientes da Fortuna apenas os males,
reconhecendo, portanto apenas a ‘má fortuna’. Os bens que obtém julgam ser
fruto de sua própria virtude, o que ocasiona outra razão de má fama da
Fortuna”. ARANOVICH, P. F. <i>Di Fortuna e a
Fortuna em Maquiavel</i>. “Cadernos de Filosofia Política”, p. 224.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn66">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref66" title="">[66]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref66" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
MACHIAVELLI. <i>Il Principe</i>, XXV, p.
187: <i>E questo voglio basti aver detto,
quanto allo opporsi alla fortuna, in universali. Ma restringendomi piú a’
particulari, dico come si vede oggi questo principe felicitare e domani
ruinare, sanza avergli veduto mutare natura o qualità alcuna </i>(...)<i>.</i><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn67">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref67" title="">[67]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref67" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
MACHIAVELLI. <i>Il Principe</i>, XXV, p.
187: <i>E assimiglio quella a uno di questi
fiumi rovinosi che, quando si adirano, allagano e’piani, rovinano li arbori e
li edifizi, lievano da questa parte terreno, pongono da quella altra; ciascuno
fugge loro dinanzi, ognuno cede all’impeto loro sanza potervi in alcuna parte
ostare.</i><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn68">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref68" title="">[68]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref68" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
MACHIAVELLI. <i>Il Principe</i>, XXV, p.
187:<i> E, benché sieno cosí fatti, non
resta però che gli uomini, quando sono tempi queti, non vi potessino fare
provedimento e con ripari e con argini: in modo che, crescendo poi, o eglino
andrebbono per uno canale o l’impeto loro non sarebbe né sí dannoso né sí
licenzioso.</i><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn69">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref69" title="">[69]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref69" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
MACHIAVELLI. <i>Il Principe</i>, XXV, p.
187: <i>Similmente interviene della fortuna,
la quale dimostra la sua potenza dove non è ordinata virtú a resisterle: e
quivi volta e’ sua impeti, dove la sa che non sono fatti gli argini né e’
ripari a tenerla.</i><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn70">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref70" title="">[70]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref70" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
MACHIAVELLI. <i>Il Principe</i>, XXV, p.
189: (...) <i>perché la fortuna è donna ed è
necessario, volendola tenere sotto, batterla e urtarla. E si vede che la si
lascia piú vincere da questi, che da quegli che freddamente procedono: e però
sempre, come donna, è amica de’ giovani, perché sono meno respettivi, piú
feroci e con piú audacia la comandano</i>. <o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn71">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref71" title="">[71]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref71" title=""><!--[endif]--></a></span> Embora seja ao tratar dos homens
em particular que Maquiavel nos apresente a <i>fortuna</i>
como mulher, deixamos de lado a questão do gênero. Reconhecemos que a questão
do gênero é interessante, especialmente quando nos deparamos com determinados
títulos de capítulos, tal como “De como se arruína um Estado por causa de
mulher” (MACHIAVELLI. <i>Discorsi</i>, III,
p. 26), mas entendemos que tal questão não diz respeito ao nosso assunto, pelo
menos não de forma direta e, por isso, a deixamos de lado aqui. No que diz
respeito à questão do gênero e sua relação com a questão da <i>fortuna</i>, ver PITKIN. <i><span lang="EN-US">Fortune is a Woman</span></i><span lang="EN-US">: Gender
& Politics in the thoght of Niccolò Machiavelli.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn72">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref72" title="">[72]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref72" title=""><!--[endif]--></a></span> BIGNOTTO. <i>Maquiavel Republicano</i>, p. 150.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn73">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref73" title="">[73]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref73" title=""><!--[endif]--></a></span> PAREL. <i>The Machiavelin Cosmos</i>, p. 66.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn74">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref74" title="">[74]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref74" title=""><!--[endif]--></a></span> ARANOVICH, P. F. <i>Di Fortuna e a Fortuna em Maquiavel</i>.
“Cadernos de Filosofia Política”, p. 228.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn75">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref75" title="">[75]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref75" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
BIGNOTTO. <i>Maquiavel Republicano</i>, p.
146.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn76">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref76" title="">[76]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref76" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
GAILLE-NIKODIMOV. </span><span lang="FR">Machiavel, penseur de l’action politique, in:
GAILLE-NIKODIMOV et MÉNISSIER, </span></span><i style="font-family: inherit; font-size: small;">Lectures
de Maachiavel</i><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">, p. 264.</span></div>
</div>
<div id="ftn77">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref77" title="">[77]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref77" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
MACHIAVELLI. <i>Discorsi</i>, II, 29, p.
406: <i>Fa bene la fortuna questo, che la
elegge uno uomo, quando la voglia condurre cose grandi, che sia di tanto
spirito e di tanta virtú che ei conosca quelle occasioni che la gli porge. Cosí
medesimamente, quando la voglia condurre grandi rovine ella vi prepone uomini
che aiutino quella rovina. E se alcuno fusse che vi potesse ostare, o la lo
ammazza o la lo priva di tutte le facultà da potere operare alcuno bene.</i> <o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn78">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref78" title="">[78]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref78" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
MACHIAVELLI. <i>Discorsi</i>, III, 9, p.
448: <i>Io ho considerato piú volte come la
cagione della trista e della buona fortuna degli uomini è riscontrare il modo
del procedere suo con i tempi: perché e’si vede che gli uomini nelle opere loro
procedono, alcuni con impeto, alcuni con rispetto e con cauzione. E perché
nell’uno e nell’altro di questi modi si passano e’termini convenienti, non si
potendo osservare la vera via, nell’uno e nell’altro si erra.</i><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn79">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref79" title="">[79]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref79" title=""><!--[endif]--></a></span> BIGNOTTO. <i>Maquiavel Republicano</i>, p. 147.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn80">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref80" title="">[80]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref80" title=""><!--[endif]--></a></span> Não trataremos as
especificidades do termo <i>virtù</i> neste
trabalho. Para uma boa compreensão do termo Cf. PRICE, R. “The Senses of virtù
in Machiavelli”. European Studies Review, 3, p. 315-345.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn81">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref81" title="">[81]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref81" title=""><!--[endif]--></a></span> Cristian Ion nos ajuda a
compreender a importância desta relação ao apontar a forma mais comum a que nos
referimos à <i>virtù,</i> opondo-a, por sua
vez, às especificidades que ela ganha quando contraposta à <i>fortuna</i>. De acordo com ela, “quando dizemos virtude, é frequentemente
num sentido geral, tomando-a de modo genérico para tudo que revela a capacidade
humana de realizar um objetivo, de modificar os eventos, de resistir à
desconstrução”. <span lang="FR">(ION. Conquérir,
Fonder, se mantenir. In: GAILLE-NIKODIMOV; MÉNISSIER. <i>Lectures de Machiavel</i>, p. 119). </span>Por outro lado, quando
relacionada à <i>fortuna</i>, ela parece
assumir certa especificidade. Seguindo a argumentação de Ion, “a virtude
maquiaveliana no seu senso forte, ligada à perspicácia na decisão da ação, se
revela através do seu reencontro com a <i>fortuna</i>
e a capacidade de saber a ocasião”. <span lang="FR">(ION, Conquérir, Fonder, se mantenir. In: GAILLE-NIKODIMOV; MÉNISSIER. <i>Lectures de Machiavel</i>, p. 119.)<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn82">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref82" title="">[82]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref82" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT"> Ver
MACHIAVELLI.<i> Il Principe</i>, XXV.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn83">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref83" title="">[83]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref83" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="FR">
D’ISTRIA; RELANG. <i>L’art Politique chez
Machiavel</i>, p. 143.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn84">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref84" title="">[84]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref84" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
MACHIAVELLI. <i>Discorsi</i>, III, 9, p.
448: <i>Io ho considerato piú volte come la
cagione della trista e della buona fortuna degli uomini è riscontrare il modo
del procedere suo con i tempi </i>(...).<i>
Ma quello viene ad errare meno ed avere la fortuna prospera che riscontra, come
ho detto, con il suo modo il tempo </i>(...)<i>.</i><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn85">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref85" title="">[85]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref85" title=""><!--[endif]--></a></span> Trata-se de um par conceitual
que se tornou clássico ao longo do legado maquiaveliano. <span lang="IT">Restringiremo-nos
apenas em apontá-lo.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn86">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref86" title="">[86]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref86" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
MACHIAVELLI. <i>Il Principe</i>, XXV, p.
188: (...) <i>il che non nasce da altro, se
non da la qualità de’ tempi che se conformano, o no, col procedere loro</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn87">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref87" title="">[87]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref87" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
MACHIAVELLI. <i>Il Principe</i>, XXV, p.
188: (...) <i>che dua, diversamente
operando, sortiscono el medesimo effetto, e dua equalmente operando, l’uno si
conduce al suo fine e l’altro no. Da questo ancora depende la variazione del
bene; perché se uno, che si governa con rispetti e pazienza, e’ tempi e le cose
girando in modo che il governo suo sia buono, e’ viene felicitando, ma se e’
tempi e le cose si mutano, rovina, perché e’ non muta modo di procedere. </i>(...)<i> se si mutassi natura con e’ tempi e con le
cose, non si muterebbe fortuna.</i><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn88">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref88" title="">[88]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/FAMLIA~1/AppData/Local/Temp/Rar$DIa0.145/13090-49414-1-RV%20vers%C3%A3o%20revisada%20pelo%20autor.docx#_ftnref88" title=""><!--[endif]--></a></span><span lang="IT">
MACHIAVELLI. <i>Discorsi</i>, III, 9, p.
450: (...) <i>donde ne nasce che in uno uomo
la fortuna varia, perché ella varia i tempi ed elli non varia i modi.</i></span></span><i><span lang="IT"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: justify; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span lang="IT"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: right; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: right; text-indent: -11.35pt;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin-left: 11.35pt; text-align: right; text-indent: -11.35pt;">
<span style="color: #666666; font-size: x-small;">*As ideias e informações contidas neste artigo são de total responsabilidade do seu autor. </span></div>
</div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-74222609468997109202015-03-08T21:48:00.000-07:002015-03-10T08:06:13.729-07:00Resumo: O existencialismo é um humanismo.<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrdwWZm8Y_1kCzghQPc-LYj1hYAB6uVKxCzziiGFyfrnJ0DSvk3OQ8PSq19X7vcWxfW7_pGLcOnSoRuf7lwaZyg50hqqYm4_5OUIxdBTJ5_u_Gg_fxgxoyzeR31B77dxg3NX7j6C_4Pjt_/s1600/SARTRE.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrdwWZm8Y_1kCzghQPc-LYj1hYAB6uVKxCzziiGFyfrnJ0DSvk3OQ8PSq19X7vcWxfW7_pGLcOnSoRuf7lwaZyg50hqqYm4_5OUIxdBTJ5_u_Gg_fxgxoyzeR31B77dxg3NX7j6C_4Pjt_/s1600/SARTRE.jpg" height="288" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Autor: Islânio Bezerra Nunes Santiago</span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;">Contato: islaniosantiago.filo@gmail.com</span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="right" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: right;">
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm -14.25pt 0.0001pt 0cm; text-indent: -7.1pt;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; text-indent: -7.1pt;"> </span><span style="font-family: inherit;"> "O existencialismo é um humanismo", é um texto escrito por Jean Paul Sartre no ano de 1946, visando esclarecer o pensamento existencialista e principalmente defendê-lo de uma série de criticas. Nele, Sartre começa relatando as críticas dos comunistas, que acusavam o existencialismo de incitar as pessoas a permanecerem no imobilismo do desespero; de ser uma filosofia contemplativa, o que necessariamente o reconduziria a uma filosofia burguesa; de enfatizar a ignomínia (vergonha) humana e de negar a solidariedade humana. Sartre ainda dá destaque para as críticas cristãs, que os acusavam de negar a realidade e seriedade dos empreendimentos humanos, já que supriminndo os mandamentos de Deus e os valores inscritos na eternidade, restaria apenas a pura gratuidade, onde cada qual poderia então fazer o que quiser, sendo impossível a partir de um ponto de vista pessoal condenar os pontos de vistas alheios tal qual os seus atos. </span><br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Após expor tais críticas, Sartre tenta explicar em que sentido eles(s) entendia(m) o existencialismo, numa tentativa de responder as acusações feitas acima. Ele começa afirmando que o concebia como uma doutrina que torna a vida humana possível e que, por outro lado, declara que toda verdade e toda ação implicam um meio e uma subjetividade humana. Segundo Sartre, existem dois tipos de existencialismo: O existencialismo cristão e o existencialismo ateu, que segundo ele é o mais coerente. Entre o existencialismo cristão e o existencialismo ateu, o único ponto de concordância é o de que a existência precede a essência, ou seja, que é necessário partir de uma subjetividade. Porém, Sartre crítica o existencialismo cristão, destacando sua incoerência em relação à subjetividade. Em uma analogia, Sartre compara Deus com um artífice que ao fabricar um objeto sabe exatamente para qual finalidade o está fabricando, ou seja, já possui uma utilidade definida. Desse modo é impossível relacionar a finalidade do ser com a sua subjetividade, tendo em vista que a finalidade é algo necessariamente objetivo e se opõe totalmente ao conceito de subjetividade. Por outro lado, o existencialismo ateu, dito por Sartre como o mais coerente e por ele defendido, declara que Deus não existe e que a existência precede a essência. Desse modo, primeiro é necessário o ser existir para só depois poder ser definido por qualquer conceito. Isto significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo, e somente depois se define. Logo, não há natureza humana, visto que não há Deus (artífice) para concebê-la. Sendo assim, o homem é simplesmente aquilo que ele faz de si mesmo, não sendo nada mais do que isso. O homem é antes de tudo um projeto que vive subjetivamente, nada existe anteriormente a ele, de modo que o homem será antes de qualquer coisa, aquilo que ele escolher ser. Assim, o primeiro esforço do existencialismo, segundo Sartre, é o de colocar o homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. </span></div>
</div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Neste sentido, Sartre afirma que o homem não é apenas responsável unicamente por si, mas que também é responsável por todos os homens. Ele afirma ainda que a palavra "subjetivismo" possui dois significado: Escolha do sujeito individual por si próprio e impossibilidade em que o homem se encontra de transpor os limites da subjetividade humana. E é nesse segundo sentido, segundo Sartre, que se constitui o sentido profundo do existencialismo:</span><span class="apple-converted-space" style="font-family: inherit;"> </span><span style="font-family: inherit;">"Ao afirmamos que homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de nós se escolhe, mas, queremos dizer também que, escolhendo-se, ele escolhe todos os homens". Desse modo, todos os nossos atos que criam o homem que queremos ser, estão simultaneamente criando a imagem do homem tal como julgamos que ele deva ser. Escolher ser isto ou aquilo é afirmar, concomitantemente, o valor do que estamos escolhendo, pois não podemos nunca escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem e nada pode ser bom para nós sem o ser para todos. Se, por outro lado, a existência precede a essência, e se nós queremos existir ao mesmo tempo em que moldamos nossa imagem, essa imagem é valida para todos e para toda nossa época. Portanto, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, pois ela engaja a humanidade inteira. </span></div>
</div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Porém, quando o individuo se der conta de que ele não é apenas aquele que ele escolheu ser,</span><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; mso-bidi-font-family: Arial;"> mas também é um legislador que escolhe a si e a humanidade inteira, este não consegue escapar do sentimento de sua total e profunda responsabilidade, envolvida pelo sentimento de angustia, desamparo e desespero. Tudo se passa como se a humanidade inteira estivesse com os olhos fixos em cada homem e se regrasse por suas ações. E cada homem deve perguntar a si próprio: sou eu, realmente, aquele que tem o direito de agir de tal forma que os meus atos sirvam para toda a humanidade? Todos vivem essa angustia e apesar de que alguns a disfarça, para Sartre, estes são os mascarados que agem de má fé, que pensam que suas ações envolvem apenas eles enquanto indivíduos, e quando são confrontados com a pergunta: e se todos fizessem o mesmo?, eles encolhem os ombros e respondem: nem todos fazem o mesmo. Ao que ele afirma: "Aquele que mente e que se desculpa dizendo: Nem todo mundo faz o mesmo, é alguém que não está em paz com a sua consciência, pois o fato de mentir implica um valor universal atribuído à mentira, mesmo quando ela se disfarça, a angustia aparece. Para Sartre, essa angustia não conduz a inatividade, a inação, pelo contrario, essa angustia é a própria condição da ação, que se orienta pela pluralidade de possibilidades, sentida por todos que já vivenciaram responsabilidades, e quando escolhem uma opção se dão conta que ela só tem valor por ter sido escolhida. Ao falar de desamparo, Sartre cita o pensamento de Dostoievski: " Se Deus não existe, tudo é permitido", afirmando ser este o ponto de partida do existencialismo. De fato, segundo ele, tudo é permitido, e por conseguinte, o homem está desamparado porque não encontra nele próprio e nem fora dele, nada para se agarrar. Para começar, não encontra desculpas. Com efeito, se a existência precede a essência, nada poderá jamais ser explicado por referencia a uma natureza humana dada e definitiva, ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Por outro lado, sendo Deus inexistente, não encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim, não teremos nem atrás de nós nem na nossa frente, nenhuma justificativa e nenhuma desculpa. Estamos sós, sem desculpas, condenados à liberdade. Condenado porque não nos criamos a nós mesmo, e como no entanto, somos livres, uma vez lançado no mundo, somos responsáveis por tudo que fazemos, e aqui se configura o terceiro sentimento, o sentimento de desespero. </span></div>
</div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Após essa série de esclarecimentos, Sartre acredita ter respondido às criticas feitas pelos comunistas e cristãos. Salientando mais uma vez que o existencialismo não pode ser considerado como uma filosofia da quietude, já que define o homem pela ação; nem como uma descrição pessimista do homem: "Não existe doutrina mais otimista, visto que o destino do homem está em suas próprias mãos"; nem como uma tentativa de desencorajar o homem a agir: "O existencialismo diz-lhe que a única esperança está em sua ação, e que só o ato permite o homem a viver”. Porém, apesar de tudo, o existencialismo ainda era acusado de aprisionar o homem na sua subjetividade, acusação esta que Sartre associou a uma má interpretação. Ele, em resposta a esta acusação, assume mais uma vez que o existencialismo de fato tem como ponto de partida a subjetividade do individuo, justamente por ser uma doutrina que tem como base a verdade, realista, contrária às teorias utópicas, bonitas, baseadas em esperanças, mas se fundamentos reais. Como ponto de partida, Sartre afirma que não poderia existir outra verdade se não esta:</span><span class="apple-converted-space" style="font-family: inherit;"> </span><i style="font-family: inherit;">penso logo existo;<span class="apple-converted-space"> </span></i><span style="font-family: inherit;">pois é aqui que o ser apreende a verdade absoluta da consciência e toda teoria que considera o homem fora desse momento em que ele apreende a si mesmo é, de partida, uma teoria que suprime a verdade, pois, fora do cogito cartesiano, todos os objetos são apenas prováveis e uma doutrina de probabilidades que não estejam ancoradas na verdade, desmoronam no nada. Porém, essa subjetividade não é rigorosamente individual porque, como diz Sartre, demonstramos que no cogito nós não descobrimos só a nós, mas também aos outros</span><i style="font-family: inherit;">.<span class="apple-converted-space"> </span></i><span style="font-family: inherit;">Nestas condições, a descoberta da minha intimidade descobre-me ao mesmo tempo o outro como uma liberdade posta em face de mim (já que também sou livre), que nada pensa ou quer senão a favor ou contra mim. Assim, descobre-se imediatamente um mundo que Sartre chamou de intersubjetividade, sendo neste mundo onde o homem decide sobre o que ele é e o que os outros são. Por consequência, todo projeto, por mais individual que seja, tem um valor universal, e é compreensível para todo homem, não o definido, mas podendo se reconhecido. Neste sentido, pode-se dizer que há uma universalidade no homem; mas ela não é dada, é indefinidamente construída. Constrói-se o universal, escolhendo-se, compreendendo o projeto de qualquer outro homem, seja qual for a sua época. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Sartre finaliza seu ensaio falando acerca do humanismo e fazendo a relação deste com o existencialismo. Ao falar sobre o humanismo, ele destaca que existem dois tipos destes, um humanismo que toma o homem como meta e como valor superior, este totalmente rejeitado por ele, e outro que no fundo é o seguinte: o home está constantemente fora de si mesmo; é projetando-se e perdendo-se para fora de si que faz com que o homem exista; por outro lado, é perseguindo objetivos transcendentes que ele pode existir. Não existe outro universo além do universo humano, o universo da subjetividade. Este é o humanismo que Sartre adota, e é a este vinculo entre a transcendência e a subjetividade que Sartre chama de humanismo existencialista. Humanismo porque não há outro legislador além dele próprio e que é no desamparo que ele decidirá por si mesmo, mas, voltando sempre para fora de si, vivendo o mundo dos meios, porém, buscando fora de si o fim. Concluindo, Sartre afirma que o existencialismo é um esforço para tirar todas as consequências de uma posição ateia coerente. O seu objetivo não é mergulhar o homem no desespero, mas, ele parte do desespero original do homem, que é a atitude de descrença. Segundo Sartre, o existencialismo não é um ateísmo no sentido de que se esforça para por demonstrar que Deus não existe. Ele afirma que o problema não está em sua existência, mas em que o homem deve se reencontrar e se convencer que nada pode salvá-lo de si mesmo, nem mesmo uma prova válida da existência de Deus.</span></div>
</div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: right;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #666666; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><span style="color: #666666; font-size: x-small;"><br /></span><span style="color: #666666; font-size: x-small;"> *As ideias e informações publicadas neste artigo é de total responsabilidade do seu autor.</span></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit;"><span style="color: #666666; font-size: x-small;"><br /></span></span></div>
</div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com23tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-77545318000104408982015-03-08T20:39:00.000-07:002015-03-08T20:44:26.320-07:00O corpo: Esse nosso amigo (des)conhecido - Alguns apontamentos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpK5lnvkggiF22eG7UsERrqkU0oe2pkktcGdDkvo5v6czi3Pe6vDiDz559AbmGspZT8B_a-k0DbFxU1wsbcJrUpnjx8J4wIT2hg1WlAz6RwvF-z65DVev0ckek-BIFo0yrdYb55mzbQxco/s1600/corpodesconhecido.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpK5lnvkggiF22eG7UsERrqkU0oe2pkktcGdDkvo5v6czi3Pe6vDiDz559AbmGspZT8B_a-k0DbFxU1wsbcJrUpnjx8J4wIT2hg1WlAz6RwvF-z65DVev0ckek-BIFo0yrdYb55mzbQxco/s1600/corpodesconhecido.jpg" height="300" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<div align="right" class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Autor: Yvisson Gomes dos Santos<span style="text-align: justify;"></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">Contato: yvissongomes@hotmail.com</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><b>RESUMO</b>: o presente artigo teve a finalidade de elencar o corpo em suas diversas vicissitudes. Dando enfoque a teorias da psicanálise, bem como da filosofia em seus matizes conceituais. Com as concepções de corpo pensou-se no corpo-escola como um dos desdobramentos teoréticos partidos dos campos da psicologia profunda e das filosofias contemporâneas e extemporâneas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><b>PALAVRAS-CHAVE</b>: Corpo, Psicanálise, Filosofia, Escola.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><b><span lang="EN-US">ABSTRACT</span></b><span lang="EN-US">: The present trial was to list the purpose of the body in its various vicissitudes. By focusing on theories of psychoanalysis and philosophy in its conceptual nuances. With the concepts of the body was thought the body-school as one of the parties Theoretical developments in the fields of depth psychology and contemporary philosophies and extemporaneous.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;"><b><span lang="EN-US">KEYWORDS:</span></b><span lang="EN-US"> Body, Psychoanalysis,</span><span lang="EN-US"> </span><span lang="EN-US">Philosophy, School.<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;">O corpo para a psicanálise tem alguns endereços que se localizam desde a fisiologia até a linguagem. Quando falamos de fisiologia ou de anatomofisiologia nos referimos ao corpo escrutinado pela biologia, pela medicina e ciências afins. Já quando o colocamos no patamar da linguagem referendamo-nos na fala e no discurso sobre este corpo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Com Freud aventamos a ideia de que o corpo se forma na <i>psique</i>, entretanto nasce e se estrutura metaforicamente das pulsões parciais<a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 17.1200008392334px;">[1]</span></span></span></a>. O contato da criança com o mundo exterior se dá mediante um “holocausto” psíquico. O mundo que entendemos como a percepção de uma realidade externa, de uma <i>empiria </i>para uma epistemologia, na criança isto se dá de forma paulatina e ao mesmo tempo inquietante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">O autoerotismo do recém-nascido até determinado período psicossexual é uma realidade para a psicanálise. A criança somente conhece-se em torno de seu mundo corporal. A boca e a mucosa anal são etapas iniciais do desenvolvimento psíquico desse infante (aquele que não tem voz, não tem fala). Ao descobrir-se na existência de um outro, de uma mãe que a nutre e lhe dá afagos, esta criança se espanta - e o espanto sempre será o <i>Pathos</i> da filosofia, segundo Heidegger<a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 17.1200008392334px;">[2]</span></span></span></a>. Já este espanto em Freud parte do princípio de que a pequena-criança não está sozinha em seu <i>mundo oceânico</i>. Ela está inserida num sistema relacional de afetos benfazejos ou malfazejos, mas que são afetos que a colocam no campo do dual.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Esse holocausto do ser autossuficiente para o ser que depende de outro determina a separação do autoerotismo em direção ao narcisismo<a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 17.1200008392334px;">[3]</span></span></span></a>. A ideia é de se pensar que a criança fantasticamente que <i>se nutria e se sentia nutriente de si mesma</i>, na qual não necessitava de uma outra personagem em sua instância psíquica e relacional, agora com o narcisismo se encontra dependente, de fato, desse outro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">O narcisista diz o seguinte: “Necessito do outro, desse que me acalanta, mas posso com este outro me sentir único e invencível”. É uma etapa de fruição dos conteúdos ideativos da criança que são, <i>a priori</i>, saudáveis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">O sujeito <i>se forma e se informa de si</i> através de seu narcisismo. A relação do espelho ou a relação especular proposta por Lacan estabelece a cisão, a escansão de que há um outro que partilha com o infante sua atmosfera psíquica. A criança se vê no espelho, esse acessório de cobiça, e se questiona se ela é um corpo que se mostra em um objeto especular, fora-de-si-mesma através do olhar, ou por que não dizer de uma pulsão escopofílica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Um passo se é dado para a construção do psiquismo da criança e na sua ulterior constituição como sujeito que se alia ao <i>socius</i> para se fazer existir, nem que seja uma <i>ex-sistência </i>que obriga a criança a olhar para fora de si e dizer: “necessito do outro, e este outro me registra nas convenções, nos modelos e etiquetas de comportamentos que preciso apreender para me fazer demarcado pela pequena sociedade (o núcleo familiar), em rumo a grande sociedade (escola, igreja, shopping, clubes recreativos, cibercultura, dentre outros)”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">O passo para liberta-se de seu autoerotismo ao narcisismo encontra ancoradouro, a saber, na percepção de que o mundo real, de acordo com Locke - o mundo dos sentidos -, é necessário para que eu exista enquanto ser social. As experiências desse sujeito extrapolam o mundo interno e se coadunam com a exterioridade como uma necessidade iminente de SER nesse EXISTIR que tumultua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">O corpo agora se mostra como imprescindível. O corpo surge de uma forma que transforma-se a cada instante. O ego em ilhotas do autoerotismo, agora se mostra como um ego factual perpassado pela <i>Falicismo</i>, por uma lei que demarca <i>individualidades</i> e que funda e estrutura personalidades e possíveis patologias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Nesse intento, sabe-se que a psicopatologia do corpo, nos anos 60 do século passado, com Kretschmer (1961)<a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftn4" name="_ftnref4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 17.1200008392334px;">[4]</span></span></span></a>, equivalia a tipologias. Com este autor o sujeito possuía caracteres corporais que denunciavam uma futura doença um traço de caráter. Temos o corpo leptossômico ou astênico, o corpo pícnico e o corpo atlético.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">O leptossômico é de uma estrutura esguia, alta, de ossatura curta, podendo caracterizar uma futura esquizotipia e timidez. O pícnico é de um corpo de forma arredondadas, ossos largos, gorducho e bonachão. Essa tipologia pícnica é caraterizada por pessoas sociáveis, engraçadas e gregárias, mas com tendências a depressão. A forma atlética é de um corpo considerado em boa forma física, com ossatura larga e avantajada. Tais pessoas possuem caráter de liderança e que estão com as potencialidades físico-psíquicas em equilíbrio. A aos que não se enquadram nessas três classificações são considerados do tipo displásicos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Claro que estas tipologias dos corpos foram descartadas pela medicina do século XXI. Ainda assim, a psicologia, em casos específicos, se referencia nessas tipologias para estudar prováveis sintomas e estilos comportamentais dos indivíduos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Esses exemplos advêm de pesquisas da antiguidade tardia sobre os humores. Galeno caracterizou em fartos comentários sobre os humores biliáticos nos seres humanos, podendo-se caracterizar nos mesmos sintomas como a melancolia, a ira ou a própria loucura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">No retorno a Freud e, mais especificamente a Lacan, o corpo é fissurado, separado, cindido em <i>objetos a</i> que se escamoteiam em seios, fezes, voz, olhar<a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftn5" name="_ftnref5" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 17.1200008392334px;">[5]</span></span></span></a>. Só se é possível reaver o corpo total, ou o corpo do desejo se se objetivar o discurso como norteio para explicá-lo, e ainda assim isso não será possível por completo, mas através de rastros ou palpites da ordem do inconsciente, quer sejam atos falhos, chistes, sonhos, ou a própria doença somática na histeria, a analidade na neurose obsessiva-compulsiva ou a neurose fóbica como prelúdio à angústia de castração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Eu falo através do <i>Phalos</i> que me estrutura. O <i>Phalos</i> com <i>ph</i> é uma representação ora imaginaria, ora simbólica do pênis. Essas representações se formam no orbe do psiquismo indo ao encontra da subjetividade. Ou seja, ao falar sobre a diretriz do <i>Phalos</i> que representa a <i>metáfora ou lei paterna</i>, nascida culturalmente do banquete totêmico, eu EXISTO e essa existência é da ordem simbólica que nasce da imagem especular corpo-eu ou do eu-corpo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Deleuze<a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftn6" name="_ftnref6" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 17.1200008392334px;">[6]</span></span></span></a>, em um dos seus escritos, anuncia que a <i>Coisa</i> ou o <i>Isto</i> caga, fede, goza, mela-se num apinhado do corporal-máquina. A coisa, <i>Das Ding</i>, em Freud é o que sutura o inconsciente do sujeito. E essa sutura promove inevitavelmente a cura. E o artifício pela qual a <i>Das Ding</i> se faz fundante é através da palavra e do discurso. Não somos nada se não discursarmos, se não proferirmos nossos sentimentos e ideias, pois desta sorte, a doença encontrará assento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Os gregos falam do corpo em evidência e erotizado, instrumento discursivo de uma pedagogia interessante. Um belo corpo pode facilmente se aliar a um belo discurso. <i>O Banquete<a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftn7" name="_ftnref7" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="line-height: 17.1200008392334px;">[7]</span></b></span></span></a></i> de Platão comemora esse encontro. O corpo de Alcebíades mesmo embriagado e com vestimentas risíveis é belo, e o discurso de Sócrates também é belo. Juntos eles formam uma <i>Paideia</i>, um encontro entre o mestre e seu discípulo pela via do Eros, do erotismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">O corpo para os gregos deve ser moldado nas academias. A feiura do corpo é ojerizada. Os deficientes físicos são jogados ao mar, descreditados e esquecidos. O corpo grego quando não é visto nas formas da simetria e da beleza deve ser um corpo escatológico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Talvez Sade, o divino Marquês, tenha observado essa escatologia como ferramenta ao seu discurso através do corpo erotológico ou o corpo para o mal<a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftn8" name="_ftnref8" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 17.1200008392334px;">[8]</span></span></span></a>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">O feio, o risível, o sodomita, a prostituta, o proxeneta, os medonhos eram a expressão de um desejo que beirava à lascívia. Na <i>Filosofia na Alcova<a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftn9" name="_ftnref9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="line-height: 17.1200008392334px;">[9]</span></b></span></span></a></i> as fezes, a gonorreia, o esperma pútrido, o matricídio, os pênis avantajados e brutais formam a antessala do enredo desse romance e de outros escritos sadianos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Sodomizar a mãe e depois matá-la, costurar uma vagina e colocar dentro dela uma ratazana faminta para comer as vísceras da mulher eram as assertivas do desejo do divino Marques. O desejo era ação, uma ação que saia da irrupção Iluminista. As luzes traziam à tona todos os desejos, sem a escuridão do teocentrismo medieval. Desta sorte, tudo que se podia fazer com o corpo era possível. Mesmo que houvessem penalidades cíveis às sexualidades consideradas desviantes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Michel Foucault<a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftn10" name="_ftnref10" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 17.1200008392334px;">[10]</span></span></span></a> lembra-nos sempre de uma vigilância do corpo. Esse corpo docilizado e vigiado pela sociedade vitoriana oitocentista, mas as setecentistas e seiscentistas também. O corpo-gay, o corpo-mulher, o corpo-infantil, o corpo-dismórfico, o corpo-judaico e o corpo-alienado eram passíveis de estudos nosológicos e etiológicos. O corpo era “descreditado” para se “creditado” pelo <i>controle</i> - filho dileto do biopoder.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">A escola e sua via máxima do <i>establishment</i> da educação, também é um corpo habitado por outros corpos. A escola é asilar para Foucault, e que desempenha funções indispensáveis para se adestrar o selvagem e ordená-lo. Os sujeitos da educação possuem corpos de desejo. Esses corpos também são sociais. São corpos que desejam conhecer, transmitir conhecimentos, que estão inscritos na esfera de uma ação educativa: ensinar e aprender.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Esquece-se que dentro de uma escola há diversos sujeitos demarcados em desejos. Os alunos que se agrupam em tribos. Os professores com suas teorias e práxis pedagógicas. Ou seja, o corpo também é ação, também é heterotipia. O grupo dos <i>nerds</i>, outro dos tatuados, outro dos roqueiros, dos religiosos, outros dos <i>clubbers</i> etc. Tudo isso é um corpo, mas que se encontra facetado em múltiplos corpos. O corpo-escola encontra-se minado e povoado por corpos-alunos, corpos-professores, corpos-diretores, corpos-auxiliares, corpos-múltiplos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Toda uma teoria que se valha de ser pedagógica também é um <i>corpus teóricos</i>. Piaget, Wallon, Vygotsky, Paulo Freire, Pestalozzi, dentre outros, foram teóricos da educação ou pensaram a educação em formas particulares. Eles criaram perspectivas teóricas para se pensar, por exemplo, o ensino-aprendizagem, ou a psicogenética infantil. Eles descreveram os sentidos da educação guiados por uma ordenação teórica que para Freud poderia ser uma experiência de <i>sublimação<a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftn11" name="_ftnref11" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="line-height: 17.1200008392334px;">[11]</span></b></span></span></a></i>. A concepção de que há um <i>corpus teóricos</i> nesses autores que pensam a Educação, já se inscreve em dois movimentos, a saber, <i>o discurso sobre algo</i>, e <i>o processo em que este algo fora executado</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">O <i>discurso sobre algo</i> é sobre a criação de categorias educativas com a finalidade de se estabelecer uma lógica e coerência sobre um determinado discurso. A zona de desenvolvimento proximal de Vygotsky é um desses discursos; a educação bancária de Freire é outro, e todos formam um corpo, que mesmo sendo teórico é um corpo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><i><br /></i></span>
<span style="font-family: inherit;"><i>O processo em que este algo fora executado</i> é forçosamente a relação do mundo intrapsíquico com o interpsíquico desses pesquisadores. O mundo endógeno é formado por leis constituídas a partir de uma vivência interna, onde o corpo é esquadrilhado pelo seio materno, mas logo se torna independente deste. Com o exógeno e as relações dos sujeitos com esta exterioridade formou-se um processo secundário, seguido da castração, em que fez o sujeito ser e existir como sujeito com finalidade a produzir obras (literatura), ideias e teorias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Quando comentamos sobre isto, queremos efetivamente dizer que a construção de um arcabouço teórico na educação passa invariavelmente por estas posições, O <i>discurso sobre algo</i> e <i>o processo em que este algo fora executado.<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">A esfera do discurso se apresenta. E é para a psicanálise que o discurso torna-nos sujeitos de desejo, já o somos constitucionalmente, mas pensados e articulados com a linguagem, isto sim se efetiva a formar/gerir/conceber sujeitos desejantes. O empreendimento desse desejo é a falta, o gérmen da falta forma os sujeitos desejantes mais uma vez.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Podemos aventar de que sendo portadores de um <i>buraco existencial/faltoso/desejante</i> temos uma iminência de criarmos, de sairmos de uma postura hierática para uma postura humana através do corpo que anima e nos dá a possiblidade de ora desconhecê-lo, ora reconhecê-lo através do discurso, que é peremptoriamente fundador da subjetividade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
<b>Referências<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">DELEUZE, G; GUATTARI, F. <i>O Anti-Édipo: Capitalismo e esquizofrenia</i>. Portugal: Editora Assírio & Alvin, 1972.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">FADIMAN, J; FRAGER, R. <i>Personalidade e crescimento pessoal</i>. 5 ed. Porto Alegre: Editora Artmed, 2004.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">FOUCAULT, M. <i>A história da sexualidade 1. A vontade de saber</i>. São Paulo: Paz e Terra, 2014. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">FREUD, S. <i>A organização genital infantil: uma interpolação na teoria da sexualidade</i>. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">FREUD, S. <i>Sobre o Narcisismo: uma introdução</i>. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">HEIDEGGER, M. <i>Que é isto - a filosofia?</i> Tradução Emílio Stein. São Paulo: Duas Cidades, 1991<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">LACAN, J. <i>O Seminário, livro 10: A Angústia</i>. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">PEIXOTO, F. <i>Sade: Vida e obra</i>. Rio de Janeiro: Terra e Paz, 1979.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">PLATÃO. <i>O Banquete</i>. Tradução de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1991.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: inherit;">SADE, M. <i>A filosofia na alcova</i>. São Paulo: Iluminuras, 2000.<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<div>
<span style="font-family: inherit;"><br clear="all" /></span>
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<br />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 13.9099998474121px;">[1]</span></span></span></a> FREUD, S<i>. A organização genital infantil: uma interpolação na teoria da sexualidade</i>. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn2">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 13.9099998474121px;">[2]</span></span></span></a> HEIDEGGER, M. <i>Que é isto - a filosofia</i>? Tradução Emílio Stein. São Paulo: Duas Cidades, 1991.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 13.9099998474121px;">[3]</span></span></span></a> FREUD, S. <i>Sobre o Narcisismo: uma introdução</i>. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn4">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftnref4" name="_ftn4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 13.9099998474121px;">[4]</span></span></span></a> <i>Apud</i> FADIMAN, J; FRAGER, R<i>. Personalidade e crescimento pessoal</i>. 5 ed. Porto Alegre: Editora Artmed, 2004.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn5">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftnref5" name="_ftn5" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 13.9099998474121px;">[5]</span></span></span></a> LACAN, J. <i>O Seminário, livro 10: A Angústia</i>. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn6">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftnref6" name="_ftn6" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 13.9099998474121px;">[6]</span></span></span></a> DELEUZE, G; GUATTARI, F. <i>O Anti-Édipo: Capitalismo e esquizofrenia</i>. Portugal: Editora Assírio & Alvin, 1972.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn7">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftnref7" name="_ftn7" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 13.9099998474121px;">[7]</span></span></span></a> PLATÃO. <i>O Banquete</i>.Trad. José Cavalcante de Souza. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1991.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn8">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftnref8" name="_ftn8" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 13.9099998474121px;">[8]</span></span></span></a> PEIXOTO, F. <i>Sade: Vida e obra</i>. Rio de Janeiro: Terra e Paz, 1979.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn9">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftnref9" name="_ftn9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 13.9099998474121px;">[9]</span></span></span></a> SADE, M. <i>A filosofia na alcova</i>. São Paulo: Iluminuras, 2000.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn10">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftnref10" name="_ftn10" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 13.9099998474121px;">[10]</span></span></span></a> FOUCAULT, M. <i>A história da sexualidade 1</i>. A vontade de saber. São Paulo: Paz e Terra, 2014.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn11">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/EPISTEMOLOGIA_ARTIGO%20(2).docx#_ftnref11" name="_ftn11" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 13.9099998474121px;">[11]</span></span></span></a> Sublimação no sentido de um mecanismo de defesa secundário que transformam os desejos sexuais em algo socialmente aceito.</span><o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
</div>
<div style="text-align: start;">
<div id="ftn13">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
</div>
<span style="font-family: inherit;"><span style="color: #666666; font-size: x-small;">*As ideias e informações publicadas neste artigo são de t</span><span style="color: #666666; font-size: x-small;">otal responsabilidade do seu autor.</span></span><span style="color: #666666; font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;"> </span><span style="color: #666666; font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"> </span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-68550549727468161142015-03-08T20:30:00.004-07:002015-03-08T20:47:04.578-07:00Perspectiva em primeira pessoa e identidade narrativa: para uma abordagem prática-linguística da identidade pessoal <div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBUcxZBP8Tmd3gd1j4UtX7IUgxA76YK3SeQbYCHfzEiYT2jVwFrFnSApwQlk_hvCuofOKxnERXRuL1aTPZaNFx-1tjzB261AzceNlPc-gsQTFefMcmOfc1Mkrf0aKKGQNHd_uosUrXm1u8/s1600/768px-Vincent_van_Gogh_-_The_Bedroom_-_Google_Art_Project.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBUcxZBP8Tmd3gd1j4UtX7IUgxA76YK3SeQbYCHfzEiYT2jVwFrFnSApwQlk_hvCuofOKxnERXRuL1aTPZaNFx-1tjzB261AzceNlPc-gsQTFefMcmOfc1Mkrf0aKKGQNHd_uosUrXm1u8/s1600/768px-Vincent_van_Gogh_-_The_Bedroom_-_Google_Art_Project.jpg" height="311" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;">Autora: Profª Ms. Cristina Amaro Viana Meireles</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: inherit; line-height: normal; text-align: start;">Professora Assistente no curso de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: inherit; line-height: normal; text-align: start;">Doutoranda em História da Filosofia Contemporânea na Universidade Estadual de Campinas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: inherit; line-height: normal; text-align: start;">Contato: viana.cris@ig.com.br</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><u><span style="line-height: 24px;"><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><u><span style="line-height: 24px;"><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><b><u><span style="line-height: 24px;">Resumo</span></u></b><b><span style="line-height: 24px;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Visando buscar uma resposta para o clássico problema da manutenção da identidade pessoal ao longo do tempo e através das mudanças, uma estratégia que tem se mostrado promissora é a de situar a problemática numa abordagem mais prática, que priorize as dimensões do corpo, da ação e da linguagem, em detrimento das análises mais centradas em aspectos meramente cognitivos ou psicológicos. É no contexto dessa abordagem prática que proporemos uma leitura da tese apresentada pela filósofa da mente Lynne R. Baker (1944-) em <b><i>Persons and Bodies </i></b>(CUP, 2000), segundo a qual a identidade pessoal ao longo do tempo pode ser pensada como a manutenção de uma mesma perspectiva em primeira pessoa. Considerando que a perspectiva em primeira pessoa, segundo a autora, consiste na habilidade linguística de referir-se a si mesmo em primeira pessoa, arriscaremos uma aproximação incomum à tese do filósofo francês contemporâneo Paul Ricoeur (1913-2005), apresentada em <b><i>Soi-même comme un autre</i></b> (Seuil, 1990), segundo a qual a identidade pessoal ao longo do tempo só pode ser uma identidade narrativa. Esta aproximação tem como objetivo contribuir para as investigações contemporâneas sobre o problema da identidade pessoal congregando elementos da filosofia da mente e da assim chamada filosofia continental, por meio da defesa do seguinte conjunto de hipóteses: (1) a identidade pessoal tem de ser concebida como uma criação; (2) o aspecto linguístico dessa criação tem de ser enfatizado; (3) uma dimensão da linguagem que parece muito promissora para o problema em questão é a da composição de uma narrativa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><b><u><span style="line-height: 24px;">Palavras-chave</span></u></b><b><span style="line-height: 24px;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Perspectiva em primeira pessoa; Identidade narrativa; Ipseidade; Mesmidade<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><u><span lang="EN-US" style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Abstract<o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: inherit;">Aiming at to search an answer for the classical problem of personal identity’s maintenance along time and through changes, a strategy that has been shown promising is to set the discussion in an more practical approach, which prioritizes aspects like the body, the action and the language, rather than other analysis focused on merely cognitive and psychocological aspects. It is in the context of this practical approach that we propose a reading of the thesis presented by the Philosopher of Mind Lynne R. Baker (1944- ) in <b><i>Persons and Bodies</i></b> (CUP, 2000), according to which personal identity along time can be thought as the maintenance of a same first person perspective. Considering that first person perspective, according to the author, consists of the linguistic ability of referring to oneself in first person, we will try an uncommon approach to the thesis of the Contemporary French Philosopher Paul Ricoeur (1913-2005), presented in <b><i>Soi-même comme un autre</i></b> (Seuil, 1990), according to which personal identity along time can only be a narrative identity. That approach aims for contributing to the contemporary research about the personal identity problem by congregating elements of the Philosophy of Mind and the so-called Continental Philosophy, by means of the defence of the following set of hypothesis: (1) personal identity has to be thought as a creation; (2) the linguistic aspect of this creation has to be emphasized; (3) an aspect of language that seems very promising for the issue in question is that of the composition of a narrative.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><b><u><span lang="EN-US" style="line-height: 24px;">Key-words</span></u></b><b><span lang="EN-US" style="line-height: 24px;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="EN-US" style="font-family: inherit; line-height: 24px;">First person perspective, Narrative identity; Selfhood; Sameness<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><u><span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">1. Introdução<o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Este artigo foi animado pela perplexidade diante do clássico problema filosófico de saber como é possível que uma pessoa se mantenha a mesma ao longo do tempo. Não está em nosso horizonte, contudo, enveredar por uma busca de um elemento pretensamente central para explicar a unidade da pessoa. Antes, nos inspiraremos numa das lições que o contato com a Professora Maria Eunice Quilici Gonzalez – para quem este artigo foi redigido como uma singela homenagem por ocasião de seu aniversário – nos permitiu compreender. Sendo assim, partiremos do pressuposto de que a constituição da unidade que caracteriza a identidade pessoal é um processo de criação dinâmica, processo que é levado a cabo pelo indivíduo pelo tempo que durar sua existência. Numa palavra, a identidade pessoal será entendida aqui como uma instância que nunca se completa, muito embora ela apareça sempre como definitiva para um indivíduo em situação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Assim sendo, importa para nós buscar lançar luz sobre o processo mesmo de constituição subjetiva da identidade pessoal. É por conta desse interesse que mobilizaremos esforços a fim de que dois autores entrem em diálogo: Lynne R. Baker (1944-) e Paul Ricoeur (1913-2005). A despeito de diferenças importantes no que diz respeito às tradições das quais cada um é herdeiro, às filosofias com as quais cada um debate, bem como no que concerne às questões centrais para um e outro autor, ambos trouxeram importantes contribuições para melhor se compreender o processo dinâmico de criação da identidade pessoal. Acreditamos poder dizer inclusive que estas contribuições confluem para uma mesma direção – e esta é a razão para a arriscada empreitada de trabalhá-los conjuntamente – qual seja, a de que a constituição da identidade pessoal é um processo eminentemente prático e linguístico que se estende por toda a vida de um indivíduo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Dois conceitos centrais serão aqui destacados para refletirmos sobre a constituição da identidade pessoal: <i>perspectiva em primeira pessoa</i>, da filósofa norte-americana Lynne R. Baker; e <i>identidade narrativa</i>, do filósofo francês Paul Ricoeur. Baker apresenta e desenvolve a noção de perspectiva em primeira pessoa em sua obra <b><i>Persons and Bodies: </i></b><i>A constitution view<b> </b></i>(CUP, 2000). Nem uma mônada, nem uma substância, nem um conceito: a identidade pessoal é uma mera <i>perspectiva</i>. Perspectiva de um <i>eu</i> já dado anteriormente? De modo algum: a perspectiva, mantendo-se a mesma, é que possibilitará a criação do próprio conceito de eu. A perspectiva, muito antes de identificar uma pretensa unidade, é a instanciadora dessa unidade. Ora, mas que tipo de unidade pode estar relacionado à manutenção de uma mesma perspectiva ao longo do tempo? Defenderemos aqui a ideia de que essa unidade deverá ter necessariamente um caráter <i>linguístico-hermenêutico</i>. Para o primeiro termo dessa expressão – “linguístico” –, encontramos apoio no próprio texto de Baker, que em diversos momentos enfatiza que é por meio de uma habilidade linguística que um indivíduo consegue atribuir a referência em primeira pessoa (não só a si mesmo, mas também aos outros). Agora, no que diz respeito ao segundo termo da expressão acima – “hermenêutico” –, ultrapassamos o texto de Baker e passamos a nos apoiar nas reflexões de Paul Ricoeur, num esforço por buscar uma especificação para a habilidade linguística de que fala Baker.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Para Ricoeur, a linguagem é uma dimensão central do homem, que deve ser considerada na análise de qualquer fenômeno humano que se empreenda. Contudo, a linguagem para Ricoeur está longe de poder ser reduzida à mera manipulação de símbolos no interior de estruturas determinadas. Quanto a isto, é esclarecedor mencionar que ele argumentou fortemente contra a posição de filósofos estruturalistas mais tradicionais, como Saussure e Lévi-Strauss, se declarando mais próximo de perspectivas teóricas que pensam a linguagem como discurso, tais como Benveniste e Greimas<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[1]</span></span></span></a>. Para Ricoeur, a linguagem é, ela mesma, um <i>acontecimento</i><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[2]</span></span></span></a>, o que significa dizer que ela possui uma veemência ontológica intransponível. A linguagem é essencialmente criativa na visão de Ricoeur, na medida em que nela se dá a <i>inovação semântica</i><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[3]</span></span></span></a>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Isto posto, é no contexto de uma concepção de linguagem enquanto discurso, criação e acontecimento que buscaremos apresentar um possível – e, em nossa visão, instigante – desenvolvimento do conceito de perspectiva em primeira pessoa de Baker. Assim sendo, é a partir do conceito ricoeuriano de <i>identidade narrativa</i> – apresentado inicialmente no terceiro tomo de sua obra <b><i>Temps et Récit </i></b>(Seuil, 1985), mas plenamente desenvolvido alguns anos mais tarde, em <b><i>Soi-même comme un autre</i></b> (Seuil, 1990) – que buscaremos elementos para ampliar a compreensão da dimensão linguística necessariamente presente em toda perspectiva em primeira pessoa. O primeiro passo para ampliar a compreensão da dimensão linguística da perspectiva em primeira pessoa será, a nosso ver, a sua delimitação – e aqui se encontra o cerne de nossa arriscada hipótese: a dimensão linguística de que se trata deverá ser restringida à habilidade narrativa. A hipótese que levantamos aqui é a de que somente a partir da construção de uma unidade narrativa de vida seria possível manter uma mesma perspectiva em primeira pessoa ao longo do tempo, perspectiva esta que ensejaria uma identidade pessoal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Dividiremos este breve artigo em três partes: na primeira, exporemos a tese da perspectiva em primeira pessoa de Baker, realçando a ressonância da dimensão prática e linguística que a constitui. Na segunda parte, apresentaremos a tese da identidade narrativa de Ricoeur, colocando em evidência alguns elementos centrais para um definitivo deslocamento do problema da identidade pessoal rumo ao contexto da ação. Por fim, na terceira parte, desenvolveremos uma leitura da noção de perspectiva em primeira pessoa de Baker à luz das reflexões ricoeurianas sobre a identidade narrativa, apresentando a ideia de que a perspectiva em primeira pessoa só pode explicar a constituição da identidade pessoal caso ela esteja ligada a uma unidade narrativa de vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><u><span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">2. A identidade pessoal, segundo Lynne R. Baker<o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">O clássico problema da permanência de uma pessoa como a mesma ao longo do tempo e apesar das mudanças não é o objetivo central do livro de Baker no qual estamos nos apoiando. Antes, este livro tem como meta a apresentação de uma certa teoria, a <i>tese da constituição</i><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn4" name="_ftnref4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[4]</span></span></span></a>, uma teoria materialista que visa explicar de um modo não reducionista a relação entre as pessoas humanas<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn5" name="_ftnref5" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[5]</span></span></span></a> e seus corpos constituintes. No entanto, buscaremos mostrar que, ainda assim, a ressonância desta tese para o problema da identidade pessoal é de grande relevância, ainda que, no livro, as reflexões da autora sobre a identidade pessoal ocupem apenas um capítulo dentre os seis da segunda parte (Cf. BAKER, p. 118-146).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Segundo a tese da constituição, nós não <i>somos</i> corpos, nem somos pessoas que <i>possuem</i> corpos, mas sim nós somos <i>constituídos</i> por nossos corpos humanos. Esta relação de constituição é submetida ao escrutínio da autora ao longo das mais de duzentas páginas a partir de vários vieses e em diálogo com vários autores, numa intensidade e vigor que seriam impossíveis de reproduzir aqui. A teoria materialista proposta por Baker, ao contrário de tantas outras do mesmo gênero, nos parece particularmente interessante por garantir a legitimidade de uma noção de pessoa que inclui a assim chamada <i>vida interior</i>. Segundo a tese da constituição, embora não possamos falar de pessoa sem falar de um corpo material, igualmente não podemos conceber pessoa sem pressupor a existência de uma vida interior.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Ora, como pode uma teoria materialista permitir que se fale em <i>vida interior</i>, uma expressão muitas vezes rechaçada com base em sua alegada dimensão metafísica? Antes de tudo, Baker faz questão de sublinhar que sua teoria não é, de modo algum, cartesiana:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">Esta perspectiva não é cartesiana: uma vida interior não requer uma alma imaterial, nem é ela independente do mundo que nos cerca. Nossas vidas interiores – embora ontologicamente peculiares – não são conceitualmente, temporalmente ou ontologicamente prioritárias em relação ao restante do mundo material. (BAKER, p. 59, tradução nossa).</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Mais adiante, Baker complementa que a interioridade que ela alega existir em toda pessoa não envolve nenhum tipo de reificação: “[...] O que é peculiar numa pessoa não precisa ser assegurado por uma entidade logicamente privada à qual ninguém além de mim teria acesso” (BAKER, p. 69). Assim, para Baker, toda pessoa possui vida interior. Na verdade, esta característica é justamente o que define uma pessoa, seja ela humana ou não: “De acordo com a tese da constituição, alguma coisa que tenha uma capacidade para uma vida interior é de um tipo fundamentalmente diferente de qualquer coisa que não tenha nenhuma capacidade para a vida interior” (BAKER, p. 59).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Para desenvolver uma explicação materialista não reducionista do que seria, afinal de contas, uma vida interior, Baker recorrerá à noção de <i>perspectiva em primeira pessoa</i>. Uma perspectiva em primeira pessoa não é meramente uma perspectiva a partir da qual um indivíduo age. Ter uma perspectiva e agir a partir dela é, para a autora, um fenômeno bastante difundido no reino animal. Cachorros e chimpanzés – e, podemos facilmente supor, também golfinhos e elefantes – agem a partir de uma perspectiva, mas nem por isso podemos seguramente dizer que eles possuem uma perspectiva em primeira pessoa. Mesmo dos girassóis talvez pudéssemos dizer que eles exibem uma perspectiva, já que, conforme a definição da autora, eles “[...] simplesmente agem a partir de sua própria perspectiva tendo a si mesmo como o centro” (BAKER, p. 67)<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn6" name="_ftnref6" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[6]</span></span></span></a>. No entanto, nenhum desses exemplos se caracteriza como um caso de perspectiva em primeira pessoa. Eles poderiam, no melhor dos casos, ser considerados <i>fenômenos fracos de primeira pessoa</i><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn7" name="_ftnref7" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[7]</span></span></span></a>. Para dizer do modo o mais simples possível, a perspectiva em primeira pessoa é caracterizada por Baker como um <i>fenômeno forte de primeira pessoa</i>, isto é, como a <i>capacidade para conceber-se a si como si-mesmo</i> (BAKER, p. 68).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">A autora se empenha em tentar esclarecer esta definição um tanto quanto obscura. Antes, porém, de tentarmos acompanhar e reproduzir o essencial de seu meritório esforço, cumpre enfatizar que, em diversas passagens, a autora dá a entender que sua proposta não está comprometida com as exigências epistemológicas de se fornecer critérios últimos e finais para a pessoalidade. Nesse sentido, nos apressamos em caracterizar a proposta de Baker como uma abordagem <i>prática</i> do problema da pessoalidade – tal como do problema da identidade pessoal, ao qual aludiremos mais adiante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">2.1. Elementos da perspectiva em primeira pessoa<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 330.7pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">A definição de perspectiva em primeira pessoa faz referência, em primeiro lugar, a uma habilidade ou capacidade. Isso tem, a nosso ver, um significado importante: não existe a necessidade de que o estado auto-reflexivo característico da perspectiva em primeira pessoa seja experienciado ininterruptamente. Dito de outro modo, podemos dizer que existe perspectiva em primeira pessoa ainda que, num dado momento, a pessoa não esteja concebendo-se a si como si-mesma. Este ponto será importante na leitura coordenada com a tese de Ricoeur que estamos propondo, como exporemos mais adiante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 330.7pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Um segundo elemento da perspectiva em primeira pessoa que chama a atenção é o caráter instransponível e irredutível da primeira pessoa. O “conceber-se” de que se trata é uma constatação, digamos, – na falta de uma expressão mais apropriada – a partir <i>de dentro</i>. Dito de outro modo, quando um indivíduo se concebe a si-mesmo a partir de um pensamento que poderia ser expresso na sentença “Eu estou certo de que eu penso”, caso esse indivíduo se chame René, esse pensamento não poderia ter toda sua especificidade abarcada pela sentença “Eu estou certo de que René existe”. Baker realça com grande veemência este caráter ineliminável e irredutível da referência em primeira pessoa:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">O pensamento que uma pessoa expressa por ‘Eu*’ não pode ser igualmente bem expresso em um modo que não seja em primeira pessoa. Por exemplo, não há nenhuma maneira em terceira pessoa de expressar o pensamento cartesiano ‘Eu estou certo de que eu* existo’. A certeza que Descartes afirmava era certamente a de que <i>ele</i>* existia, não a certeza de que <i>Descartes</i> existia<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn8" name="_ftnref8" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[8]</span></span></span></a>. (BAKER, p. 77, grifos da autora, trad. nossa).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 330.7pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Assim, o que é mais notável na perspectiva em primeira pessoa é que se trata de uma perspectiva que ninguém mais pode adotar, a não ser a própria pessoa. Voltaremos a este ponto mais adiante, quando apontarmos a relação entre perspectiva em primeira pessoa e identidade pessoal. Por ora, sublinhamos uma peculiaridade advinda desse caráter reflexivo da perspectiva em primeira pessoa, qual seja, a imprecisão que sempre acompanhará os julgamentos sobre a ocorrência ou não de uma perspectiva em primeira pessoa. Este ponto, que comumente seria tratado como uma dificuldade, será para nós a ponte promissora que nos permitirá uma aproximação fecunda com a tese de Ricoeur sobre a identidade narrativa, podendo revelar-se um traço que contribuirá para uma guinada rumo ao tratamento prático da identidade pessoal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Um terceiro e último elemento que gostaríamos de destacar na perspectiva em primeira pessoa é a sua relação com a linguagem. A questão que tentaremos responder a partir do texto de Baker é: qual o papel da linguagem na operação de conceber-se a si como si-mesmo? Em diversas passagens, a autora deixa subentendido que o central da perspectiva em primeira pessoa não é a forma gramatical na qual ela se expressa. Citamos uma passagem em que isso parece ficar mais claro: “Uma perspectiva em primeira pessoa é manifestada sempre que uma pessoa tem um pensamento, <i>seja ele expresso da maneira como for</i>, que não poderia ser empreendido por nenhuma pessoa que não tivesse a habilidade de pensar em si mesmo como si-mesmo*” (BAKER, p. 68, grifo e trad. nossa). A ideia de que a expressão da perspectiva em primeira pessoa numa sentença não é essencial pode ser comprovada numa passagem em que Baker aventa inclusive a possibilidade de um computador produzir sentenças em primeira pessoa, porém sem jamais ter condições de efetivamente exibir uma tal perspectiva: “[...] um computador pode ser programado para produzir sentenças contendo referência ao eu*, sem definitivamente apresentar tais pensamentos.” (BAKER, p. 65).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Ora, mas se a operação de conceber-se a si como si-mesmo não depende da expressão numa sentença linguística, isso não quer dizer que ela independe do <i>pensamento proposicional</i>. Na verdade, esta é a hipótese interpretativa que, neste ponto, gostaríamos de apresentar: a perspectiva em primeira pessoa só pode ocorrer mediante um pensamento proposicional. Para tentar defender esta hipótese, o nosso primeiro argumento é de que, muito embora Baker não faça esta afirmação categoricamente, em nenhum ponto ela parece se opor a isto. Em alguns momentos, inclusive, poderia nos autorizar a tal suposição. Tomemos como exemplo a passagem em que Baker recorre à figura mitológica de Édipo para exemplificar a ocorrência da perspectiva em primeira pessoa (BAKER, p. 78-80). Nessa passagem, Baker propõe que somente uma perspectiva em primeira pessoa poderia justificar a punição de cegar-se que Édipo infligiu a si mesmo ao descobrir o incesto e o parricídio que sem saber cometera. A análise do suposto pensamento edipiano na ocasião da auto-punição nos dá margem para aventar que tal pensamento só pode se tratar de uma proposição: “A tomada de consciência de Édipo de que ele* era o assassino de Laio requereu que ele tivesse os recursos conceituais para empreender o pensamento exprimível como ‘Embora eu não tivesse percebido antes, agora eu percebo que eu* sou o assassino de Laio’.” (BAKER, p. 78).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Uma segunda linha de reflexão em que nos apoiamos para sustentar que a perspectiva em primeira pessoa só pode ocorrer mediante um pensamento proposicional leva em conta a recusa de Baker em considerar os fenômenos fracos de primeira pessoa como ocorrência deste tipo peculiar de perspectiva. Mesmo as duas experiências com primatas em que o fenômeno de primeira pessoa foi de um grau tão alto<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn9" name="_ftnref9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[9]</span></span></span></a> que a autora chegou a admitir que se tratam de casos intermediários (isto é, casos limítrofes entre o fenômeno forte e o fraco de primeira pessoa) não a convenceram de que os chimpanzés exibiriam a perspectiva em primeira pessoa. Para a autora, o que ocorre nesses casos intermediários é explicado de outro modo: o auto-reconhecimento dos chimpanzés só se dá mediante intervenção de membros de outras espécies e, além disso, não é possível determinar se se trata de uma habilidade conceitual ou de uma mera habilidade de discriminação (Cf. BAKER, p. 64, nota de rodapé nº 11). Seja como for, gostaríamos de chamar a atenção para uma outra característica que não pôde ser observada no comportamento dos primatas em questão, qual seja, o pensamento proposicional. Assim, pode ser que tais primatas, considerados casos intermediários entre o fenômeno forte e o fraco de primeira pessoa, não exibem perspectiva em primeira pessoa simplesmente porque não concebem proposições.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Por fim, gostaríamos de apresentar uma terceira linha de reflexão para sustentar o caráter proposicional da perspectiva em primeira pessoa, a qual se baseia na recusa da autora em reconhecer que esta perspectiva peculiar se trata de uma mera intuição. Ao invés disso, a perspectiva em primeira pessoa seria uma <i>propriedade relacional</i> (BAKER, p. 72), advinda das relações com outras coisas diferentes daquele que possui a perspectiva em questão: “É somente perante e contra outras coisas no mundo que alguém se posiciona como sujeito com uma perspectiva em primeira pessoa” (BAKER, p. 72). Após uma consistente análise da importância do ambiente na aquisição de conceitos, Baker parte para a consideração da relação íntima que mantemos com nosso próprio corpo e de seu papel central para a perspectiva em primeira pessoa (Cf. BAKER, p. 95). É assim que a autora propõe como aspecto também central na perspectiva em primeira pessoa a condição de se ter uma relação em primeira pessoa com seu próprio corpo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">O corpo que expressa os estados e os traços de caráter da pessoa é o corpo com o qual ela mantém uma relação em primeira pessoa. [...] O corpo com o qual [alguém] mantém uma relação em primeira pessoa é o corpo cujas mãos suadas manifestariam o fato de que [essa pessoa] está nervosa, e cujo estômago embrulhado expressaria o fato de que [essa pessoa] está assustada, ou o corpo que se moveria se [essa pessoa] levasse a cabo sua decisão de sair da sala. (BAKER, p. 94).</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Assim, a operação de conceber-se a si como si-mesmo, longe de ser centrada numa intuição, é apresentada por Baker como corolário das inúmeras relações que estabelecemos com o mundo e, em especial, com o nosso próprio corpo. O que estamos tentando sublinhar aqui é justamente o caráter proposicional destas relações. Delimitada a necessidade de um pensamento proposicional para que ocorra a perspectiva em primeira pessoa, mais adiante defenderemos a ideia de que este pensamento precisará ser articulado em um discurso narrativo. Mas, antes, entremos definitivamente na aplicação da noção de perspectiva em primeira pessoa para a questão da manutenção da identidade pessoal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">2.2. A identidade pessoal como manutenção da perspectiva em primeira pessoa<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Até agora, nos esforçamos para explicar o que Baker entende como uma perspectiva em primeira pessoa. Agora, o que nos interessa é explicar de que modo a perspectiva em primeira pessoa poderá explicar a manutenção de uma identidade pessoal ao longo do tempo e em meio às mudanças. Neste ponto, não se trata mais de uma perspectiva pontual que, de certo modo, pode ser entendida como instantânea; mas, antes, trata-se de uma perspectiva que se prolonga no tempo, pelo tempo de uma vida. Numa palavra, a questão é saber como é possível que uma perspectiva em primeira pessoa se transforme no que costumeiramente se chama de <i>self</i>, um <i>eu</i> que persiste no tempo e ao qual nos referimos como cerne de nossa pessoalidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Em primeiro lugar, é preciso sublinhar que Baker expressamente declara que a perspectiva em primeira pessoa é mais básica que o <i>eu</i>, o <i>self</i>. É plenamente possível, segundo a autora, perder a capacidade de se reconhecer a si mesmo num eu ou self e, no entanto, manter a capacidade para a perspectiva em primeira pessoa. Nas palavras de Baker: “A ideia de um eu é muito mais rica que a ideia de uma perspectiva em primeira pessoa. Um eu é o lugar da integridade e coerência pessoal, mas esse eu não é requerido para a perspectiva em primeira pessoa” (BAKER, p. 88). Isto posto, passemos para uma análise mais detida sobre as contribuições da tese de Baker para o problema da identidade pessoal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">No capítulo intitulado <i>Identidade pessoal ao longo do tempo</i>, Baker sublinha que não pretende resolver o problema da manutenção da identidade pessoal por meio de um critério objetivo a partir do qual fosse possível verificar de modo incontestável a identidade pessoal dos indivíduos. Na verdade, para Baker, não há nenhuma condição que pudesse funcionar como critério nestes termos, pois a questão da identidade pessoal é uma questão complexa demais para ser passível de um tal tratamento (Cf. Baker, p. 146). Assim, a proposta é pensar a manutenção da identidade pessoal como a <i>manutenção da perspectiva em primeira pessoa</i>: “Em primeiro lugar, uma pessoa é definida em termos de uma perspectiva em primeira pessoa. Assim, uma pessoa P<sub>1</sub>, em <i>t</i><sub>1</sub>, é a mesma pessoa que P<sub>2</sub> em <i>t</i><sub>2</sub> se e somente se P<sub>1</sub> e P<sub>2</sub> têm a mesma perspectiva em primeira pessoa.” (BAKER, p. 132, grifos da autora).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Ora, se determinar quando existe uma perspectiva em primeira pessoa já se revelou uma tarefa árdua e controversa, o que diremos agora a respeito da <i>mesmidade</i> dessa perspectiva peculiar? Parece, à primeira vista, que as dificuldades se multiplicarão se seguirmos por este caminho. No entanto, buscaremos defender que a aparente vagueza da ideia de perspectiva é o que nos permitirá, de uma vez por todas, desvincular definitivamente a questão da permanência da identidade pessoal daquelas problemáticas acerca da identidade dos objetos, como a da mesmidade dos barcos, por exemplo (Cf. Baker, p. 146). O que é central na problemática da identidade pessoal é a <i>certeza de ser si mesmo</i>, e é justamente essa certeza que está no centro da ideia de manutenção da perspectiva em primeira pessoa: “Você poderia me convencer a acreditar que estou errada em pensar que eu sou L. B., mas você não poderia me convencer de que eu estou errada em acreditar que <i>eu sou eu</i> ou que eu existo.” (BAKER, p. 141, grifo nosso). A nosso ver, uma característica central dessa certeza – <i>eu sou eu</i> – é seu prolongamento no tempo: ela tacitamente implica a certeza de <i>ter sido</i> si mesmo, bem como a certeza de que <i>se será</i> si mesmo. Essa distensão temporal – para usar uma terminologia agostiniana – é o que caracterizaria a manutenção da perspectiva em primeira pessoa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Ora, se não se pretende recorrer à postulação de nenhuma substância metafísica, mas também se intentamos evitar uma busca infindável por um critério seguro e último, pergunta-se: o que significa, afinal de contas, manter uma mesma perspectiva em primeira pessoa? Neste ponto, ousaremos não seguir o conselho de Baker, segundo o qual os termos mais básicos da identidade pessoal são a mesmidade da perspectiva em primeira pessoa (Cf. BAKER, p. 138), nos empenhando em buscar uma explicação em termos ainda mais básicos para essa mesmidade. A interpretação que proporemos aqui começa questionando o termo “mesmidade” na expressão “mesmidade da perspectiva em primeira pessoa”. A pergunta inicial é: será que precisamos realmente do peso da exigência de mesmidade? Entendendo que o conceito de mesmidade encerra uma igualdade numérica, nos perguntamos como poderia essa exigência ser aplicada a um conceito tão sutil e fino como o de perspectiva em primeira pessoa. Parece-nos que falar de mesmidade, ainda que seja mesmidade de uma perspectiva, pode nos envolver em uma armadilha linguística, e que por isto seria recomendável uma certa mudança na terminologia. É preciso admitir que, em sentido estrito, uma perspectiva em primeira pessoa jamais poderá ser <i>a mesma</i>, visto que a cada momento as relações que a caracterizam (com o mundo e com o próprio corpo) serão outras. Além disso, entendemos que não é necessário que uma perspectiva em primeira pessoa seja numericamente <i>a mesma</i>; ela apenas precisa ser <i>vivenciada como se fosse</i>. E esta nos parece ser justamente a sutileza mas também a força da ideia de manutenção da perspectiva em primeira pessoa: não se trata da manutenção “do lugar a partir de onde se fala”, mas, antes, de uma recriação permanente deste “lugar”, que a rigor não existiria para além da esfera do sentido a ele atribuído. Em suma, propomos que manter uma perspectiva em primeira pessoa significa retomar linguisticamente as relações constitutivas dessa perspectiva peculiar. Dito de outro modo, manter uma perspectiva em primeira pessoa seria uma operação de recriação linguística do sentido do pensamento do tipo <i>eu sou eu</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Dessa forma, a nossa sugestão para adentrar mais um pouco no significado profundo da expressão “mesmidade da perspectiva em primeira pessoa” será a de considerá-la à luz da noção de <i>ipseidade</i>, conceito que, para Ricoeur, será central na análise do problema da manutenção da identidade pessoal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><u><span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">3. A identidade pessoal, segundo Paul Ricoeur<o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Já no Prefácio de <i>Soi-même comme un autre </i>Ricoeur adverte que este título indica a convergência de três grandes intenções filosóficas. Duas delas nos interessarão de modo particular neste nosso propósito de dialogar com a tese de Baker: (1) sublinhar o caráter reflexivo do eu e (2) distinguir duas significações da identidade pessoal: mesmidade e ipseidade<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn10" name="_ftnref10" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[10]</span></span></span></a>. No que se refere à sua primeira intenção, cremos poder aproximá-la sem maiores dificuldades da constatação de Baker segundo a qual a referência em primeira pessoa é ineliminável e irredutível. Nas palavras de Ricoeur:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">Não há equivalência, do ponto de vista referencial, entre ‘Eu estou contente’ e ‘A pessoa que se designa está contente’; este fracasso da prova de substituição é aqui decisivo; ele atesta que a expressão [em primeira pessoa] não pertence à ordem das entidades que podem ser identificadas pela via referencial. (RICOEUR, 1990, p. 61, trad. nossa).</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> A experiência individual e corpórea que Baker, como vimos, colocava na base da perspectiva em primeira pessoa encontra também no pensamento de Ricoeur um espaço privilegiado na análise da identidade pessoal. A experiência individual de ser si-mesmo é, para Ricoeur, simplesmente irredutível e deve ser prioritariamente considerada em qualquer tratamento do problema da identidade pessoal. Ricoeur inclusive chega a cunhar um termo próprio para essa experiência: <i>mienneté</i>. O termo, que não se encontra nem mesmo num dos principais dicionários da língua francesa, o Robert<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn11" name="_ftnref11" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[11]</span></span></span></a>, foi traduzido para a língua portuguesa por “minha totalidade”, tradução que falha em reproduzir o rico sentido que Ricoeur certamente pretendeu conferir ao termo – e que é central para nossa discussão –, qual seja, o de uma <i>experiência de ser si-mesmo</i>. (Cf. RICOEUR, 1990, p. 158). Essa ideia de uma experiência de ser si-mesmo – <i>mienneté</i> – nos parece também muito próxima da certeza de ser si mesmo delineada por Baker a partir da constatação de que <i>eu sou eu</i>, como vimos mais acima.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 24px;"> A referência ao corpo também será fulcral para as reflexões ricoeurianas acerca da identidade pessoal. Não o corpo objetificado, passível de uma abordagem de cunho mais naturalista, mas sim o chamado <i>corpo próprio</i>, a vivência corpórea (Cf. RICOEUR, 1990, p. 46-47). Essa atenção especial dada à vivência corpórea por Ricoeur, no entanto, repercute numa postura metodológica radicalmente distinta da de Baker: enquanto esta recorre às inúmeras experiências de pensamento a fim de colocar à prova as hipóteses e consequências teóricas de determinadas assunções, Ricoeur preferirá escolher como modelo os personagens fictícios da literatura</span><span style="line-height: 24px;"> e não o que, para ele, são apenas elucubrações. Na visão de Ricoeur, os personagens fictícios são interessantes para pensarmos a questão da identidade pessoal justamente por serem verossímeis, ou seja, poderia muito bem ocorrer que eles existissem de fato. Isso já não ocorre com os personagens das experiências de pensamento filosóficas (como as pessoas resultantes do imaginado transplante de cérebros de Parfit ou da experiência surreal do teletransportador para Marte). Os personagens literários, ao contrário destes últimos, mantêm seu suporte da identidade, que para Ricoeur é notadamente a nossa “condição corporal vivida”:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">As ficções literárias são fundamentalmente diferentes das ficções tecnológicas, posto que elas permanecem variações imaginativas em torno de um invariante, a condição corporal vivida como mediação existencial entre si e o mundo. Os personagens do teatro e do romance são humanos como nós. [...] Este traço caracteriza a condição terrestre enquanto tal e dá à Terra a significação existencial que, de diferentes maneiras, Nietzsche, Husserl e Heidegger lhe reconheceram. [...] Ora, o que os <i>puzzling cases</i> atacam diretamente é essa condição corporal e terrestre, colocando-a como contingência radical [...]. (RICOEUR, 1990, p. 178)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Assim, é tendo como eixo essa experiência individual e corpórea de ser si-mesmo que buscaremos destacar da obra de Ricoeur os elementos essenciais para explicar como ele concebeu a constituição da identidade pessoal. Já entrando, portanto, na mencionada segunda intenção de <i>Soi-même comme un autre</i>, cumpre enfatizar que Ricoeur não só conhece profundamente a problemática da identidade pessoal, bem como se insere nos debates contemporâneos em torno do tema, dialogando com diversos proponentes de soluções à questão. Ademais, é a partir das dificuldades oriundas dessas propostas mesmas que ele apresentará a sua abordagem particular da identidade pessoal. Nas suas palavras:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">Os debates contemporâneos sobre a questão da identidade pessoal, muito vibrantes no campo da filosofia anglo-americana, me pareceram uma excelente ocasião para abordar diretamente a distinção entre mesmidade e ipseidade, sempre pressuposta nos estudos precedentes mas nunca tratada tematicamente. (RICOEUR, 1990, p. 138).</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Numa palavra, para Ricoeur, qualquer análise da identidade pessoal que deixe de considerar expressamente essas duas dimensões da identidade pessoal – <i>mesmidade</i> e <i>ipseidade</i> – será parcial e incompleta. Antes de entrar numa explicação mais detida sobre esses dois aspectos da identidade pessoal, mencionemos de passagem a belíssima análise que Ricoeur faz das propostas de Locke e de Hume concernente ao problema da identidade pessoal, na qual explica em pormenores a confusão entre mesmidade e ipseidade na qual cada filósofo teria incorrido – confusão que, para Ricoeur, teria sido a geradora de conflitos intransponíveis em suas respectivas propostas de solução ao problema (Cf. RICOEUR, 1990, p. 150-154).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">3.1. Mesmidade e ipseidade: dimensões da identidade pessoal<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> A identidade pessoal, para Ricoeur, é composta por dois elementos irredutíveis um ao outro:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">Recordo os termos da confrontação: de um lado, a identidade como <i>mesmidade</i> (latim: <i>idem</i>; inglês: <i>sameness</i>; alemão: <i>Gleichheit</i>), de outro lado, a identidade como <i>ipseidade</i> (latim: <i>ipse</i>; inglês: <i>selfhood</i>; alemão: <i>Selbstheit</i>). A ipseidade, eu tenho afirmado repetidamente, não é a mesmidade. (RICOEUR, 1990, p. 140).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Quando entramos na infindável busca por um critério objetivo de identidade pessoal – como as marcas materiais, tais como código genético e impressão digital –, estamos no reino da mesmidade. Quando, ao contrário, atentamos apenas para as relações causais entre diferentes momentos da vida da pessoa – como a questão ética da manutenção da palavra empenhada –, estamos no reino da ipseidade. Ocorre que, para Ricoeur, as duas dimensões da identidade devem ser levadas em conta em qualquer abordagem válida do problema da identidade pessoal. É assim que ele desenvolve a análise de dois modelos de permanência da pessoa no tempo: o <i>caráter</i> e a <i>promessa</i>. A sua análise não tem por objetivo vincular um modelo à mesmidade e o outro à ipseidade mas, ao invés disso, visa mostrar o complexo imbricamento dessas duas dimensões da identidade em cada um desses termos. Tentaremos reproduzir brevemente a sua análise.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Para Ricoeur, na noção de caráter são implicadas as duas dimensões da identidade – mesmidade e ipseidade – de tal modo que a mesmidade recobre a ipseidade. Isso ocorre de modo tão marcante que o caráter se apresenta quase como um núcleo da identidade do indivíduo. Para explicar como se dá esse recobrimento da ipseidade pela mesmidade, Ricoeur expõe a sua concepção do processo de aquisição e sedimentação de hábitos, a qual tentaremos reproduzir. A análise que Paul Ricoeur apresenta do hábito – que é baseada nas considerações de Félix Ravaisson (1813-1900), como ele mesmo indica – enfatiza duas etapas igualmente constitutivas do hábito: a primeira é a aquisição de uma disposição e a segunda é a sedimentação dessa disposição num traço de caráter. Na aquisição de uma disposição, são constatados os elementos de inovação e historicidade: todos sabemos quanto esforço e tempo são necessários para nos habituarmos a uma nova realidade ou condição, até que cheguemos ao ponto de nos colocarmos nela de modo automático (ex: aprender a dirigir, acostumar-se a usar óculos, adaptar-se às limitações físicas decorrentes de uma doença etc.). Quando, por fim, a disposição adquirida é sedimentada num traço de caráter, verificamos que as ações passam a ser desempenhadas de modo quase mecânico e impensado: Ricoeur chega mesmo a se referir ao hábito sedimentado como uma “segunda natureza” (Cf. RICOEUR, 1990, p. 144-148).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Segundo a análise ricoeuriana do caráter, a aquisição de uma disposição é associada à dimensão da ipseidade, ao passo que a sedimentação da disposição é associada à dimensão da mesmidade. A mesmidade recobre a ipseidade na medida em que quando uma disposição adquirida se sedimenta num traço de caráter, todo o processo de inovação e historicidade próprio da aquisição de um hábito cai no esquecimento. Mas esse recobrimento, longe de reduzir uma dimensão à outra, é antes revelador da coexistência de ambas na identidade pessoal:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">Mas esse recobrimento do <i>ipse</i> pelo <i>idem</i> não chega a exigir que se renuncie à sua distinção. A dialética da inovação e da sedimentação, subjacente ao processo de identificação, faz com que nos recordemos de que o caráter tem uma história, a qual é contraída, pode-se dizer, no duplo sentido da palavra ‘contração’: abreviação e afecção. Isso é compreensível caso o polo estável do caráter possa revestir uma dimensão narrativa [...]: aquilo que a sedimentação contraiu, a narrativa pode tornar a expandir. E é a linguagem disposicional, defendida por Gilbert Ryle em <i>The</i> c<i>oncept of mind</i>, que anuncia esse desdobramento narrativo. (RICOEUR, 1990, p. 147-148).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Antes de entrarmos na solução narrativa que Ricoeur proporá para dar conta da dialética entre as dimensões <i>idem</i> e <i>ipse</i> da identidade – adiantada por Ricoeur na passagem acima – passemos a uma rápida explicação do segundo modelo de permanência da identidade que o filósofo analisa, qual seja, a promessa. Diferentemente do caráter, na promessa a dimensão da ipseidade é que prevalece sobre a da mesmidade, já que a manutenção da palavra anteriormente empenhada revela um esforço de manutenção de si mesmo em meio às mudanças pontuais relacionadas ao polo estável do caráter. Quando uma pessoa se decide por manter-se fiel à sua palavra empenhada, mesmo que, a rigor, o desejo ou condição que motivou a promessa anteriormente já não mais corresponda à situação presente, é a ipseidade que prevalece nesse tipo de permanência<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn12" name="_ftnref12" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[12]</span></span></span></a>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Se a tonalidade ética da identidade pessoal já poderia ser vislumbrada na análise que Ricoeur desenvolve do caráter, na sua análise da promessa ela salta aos olhos de modo incontestável. Se a promessa revela um modo de permanência no tempo, claro está que o que permanece, em sentido estrito, não é um elemento e tampouco um núcleo da identidade, mas, antes, o compromisso mesmo de manutenção de si. Trata-se de um modo de permanência que é levado a cabo pelo desejo de “responder à confiança que o outro deposita em minha fidelidade” (RICOEUR, 1990, p. 149).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Ora, a promessa parece, à primeira vista, colocar um desafio à explicação da permanência da identidade no tempo. Como assegurar, no esforço ético que caracteriza a manutenção da promessa, a dimensão da mesmidade? Não poderia a promessa ser pensada mais propriamente como um desafio à identidade pessoal? Ricoeur defenderá arduamente que não, argumentando que essa primeira impressão advém de uma má explicação acerca da conexão dos acontecimentos (no caso, a condição em que a pessoa se encontra num momento t<sub>1</sub>, quando faz uma promessa espontaneamente e a condição dessa mesma pessoa num momento t<sub>2</sub>, em que a promessa se torna, eventualmente, um fardo pesado que será cumprido por mero dever). Assim, ao invés de buscar um modelo causal de explicação da conexão dos acontecimentos, Ricoeur propõe que se busque o <i>modelo narrativo</i>. Para ele, somente o modelo narrativo permitirá compreender plenamente a dialética viva entre mesmidade e ipseidade, de modo a explicitar a complementaridade dessas duas dimensões na manutenção da identidade pessoal e jamais a sua mútua exclusão:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">Mostraremos primeiramente [...] como o modelo específico de conexão entre acontecimentos que constitui a colocação em intriga permite integrar à permanência no tempo o que pareceria justamente o contrário, sob o ponto de vista da identidade-mesmidade, a saber, a diversidade, a variação, a descontinuidade, a instabilidade. (RICOEUR, 1990, p. 167-168).</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Passemos agora a uma abordagem mais detida sobre o modelo narrativo de conexão de acontecimentos – o que Ricoeur chama também de colocação em intriga – a fim de fornecer uma melhor compreensão da constituição dialética da identidade pessoal em que mesmidade e ipseidade se complementam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">3.2. A identidade narrativa e o enfoque prático-linguístico da identidade<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Paul Ricoeur concebeu a identidade narrativa como um conceito chave para explicar a junção das duas formas de identidade aludidas acima: a mesmidade e a ipseidade. Segundo a noção de identidade narrativa, podemos dizer que, <i>grosso modo</i>, uma pessoa permanece sendo <i>a mesma pessoa</i> ao longo do tempo por conta da narrativa que ela cria e com a qual se refere a si para os outros e sobretudo para si mesma. Mas como é que a narrativa pode conjugar mesmidade e ipseidade? O pressuposto básico da teoria de Ricoeur é de que na narrativa ocorre a constituição conjunta da <i>ação</i> e do <i>personagem</i>. Este pressuposto coloca em destaque um ponto importante sobre a constituição da identidade pessoal: esta se daria em meio a uma trama, sendo inseparável dela. Para dizer do modo o mais simples possível, não há para Ricoeur uma separação nítida entre o que somos e a nossa história (ou melhor, a história que contamos de nós mesmos).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">A narrativa jamais será uma descrição impessoal, como poderia ser uma enumeração dos eventos ocorridos durante a cronologia da nossa vida. Ao invés disso, a narrativa é o resultado de um movimento dialético entre <i>discordância</i> e <i>concordância</i>. <i>Discordância</i> é o conceito que Ricoeur usa para se referir à multiplicidade de eventos, intenções, motivos e peripécias que perpassam nossa biografia; já <i>concordância</i> é o conceito com o qual ele nomeia o sentido de unidade ou totalidade que atribuímos à duração das nossas vivências. A <i>concordância-discordância</i> é reveladora da dialética viva entre mesmidade e ipseidade, consistindo no ato pelo qual fazemos prevalecer a unidade e a totalidade de sentido sobre a multiplicidade e heterogeneidade dos episódios de nossa vida. Esse ato só pode ser realizado a partir da constituição de uma narrativa, na visão de Ricoeur. Para explicar este conceito, Ricoeur faz alusão à noção aristotélica de <i>poiésis</i>:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">Desse modo, eu tento dar conta das diversas mediações que a intriga opera – entre os diversos acontecimentos e a unidade temporal da história contada; entre os componentes díspares da ação – como intenções, causas e acasos – e o encadeamento da história. [...] Estas múltiplas dialéticas explicitam justamente a oposição, presente desde o modelo trágico segundo Aristóteles, entre a dispersão episódica da narrativa e a potência de unificação desdobrada pelo ato configurante que é a própria <i>poièsis</i>. (RICOEUR, 1990, p. 169, grifo do autor).</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 24px;"> </span><span style="line-height: 24px;">Para explicar a constituição conjunta de personagem e intriga, Ricoeur se atém ao modelo da intriga e a partir daí explica a constituição do personagem. Ele chega a afirmar que “o personagem [...] é ele próprio colocação em intriga” (RICOEUR, 1990, p. 170). Isso porque a narração do personagem exige necessariamente que se estabeleça conexões entre ele e suas ações. Um outro elemento importante da constituição narrativa da identidade ou do personagem (que se dá juntamente com a ação, como já ficou claro) é que, na tessitura da narrativa, os acontecimentos fortuitos e casuais adquirem força de acontecimentos necessários e inevitáveis. Ricoeur afirma que “o acaso é transformado em destino” (RICOEUR, 1990, p. 175). Com isso, ele quer dizer que a narrativa, ao relacionar personagem e intriga (ou identidade pessoal e história), busca a unidade de sentido justamente a partir de conexões que não se encontram no mundo dos fatos naturais, mas tão somente na tessitura do discurso mesmo. Pensemos, por exemplo, na obra machadiana Dom Casmurro: como podemos conceber o personagem-narrador (Dom Casmurro) como sendo o <i>mesmo</i> que o personagem-narrado (Bentinho)<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn13" name="_ftnref13" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[13]</span></span></span></a>? Longe de qualquer critério objetivo possível, somente pela narrativa é que seria possível unir a personalidade vivaz, exuberante e inocente de Bentinho ao caráter solitário, triste e por vezes até mesmo perverso de Dom Casmurro já mais velho; é a história narrada que estabelece uma conexão entre o que o rapaz era e o que ele se tornara:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">De acordo com minha proposta, a narrativa constrói as propriedades duráveis de um caráter, o que nós poderíamos chamar de identidade narrativa, por meio da construção de um tipo de identidade dinâmica encontrada na intriga, com a qual cria a identidade do caráter (RICOEUR, 2003, p. 195)</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Ora, mas comparar a constituição da identidade das pessoas reais com a construção de um personagem numa intriga ficcional (como um romance, por exemplo) é um procedimento mais confiável do que recorrer às experiências de pensamento? Ousaremos responder que sim. Ricoeur elenca quatro principais dificuldades com o modelo narrativo por ele proposto, as quais mencionamos de modo bastante sucinto (Cf. RICOEUR, 1990, p. 189-193). A primeira é que, na vida, autor, narrador e personagem são a mesma pessoa, condição que na arte pode muito bem ser transposta. A segunda diz respeito às noções de começo e fim, que são bem diferentes na vida e na arte: a obra acaba ao final da escrita, ao passo que a vida ninguém sabe quando acabará (de modo que não temos como ir nos preparando para a “conclusão” de nossa narrativa autobiográfica). A terceira dificuldade diz respeito à pluralidade de narrativas na qual nos encontramos: na narrativa literária, o personagem se encontra ligado a uma obra específica, de modo que sua identidade pode ser totalmente abarcada a partir desta obra. Já na narrativa autobiográfica, a identidade das pessoas não se encontra encerrada em suas narrativas pessoais apenas: antes, ela se encontra espalhada em várias histórias diferentes (por exemplo, a narrativa de nossos pais, de nossos colegas de trabalho, de nossos filhos, de nossos alunos etc.). Essas narrativas alheias chegam inclusive a influenciar a confecção de nossas narrativas pessoais. Por fim, uma quarta dificuldade apontada diz respeito à plasticidade da identidade narrativa das pessoas: na arte, a narrativa só pode ser alterada na direção do futuro (por exemplo, publicação de um segundo volume de um romance, dando um outro rumo para a vida do personagem). Já na vida, a narrativa sempre pode ser desfeita e reconstruída, seja em direção ao futuro mas também em direção ao passado. Quanto a isto, cumpre observar a possibilidade sempre em aberto de adotarmos um discurso inteiramente novo conferindo um outro significado às ações que narramos anteriormente; Ricoeur dirá que a reconstituição narrativa de nós mesmos é uma possibilidade que só termina quando morremos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Diante dessas quatro constatações, a pergunta que fica é se realmente podemos ainda falar de unidade narrativa de uma vida para além dos limites dos personagens literários. Ricoeur responderá que sim, pois a tarefa de atribuição de sentido à nossa existência é levada a cabo por meio da configuração de um texto, e este texto é, em grande medida, configurado a partir da influência de outros tantos “textos” existentes e difundidos na nossa cultura<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn14" name="_ftnref14" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[14]</span></span></span></a>, entre os quais <i>Soi-même comme un autre</i> destaca as obras literárias:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">Sendo assim, concluímos que narrativas literárias e histórias de vida, longe de se excluírem, se completam, apesar de – ou devido a – seu contraste. Esta dialética nos faz recordar que a narrativa faz parte da vida antes de se exilar dela na escrita; ela [a narrativa] retorna à vida pelas vias múltiplas da apropriação e ao preço das tensões invencíveis que acabamos de abordar. (RICOEUR, 1990, p. 193).</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><u><span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">4. O caráter narrativo da perspectiva em primeira pessoa<o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Feita essa exposição muito sucinta dos principais aspectos das propostas dos dois filósofos para pensarmos a constituição e permanência da identidade pessoal, chegamos finalmente ao nosso objetivo, que é o de ensaiar uma concepção talvez incomum sobre a manutenção da identidade pessoal ao longo do tempo, qual seja, a de que esta permanência se daria por meio da manutenção narrativa de uma mesma perspectiva em primeira pessoa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Um ponto positivo que enfatizamos na tese de Baker acerca da manutenção da identidade pessoal foi o caráter fluido e aparentemente vago da ideia mesma de perspectiva em primeira pessoa. Longe de querer propor uma abolição deste caráter, a nossa reflexão caminha no sentido de tentar explicar como é possível que essa fluidez da perspectiva em primeira pessoa embase a certeza de ser si mesmo característica da identidade pessoal. É neste ponto que propomos conceber a perspectiva em primeira pessoa como uma <i>compreensão narrativa de nossa própria vida</i>. Uma compreensão que, conforme as reflexões de Ricoeur, só pode ser mediada pelo discurso. Assim, continuamos sem ter elementos para determinar se um indivíduo manteve ou não a mesma perspectiva em primeira pessoa; no entanto, podemos desenvolver a análise em outra direção, sustentando que quando um indivíduo se instala numa mesma perspectiva em primeira pessoa, esse <i>instalar-se </i>envolve uma retomada hermenêutica de uma narrativa de vida. Essa retomada envolve sempre uma recriação, num movimento interminável de concordância-discordância. É como se o instalar-se na mesma perspectiva fosse ele próprio, de algum modo, co-criador da própria perspectiva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">É por isso justamente que indicamos mais acima o problema em se falar em <i>mesmidade</i> da perspectiva em primeira pessoa. Se aceitarmos considerar o caráter narrativo da perspectiva em primeira pessoa, a sua manutenção estará muito melhor amparada pela ideia de ipseidade do que pela de mesmidade. Isso porque, contrariamente à mesmidade, a dimensão ipse da identidade não exige a posse de si mesmo, nem mesmo no sentido mais volátil da posse de um mesmo “lugar de onde se fala”. Na verdade, a ipseidade se caracteriza muito mais propriamente como um modo “modesto de manutenção de si”, em contraposição a um “orgulho estóico de uma rígida constância a si” (RICOEUR, 1990, p. 198).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Se seguirmos na direção aberta por essa hipótese, a identidade pessoal se caracterizaria pela manutenção da perspectiva em primeira pessoa, desde que essa manutenção seja considerada um caso em que é a ipseidade quem recobre a mesmidade e não o inverso. Isto significaria que manter a perspectiva em primeira pessoa envolveria muito mais um compromisso com nossas ações e palavras passadas do que um feliz reencontro de um eu passado com um eu presente. Manter a mesma perspectiva em primeira pessoa envolveria a evocação da perspectiva passada, por meio da qual o indivíduo se reapropriaria das relações constitutivas de outrora (com o mundo e com seu corpo). A <i>mienneté</i> de Ricoeur – ou o <i>Eu sou eu</i> de Baker – seriam, no fundo, o resultado sempre provisório de um processo interminável de busca por igualar-se a si mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Isso significa que a identidade pessoal é uma mera crença, como Hume já postulava no Séc. XVIII? Sim e não. Sim, pois, como já foi indicado diversas vezes ao longo de nosso texto, o que se propõe é um tratamento prático do problema da identidade pessoal, de modo que as exigências teóricas de uma justificação da identidade pessoal não são centrais no horizonte de nenhum dos dois autores. Mas, ao mesmo tempo, não, já que, à diferença de Hume, o que se está propondo pela convergência das teses de Baker e de Ricoeur é que esta crença que embasa a certeza de ser si mesmo é algo legítimo e não uma mera ilusão. Tanto Ricoeur como Baker encaram com bons olhos a possibilidade, sempre presente, do erro com relação à certeza de ser si mesmo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">Quando alguém usa ‘eu’ literalmente e sinceramente – mesmo em um contexto como ‘Eu imagino que eu sou Napoleão’ – ambas as ocorrências de ‘eu’ [isto é, como sujeito e como objeto referencial] se referem ao falante. Eu posso imaginar que a pessoa a quem eu faço referência em primeira pessoa (i.e., L. B.) é Napoleão. Mas, não importando quão fingida ou confusa eu esteja – os usos sinceros e literais de ‘eu’ em minha boca (e.g., eu não estou fazendo nem uma citação, nem uma encenação) se refere a mim (L. B.). (BAKER, p. 71-72)</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 35.45pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"> <span style="line-height: 24px;">Ricoeur, indo ainda mais longe, inclusive propõe que a certeza com relação à identidade pessoal, sendo do tipo hermenêutico, escapa à alternativa verdade <i>versus</i> falsidade, devendo ser compreendida não como uma prova, mas como uma <i>atestação</i><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn15" name="_ftnref15" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[15]</span></span></span></a>:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: x-small;">[...] um outro senso de certeza é acarretado, um senso que se chama <i>atestação</i>. Trata-se, dirá, de uma forma de crença não doxológica; ou seja, não é uma forma fraca de conhecimento científico. Antes, liga-se à noção de <i>testemunho</i>, no sentido de que os eus atestam sua identidade e responsabilidade através do testemunho sobre si mesmos. Obviamente, esse tipo de certeza é sempre frágil sob certos aspectos, [...] porque é sempre ameaçado pela suspeita [...] Mas esse é o preço a pagar por um discurso ciente de sua própria falta de fundamentação e, implicitamente, o preço a pagar por ser um eu. (PELLAUER, p. 125, grifos do autor)</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; tab-stops: 35.45pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Um ponto a ser notado nessa hipótese de pensar a identidade pessoal como manutenção narrativa de uma perspectiva em primeira pessoa diz respeito à dependência da identidade pessoal em relação à memória. Podemos dizer que toda tese que recorre à memória para explicar a permanência da pessoa no tempo é assolada, mais cedo ou mais tarde, pela dificuldade em relação às perdas de memória, em particular a amnésia. As soluções ao problema da identidade pessoal que repousam sobre algum tipo de continuidade psicológica baseada na memória têm, em geral, dificuldade para explicar como pode se dar a manutenção da identidade pessoal na falta da memória. E, no entanto, a literatura, o cinema e até mesmo a clínica neurológica ilustram abundantemente a possibilidade de manutenção da identidade pessoal mesmo em meio à falta de memória<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn16" name="_ftnref16" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[16]</span></span></span></a>. Segundo a hipótese que estamos aventando, a manutenção da identidade pessoal poderia se dar em uma relação mais independente em relação à memória. Isto se explicaria do seguinte modo: uma narrativa é algo criado no presente, é uma criação presente, que pode se enriquecer com os dados mnemônicos – sem dúvida – mas que igualmente pode sobreviver na falta deles. Uma criação e recriação contínua é o que é a identidade pessoal, entendida como a manutenção<b><i> </i></b>narrativa de uma mesma perspectiva em primeira pessoa. A memória requerida para esse tipo de manutenção não é prioritariamente uma memória cognitiva, semântica ou episódica, mas, antes, uma memória das vivências corpóreas e uma memória da aquisição de hábitos. Enfim, uma memória que não pretende resgatar o passado, mas antes recriar o seu sentido no presente mesmo<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn17" name="_ftnref17" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[17]</span></span></span></a>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Por fim, se a ideia de identidade narrativa poderia contribuir para desenvolver a tese da manutenção da perspectiva em primeira pessoa, acreditamos que talvez seja possível conceber uma influência também na direção inversa. Estamos nos referindo especificamente à análise ricoeuriana do tipo de manutenção de si envolvido pela promessa. É uma dificuldade explicar a manutenção da promessa naqueles casos em que a dimensão idem da pessoa tenha se alterado significativamente. A questão pode ser circunscrita: por que, afinal de contas, chega-se a desejar a fidelidade à palavra empenhada? Talvez um caminho promissor para explicar essa vontade de igualar-se a si mesmo no esforço de manutenção de uma promessa possa ser empreendido partindo-se do seguinte: somente após instalar-se narrativamente numa perspectiva em primeira pessoa, é possível que surja o comprometimento com a palavra empenhada anteriormente. Este ponto deverá, naturalmente, ser melhor investigado em outra oportunidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Conclusão<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> A hipótese de se pensar a identidade pessoal enquanto uma constituição dinâmica que se dá pela manutenção narrativa de uma perspectiva em primeira pessoa pode ser muito promissora, porém merece um desenvolvimento muito mais amplo do que o que apresentamos aqui. Indicaremos os principais problemas que deverão ser encarados por todo aquele que pretenda enveredar por este caminho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Primeiramente, é preciso avaliar as implicações da concessão que é pedida de saída, qual seja, de se estabelecer uma suposta centralidade do aspecto proposicional na perspectiva em primeira pessoa. Será preciso se questionar sobre a viabilidade, no contexto da tese da constituição de Baker, de se pensar a perspectiva em primeira pessoa como um pensamento proposicional e, além disso, de se conceber a manutenção desse pensamento proposicional como só sendo possível no contexto mais amplo da criação discursiva. A partir do texto de Baker estudado, temos poucos elementos para proceder a uma tal avaliação. Acreditamos que talvez fosse necessário um estudo que considerasse também as críticas à narrativa enquanto recurso para sustentar a identidade, empreendimento que ficará sugerido para um momento futuro<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn18" name="_ftnref18" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[18]</span></span></span></a>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> É verdade que Baker considera, ainda que muito brevemente, a proposta de um eu narrativo para se pensar o problema da identidade pessoal, a partir da análise das reflexões de D. Dennett e de O. Flanagan (Cf. BAKER, p. 87-88). Sem entrar no mérito dessas propostas diretamente, ressaltamos que o que Baker critica nessas aproximações é, em primeiro lugar, que a noção de eu é muito mais encorpada do que a de perspectiva em primeira pessoa e, em segundo lugar, que a narrativa propõe um “modelo de eu”, o que permitiria apenas um acesso em terceira pessoa e não em primeira pessoa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Quanto à primeira crítica, jamais pretenderemos negar que a ideia de perspectiva em primeira pessoa é mais básica que a de eu. Contudo, indagamos se a perspectiva em primeira pessoa seria totalmente alheia à ideia que o eu faz de si mesmo, a qual seria constituída – segundo temos defendido com Ricoeur – pela configuração narrativa. Para responder a esta pergunta, seria necessário começar por uma investigação mais sistemática de outras obras da autora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Quanto à segunda crítica, gostaríamos de sublinhar a distância imensa que separa a proposta de Ricoeur em relação às propostas mencionadas acerca do eu narrativo. Quando Ricoeur faz uma aproximação entre a configuração narrativa da identidade pessoal e a constituição conjunta de ação e personagem num romance, de forma nenhuma ele defende que a identidade pessoal se constitui na recepção passiva de um modelo narrativo. Quanto a isto, vale sublinhar que Ricoeur chama a configuração narrativa de “composição da intriga” ou “colocação em intriga”<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn19" name="_ftnref19" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[19]</span></span></span></a>, focando justamente o caráter ativo e criativo da operação subjetiva de constituição de uma narrativa. Ademais, talvez não seja inoportuno sublinhar que a proposta ricoeuriana para o problema da identidade pessoal surge no contexto mais amplo de sua reflexão sobre a constituição conjunta entre tempo e narrativa, a qual, meditando sobre os pontos de convergência entre narrativa histórica e narrativa ficcional, contribui de forma notável para uma abordagem ontológica da narratividade humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Um segundo problema a ser enfrentado pela nossa hipótese se refere ao estatuto do corpo. Na hipótese que conjuga elementos das teses de Baker e de Ricoeur, qual seria a concepção de corpo que adotaríamos, afinal? Apesar de algumas proximidades no que se refere à vivência corpórea, Baker e Ricoeur diferem drasticamente em relação à possibilidade de transferência de corpos. Este ponto, portanto, mereceria uma reflexão mais detida num momento futuro. Outro ponto que precisaria ser seriamente investigado é a relação mesma que o indivíduo mantém com seu corpo próprio. Temos destacado aqui os elementos proposicionais dessa relação, porém uma investigação mais minuciosa deverá considerar igualmente os elementos intuicionais dessa relação. A não consideração desses elementos nos parece ser o ponto mais frágil da presente exposição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"> Por fim, uma terceira tarefa a ser encarada seria a de se empreender uma investigação acerca da posição de Baker quanto à inserção gradativa do problema da identidade pessoal no campo da Ética. Segundo as reflexões de Ricoeur sobre a identidade narrativa, esta inserção é tão forte que podemos dizer que constitui uma de suas marcas distintivas<a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftn20" name="_ftnref20" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 18.3999996185303px;">[20]</span></span></span></a>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><span style="font-family: inherit; line-height: 24px;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<b><span style="font-family: inherit; line-height: 24px;">Referências<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">ASSIS, M. <b>Dom Casmurro</b>. Maceió: Cepal, 2009 (Coleção para todos).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: inherit;">ATKINS, K. Narrative identity, practical identity and ethical subjectivity. <b>Continental Philosophy Review</b>. 2004, 37, p. 341-366.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: inherit;">BAKER, L. R. <b>Persons and bodies</b>: A constitution view. Cambridge: CUP, 2000.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-family: inherit;">CHRISTMAN, J. Narrative unity as a condition of personhood. <b>Metaphilosophy</b>. Vol. 35, Nº 5, October 2004, p. 695-713.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">MICHEL, J. <b>Ricoeur et ses contemporains</b>. Paris: PUF, 2013.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">PELLAUER, D. <b>Compreender Ricoeur</b>. Trad. Marcus Penchel. Petrópolis: Vozes, 2009 (Série Compreender).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;">REY, A. (Dir.) <b>Le Petit Robert micro: </b>Dictionnaire d’apprentissage de la langue française. Dictionnaires Le Robert: Paris, 2013.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">RICOEUR, P. <b>Le conflit des interprétations</b>: Essais d’herméneutique. Paris: Seuil, 2013 [1969].<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;">______. <b>A metáfora viva</b>. Trad. Dion D. Macedo. São Paulo: Edições Loyola, 2000 [1975].<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;">______.<b> Tempo e narrativa</b>. tomo I: A intriga e a narrativa histórica. Trad. Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2010 [1983].<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;">______.<b> Tempo e narrativa</b>. tomo II: A configuração do tempo na narrativa de ficção. Trad. Márcia Valéria M. Aguiar. São Paulo: Martins Fontes, 2010 [1984].<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;">______.<b> Tempo e narrativa</b>. tomo III: O tempo narrado. Trad. Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2010 [1985].<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">______. <b>Du texte à l’action</b>: Essais d’herméneutique II. <span lang="EN-US">Paris: Éditions du Seuil, 1986.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: inherit;">______. <b>Soi-même comme un autre. </b>Paris: Seuil, 1990.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span lang="EN-US">______. Narrative identity. In: WOOD, D. (Ed.) <b>On Paul Ricoeur</b>: Narrative and interpretation. </span>London: Routledge, 2003 [1991], p. 188-199.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">SACKS, O. <b>O homem que confundiu sua mulher com um chapéu</b>. Trad. Laura T. Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
</div>
<div>
<span style="font-family: inherit;"><br clear="all" /></span>
<br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<br />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"> <span style="font-size: x-small;">Este texto é uma versão preliminar do artigo de mesmo título a ser publicado em<strong>: BROENS, M.C.; MORAES, J.A.; SOUZA, E.A. (Orgs). </strong><em><b>Informação, Complexidade e Auto-Organização</b></em><strong>: Estudos Interdisciplinares. Edição especial em homenagem à Profa. Dra. Maria Eunice Quilici Gonzalez. Marília/Campinas: Cultura Acadêmica/UNESP e Coleção CLE. (no prelo)</strong><b><o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title="">[1]</a></span></span><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""></a></span> Cf. O capítulo I: “Hermenêutica e estruturalismo” (p. 53-143) da primeira coletânea de textos de Ricoeur sobre hermenêutica, publicada em 1969, intitulada <b><i>Le conflit des interprétations</i></b> (Seuil).</span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div id="ftn2">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[2]</span></span></span></a> “Événement”, noção central no pensamento contemporâneo de vários filósofos, entre os quais destacamos Foucault e Deleuze. Em Ricoeur, cf. sua segunda coletânea de textos sobre hermenêutica, publicada em 1986, intitulada <b><i>Du texte à l’action</i></b> (Seuil), em particular a seção “L’effectuation du langage comme discours” (p. 103-107).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[3]</span></span></span></a> Esta noção aparece no tomo I de <b><i>Tempo e narrativa</i></b> (Martins Fontes, 2010 [1983]) e, com maior envergadura, na obra que, segundo Ricoeur, seria sua “irmã gêmea”, <b><i>A metáfora viva</i></b> (Loyola, 2000 [1975]).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn4">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref4" name="_ftn4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[4]</span></span></span></a> No original, “constitution view”. Optamos por não usar a tradução mais habitual por “perspectiva da constituição”, a fim de evitar a repetição cansativa do termo “perspectiva”, central em nosso texto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div id="ftn5">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref5" name="_ftn5" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[5]</span></span></span></a> Para Baker, <i>pessoa</i> e <i>pessoa humana</i> são conceitos diferentes, sendo o primeiro mais básico. O que define uma pessoa, para Baker, é a capacidade de apresentar uma perspectiva em primeira pessoa, não importando se ela possui uma relação de constituição com um corpo humano ou com outro tipo de corpo material. Assim, desde que um indivíduo apresente a capacidade para a perspectiva em primeira pessoa, ele é considerado uma pessoa, segundo a visão da constituição. Esta tese de Baker não terá grande impacto para o recorte preciso que estamos fazendo na leitura de seu texto, porém será central para o contexto em que Baker desenvolve sua teoria. Esta separação das noções de pessoa e de ser humano permitirá, por exemplo, a sua defesa da possibilidade da transferência de corpos (Cf. BAKER, 2000, p. 141-145).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn6">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref6" name="_ftn6" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[6]</span></span></span></a> É evidente que, para estender com segurança ao reino vegetal a noção de perspectiva – coisa que a autora mesma não faz – duas questões teriam de ser investigadas: a primeira é se os vegetais podem ser considerados seres sencientes, no contexto da proposta de Baker; a segunda é se os movimentos das plantas em busca de nutrientes e de luz solar podem ser considerados uma ação em sentido estrito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div id="ftn7">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref7" name="_ftn7" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[7]</span></span></span></a> A autora faz uma distinção entre <i>fenômeno forte</i> e <i>fenômeno fraco</i> de primeira pessoa, explicando que ter uma perspectiva deve ser pensado em termos de graus. Ela alude a muitas experiências reais com chimpanzés, os quais, apesar da inteligência espantosamente exibida (como auto-reconhecimento e um tipo rudimentar de auto-consciência), não chegam a ser considerados uma ocorrência de fenômeno forte de primeira pessoa. Não teremos condições de desenvolver aqui as sutilezas dessa análise, nos limitando a sublinhar que, para Baker, somente os fenômenos fortes de primeira pessoa são considerados casos de perspectiva em primeira pessoa (Cf. BAKER, 2000, p. 61).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn8">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref8" name="_ftn8" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[8]</span></span></span></a> O sinal de asterisco (*) aparece como uma estrela no texto original. A autora explica que usar um pronome seguido de uma estrela é uma maneira comum de indicar o uso reflexivo do pronome em questão, grafia cujo pioneiro teria sido Hector-Neri Castañeda (Cf. BAKER, p. 65, nota 12): “O que é especial sobre ‘eu*’ é que eu posso conceber aquela pessoa de um modo que você não pode, a partir ‘de dentro’, por assim dizer”. (BAKER, p. 68).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn9">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref9" name="_ftn9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[9]</span></span></span></a> Cf. BAKER, p. 62-64. Na primeira experiência, chimpanzés foram ensinados a reconhecer seus corpos no espelho como sendo <i>seus próprios corpos</i>. Na segunda, macacos-rhesus exibiram um comportamento com contorno ético, na medida em que tomaram a decisão de deixar de comer a fim de evitar que seus semelhantes levassem um choque.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn10">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref10" name="_ftn10" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[10]</span></span></span></a> Cumpre esclarecer, a título informativo, que a terceira intenção abarcada pelo título dessa magistral obra é, segundo Ricoeur, a de conceber a identidade pessoal no contexto da dialética entre o si e a alteridade. Reconhecemos que deixar de considerar o tema da alteridade na exposição que Ricoeur faz da identidade pessoal é quase uma mutilação de sua rica análise, a qual esperamos encontrar alguma desculpa devido aos limites deste artigo.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn11">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref11" name="_ftn11" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[11]</span></span></span></a><span lang="EN-US"> Cf. REY, A. (Dir.) <b><i>Le Petit Robert micro</i></b>. </span>(Paris, 2013).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn12">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref12" name="_ftn12" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[12]</span></span></span></a> Para uma discussão mais ampla do estatuto da promessa em Ricoeur, cf. MICHEL, Johann. <b><i>Ricoeur et ses contemporains</i></b> (PUF, 2013), especialmente a seção “La promesse et ses dilemmes” (p. 35-43), onde o autor sugere um desenvolvimento da noção de promessa em Ricoeur apontando dois tipos de manutenção da palavra empenhada, a saber, a decisão ativa e a fidelidade implícita aos deveres tácitos.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn13">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref13" name="_ftn13" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[13]</span></span></span></a> Cf. ASSIS, M. <b><i>Dom Casmurro</i></b> (Cepal, 2009).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn14">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref14" name="_ftn14" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[14]</span></span></span></a> Uma obra em que Ricoeur desenvolve a noção de <i>texto</i> é a já mencionada coletânea de 1986, <b><i>Du texte à l’action</i></b>. Cf. particularmente o capítulo “<i>La fonction herméneutique de la distanciation</i>” (p. 101-118): “Que saberíamos nós do amor e do ódio, dos sentimentos éticos e, em geral, de tudo aquilo que nós chamamos o <i>si</i>, se isto não tivesse sido trazido à linguagem e articulado pela literatura?” (RICOEUR, 1986, p. 116, grifo do autor).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div id="ftn15">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref15" name="_ftn15" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[15]</span></span></span></a> Cf. o Décimo Estudo de <b><i>Soi-même comme un autre</i></b><i> </i>(p. 345-410).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div id="ftn16">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref16" name="_ftn16" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[16]</span></span></span></a> Cf., por exemplo, o filme <b><i>Memento</i></b> (Amnésia), dirigido por Christopher Nolan (Newmarket Films, 2000). Cf. também o capítulo “O marinheiro perdido” do livro de Oliver Sacks intitulado <b><i>O homem que confundiu sua mulher com um chapéu</i></b>. (Cia. das Letras, 1997). Tanto o filme de Nolan quanto o relato clínico de Sacks sugerem que, de algum modo, personagem e paciente, respectivamente, encontraram maneiras peculiares de manter suas identidades pessoais ao longo do tempo apesar de seus graves distúrbios mnemônicos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div id="ftn17">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref17" name="_ftn17" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[17]</span></span></span></a> Para um melhor desenvolvimento desta instigante temática, sugerimos o tomo II da obra que Ricoeur escreveu em três volumes na década de 1980, <b><i>Tempo e narrativa</i></b><i> </i>(Martins Fontes, 2010 [1984]), em particular a seção 3 do capítulo 4, “A experiência temporal fictícia”, em que Ricoeur analisa o reencontro do tempo vivido pelo tempo narrado na monumental obra de Proust, <b><i>Em busca do tempo perdido</i></b><i>.</i><o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn18">
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref18" name="_ftn18" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[18]</span></span></span></a> Para este propósito, indicamos, inicialmente, um artigo de John Christman intitulado <i>Narrative unity as a condition of personhood. </i>(Metaphilosophy, October 2004, p. 695-713).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div id="ftn19">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref19" name="_ftn19" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[19]</span></span></span></a> “Mettre en intrigue”. Cf. tomo I de <b><i>Tempo e narrativa</i></b> (Martins Fontes, 2010[1983]), em particular o capítulo 3 da Primeira parte: “Tempo e narrativa: a tripla <i>mímesis</i>” (p. 93-147).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
</div>
<div id="ftn20">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><a href="file:///D:/Documentos/Download/Artigo%20para%20site%20do%20CA.docx#_ftnref20" name="_ftn20" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="line-height: 14.9499998092651px;">[20]</span></span></span></a> Uma análise mais ampla da dimensão ética da identidade pessoal pode ser encontrada no artigo <i>Narrative identity, practical identity and ethical subjectivity</i>, de Kim Atkins (Continental Philosophy Review, 2004, p. 341-366). <o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: 24px; margin-bottom: 0.0001pt; orphans: auto; text-align: right; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;">
<div style="margin: 0px;">
<span style="color: #666666; font-family: inherit; font-size: x-small;">*As ideias e informações publicadas neste artigo são de total responsabilidade do seu autor.</span></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-20763045870733781472015-03-08T20:24:00.000-07:002015-03-08T20:24:09.841-07:00Arte e Acaso, do causal ao casual. Uma introdução a problemática da produção e casualidade.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnbfJ4oGI5qASy-fUvSsIM_mFR-Wt4ftWUZ16AaWPrnzkVQwFDiGpGEjp7F-MS3ZgbFDeXcSYaBLcVidFjM_VX2GBJUDFvss1hCFiTFisUFCKo_w66p-7tQRCTuS6y0JrdN9l6cLXdRohB/s1600/Metafisica.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnbfJ4oGI5qASy-fUvSsIM_mFR-Wt4ftWUZ16AaWPrnzkVQwFDiGpGEjp7F-MS3ZgbFDeXcSYaBLcVidFjM_VX2GBJUDFvss1hCFiTFisUFCKo_w66p-7tQRCTuS6y0JrdN9l6cLXdRohB/s1600/Metafisica.jpg" height="400" width="206" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: right;">
<br />
Autor: Nailton Fernandes da Silva
</div>
<div style="text-align: right;">
Contato: arcanjo-nay@hotmail.com</div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<br />
<br />
<h4>
“A arte ama o acaso, e o acaso ama a arte.” (Agatão, tragediógrafo grego)</h4>
<br />
<div style="text-align: justify;">
A início é importante salientar que a arte enquanto saber produtivo, “não se
ocupa com aquilo que se gera por necessidade” (E.N. 1140a15), como é o caso do saber
cientifico que estuda causas universais e necessárias, isto é, o que se sucede na natureza
(physis) é gerado intrinsecamente à coisa, como diz Aristóteles, por exemplo: “o homem
gera o homem” (MET. 1070a5), expressando assim, necessidade, não podendo ser
diferente, caso contrário, ter-se-ia um acidente, que naturalmente é explicado como uma
exceção ou “anomalia” da substancia da coisa na natureza, assim explica-se por
exemplo, os casos de má formação genética na Grécia antiga. </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Deixando um pouco de lado a problemática dos acidentes naturais, por ser
deveras embaraçoso e foge nossa temática, é mister perceber que a natureza não é eterna
no sentido forte da palavra, assim como “os princípios últimos” (MET. 1069b35-36),
isto é, a matéria e a forma “não se geram”, se quiséssemos expressar essa diferença
metafísica entre não geração e eternidade, em linguagem moderna, diríamos que a
matéria e a forma se perpetuam na physis. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa “não geração” afirmada pelo Filósofo dá-lhe o caráter ingênito ou inato que
compete a forma e a matéria enquanto um todo (sinolo), pois, o aglomerado de matéria
e forma estão naturalmente em devir, e “tudo o que muda é algo, muda por obra de algo
e muda em algo.” (MET. 1069b36-37) A mudança natural, segundo o estagirita, é
explicada pela existência do “motor próximo”, que é causa de movimento do movido
(MET. 1070a), no caso, a causa última de movimento da physis é o primeiro motor
imóvel, lembrando que, esse motor difere-se abismalmente de Deus, essa palavra
carregada de qualidades metafísica, como a de criação e benevolência. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em contrapartida, na obra de arte a sua forma ou essência é imaterial, pois, a arte
é a própria forma concebida pelo artífice ainda na ausência de matéria, por exemplo, a
forma da casa concreta é a arte de construir que lhe é inerente enquanto “casa”, mas é
imaterial enquanto forma extrínseca, isto é, produto do artífice que a produz. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, a arte (tekné) é uma capacidade de gerar a “forma”, que segundo
Aristóteles, envolve um “reto raciocínio e uma capacidade de produzir” (E.N. 1140a10),
a saber, proveniente da parte calculativa da alma humana. Entretanto, a arte enquanto
produção (poiésis) deve necessariamente está ligada ao conhecimento de causas
universais, a rigor, intimamente ligado ao “logos verdadeiro” ou reto raciocínio, que por sua vez possibilita um acerto nas coisas que se sucedem diferentemente, isto é,
contingentes.
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sendo a arte à forma, o artista utiliza a matéria amorfa, e usa a técnica para dá a
forma que, segundo Aristóteles, “está presente no pensamento do artífice” (MET.
1032a32), para então produzir a obra, que tornar-se um aglomerado de matéria e forma
concretizada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso, o estagirita afirma em sua Metafísica, acerca da geração da forma das
coisas, como sendo a “arte principio de geração extrínseco à coisa gerada; ” (MET.
1070a5) Que ilustramos com um exemplo neste caso, perceberíamos que a causa
eficiente ou motora de se produzir o retrato na pedra foi Policleto, que utilizou-se do
reto raciocínio ou logos verdadeiro para tal produção, logo, o principio de geração é
extrínseco, pois a pedra amorfa nunca produziria “naturalmente” um retrato em si, com
tal perícia como o retratista em pedra faria, não havendo assim a famosa “necessidade
intrínseca” de se gerar uma estátua na natureza. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Insistindo no fato de encontrarmos uma estátua na natureza, ou algo que
“pareça” ser produto de uma produção artística, a explicação desta casualidade, seria
novamente um acidente, pois não é necessário ou natural na physis a “produção” de
estatuas, essa tarefa racional e produtiva destinou-se para um artífice ou artista.
Ademais, ainda se referindo à geração das coisas, diz Aristóteles que, a geração faz-se
também casualmente (tyché), isto é, quando ocorre a “privação” da arte. (Idem) </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A casualidade ocorre quando por acidente o excepcional se sucede, ou como
Enrico Berti aborda, se sucede um “desvio ou ausência” (BERTI, Enrico. 1998. p. 158),
neste caso estritamente a atividade humana.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A arte (tekné) e o acaso (tyché) diferem-se, sobretudo, pela racionalidade, pois é
a privação do logos que faz gerar as coisas “fortuitamente”, em contrapartida não
confundindo com “carência de arte”, que segundo o estagirita, é a disposição produtiva
acompanhada da falsa racionalidade (E.N. 1140a22). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tendo em vista que os acidentes, ou o que se sucede por acaso (tyché), segundo
o filósofo, é de natureza indeterminada, ocorrendo posteriores as causas que são “por si”
determinadas (Ver, FÍSICA. 198a7-10), é perceptível que não se possa fazer ciência
aristotélica do que é casual, pois suas causas não podem ser aprendidas. Vejamos o
exemplo do que sucede casualmente (tyché) à partir da ausência da racionalidade
(logos) artística: Policleto o retratista em pedra, não pôde calcular o que se sucedeu com
sua escultura após ter exposto em uma praça pública (causa final), incalculáveis coisas
lhe poderia suceder, sobrepujando as causas “particulares” à sua produção. Alguém não
se agradando da escultura deceparia a cabeça, alterando assim a forma; Ou, ao passar do
“tempo” a estátua mesmo sem cabeça e com a “cor alterada”, torna-se um ponto de
referência para muitos e mais bela respectivamente. A contingência inerente ao que se
sucede casualmente é explicada pelo fato de que, para Aristóteles, o acidental esta mais
“próximo ao não-ser” (MET. VI 2, 1026b20), ademais, a arte enquanto conhecimento universal dotado de logos, que por experiência aplica-se ao contingente (MET. I 1,
981a15), se opõe ao casual por ser necessariamente uma espécie de “saber e entender”,
logo, conhece os porquês ou causas, ou seja, a arte, para Aristóteles, também é uma
espécie de ciência, a saber, produtiva.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aristóteles deixa pouco esclarecido em sua Ética a Nicômaco que, “em certo
sentido, o acaso e a arte versam sobre as mesmas coisas” (E.N. 1140a15), embora nos
deixe explicito em sua filosofia primeira (Metafísica) a referência de que tanto a arte
(tekné) e o acaso (tyché), participam de certa maneira da geração, assim, a primeira dá
forma de acordo com o raciocínio do artista, e a segunda de acordo com a “privação” da
racionalidade que é própria da arte, no sentido de que o artista não pode calcular o que
ocorrerá após a finalidade de sua produção, e sobretudo, por ambas ocuparem-se das
coisas que podem ser diferentemente ou contingentes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O fato de a escultura ter se tornado ponto de referência e de contemplação para
alguns, são contingências que poderiam tanto ser como não ser, e que sobrepujará a
racionalidade do artista, portanto, tal fato ocorreu senão por sorte, pois a estatua situa-se
no devir do mundo como todas as outras coisas. A extensão do exemplo foi
propositalmente feita para atentarmos para o fato de que Aristóteles ao citar Agatão
(Tragediógrafo grego) que diz que: “O acaso ama a arte, e a arte ama o acaso” (E.N.VI
4, 1140a20), é a fim de evidenciar a harmonia que há, mesmo quando a privação da
racionalidade artística acontece, gerando algo indeterminadamente, pois a obra de arte
além da finalidade de quem produz, não há um fim absoluto e irrestrito como ocorre nas
ações práticas, isto é, não pode o artista intervir racionalmente de “maneira absoluta”
sobre a arte, tendo em vista que estritamente sua causa final foi expor em praça pública,
logo, as demais causas (para o artífice) que se sucedeu sobre a arte serão acidentais, nos
cabendo insistir que, embora a racionalidade do artífice tenha sido extrapolada após o
findar de sua finalidade, se sucedendo acidentes, nada é explicado por via de acidentes,
o que há, mesmo que de maneira subjacente, é a não racionalização absoluta do objeto
artístico. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, a obra posteriormente, sofre a ação (paixão) do devir ou de alguém que
tem outras e outras finalidades sobre a arte, constata-se assim que, toda produção é
produção sobre um solo em devir, ou no mundo sublunar que está disposto a contrários
e ao acaso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enfim, o que surge de maneira indeterminada, por acaso, se opõe ao que
naturalmente ou produtivamente está disposta a ser, não podendo inferir, portanto, que a
obra de arte (sínolo) surgiu por acaso, pois o que ocorre “por acidente” sempre é
posterior ao que é “por si” causal, caso contrário a cosmologia aristotélica da
causalidade não faria sentido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>REFERÊNCIAS </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
ARISTÓTELES. <b>Metafísica</b>. Org. Giovanni Reale. Trad. Marcelo Perine. São Paulo:
Loyola, 2013.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
ARISTÓTELES. <b>Ética a Nicômaco. Poética.</b> São Paulo: Nova Cultural, 1991.
(Coleção Os Pensadores.) </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
ARISTÓTELES. <b>Física</b>. Traducción y notas: Guillermo R. de Echandía. Editorial
Gredos, S.A. 1995.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
BERTI, Enrico. <b>As razões de Aristóteles.</b> Coleção: Leituras Filosóficas. Ed. 2. São
Paulo: Loyola, 1998.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="color: #666666; font-size: x-small;">*As ideias e informações publicadas neste artigo são de total responsabilidade do seu autor.</span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-38461871356727892082015-03-08T20:18:00.001-07:002015-03-10T22:11:30.716-07:00Disposições Gerais<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNmINo45jDGn3OsbV56hSwFwuj89qEUq3MMOFgenU71PZtF5fy_-PsQACytNOXWF0A4LAvwwQATTQew_ek42MQQ0Kd_4mSEcunmo8iA7y1k3hN4-Q63-1eGtWlN7K21aBut_9r24F42XA7/s1600/LogoCA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNmINo45jDGn3OsbV56hSwFwuj89qEUq3MMOFgenU71PZtF5fy_-PsQACytNOXWF0A4LAvwwQATTQew_ek42MQQ0Kd_4mSEcunmo8iA7y1k3hN4-Q63-1eGtWlN7K21aBut_9r24F42XA7/s1600/LogoCA.jpg" height="82" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;">Sobre o funcionamento deste espaço eletrônico: <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> O sítio eletrônico Filosofia Ufal,
inaugurado no dia 09/03/2015, é um espaço criado pelo centro acadêmico de
filosofia, na gestão <b><u>Inovação e Transformação</u></b> (2014/2015), que tem por finalidade
incentivar e impulsionar a produção de artigos, pesquisas, trabalhos e textos, a
fim de promover e valorizar a produção acadêmica do curso de filosofia-ufal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"> Apesar de ser administrado pelo
centro acadêmico, este sítio eletrônico não serve aos interesses informacionais
de seu administrador. A finalidade deste espaço, como já outrora citado, é a
publicação de artigos produzidos por alunos e professores do curso de
filosofia, independentemente da linha filosófica defendida por eles.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit;"> As ideias e informações contidas
nos artigos publicados neste endereço eletrônico são de total responsabilidade
dos seus autores. O centro acadêmico de filosofia, administrador deste espaço,
não aprova ou desaprova qualquer artigo tendo como critério a linha filosófica adotada pelo autor do artigo, para que o artigo seja aprovado basta que este possua uma
temática relacionada a uma das colunas dispostas neste sítio (Epistemologia, Estética,
Ética, Filosofia da Educação, Metafisica, Política e Trabalhos Feitos), e que cujo conteúdo possua
embasamento teórico. Porém, só serão aceitos artigos cujos autores possuam uma
ligação direta com o curso de filosofia-ufal, sejam graduandos, graduados ou docentes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;">Sobre a gestão fundadora deste espaço:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Somos estudantes dos mais
variados períodos, adeptos das mais variadas correntes filosóficas, defensores
dos mais variados sistemas políticos, que unidos, defendemos um único
propósito: A melhoria do nosso curso. Somos contrários a qualquer tentativa de
transformar o centro acadêmico em cabo de militância partidária, nossa luta é
por um centro acadêmico que de verdade represente os interesses dos alunos da
graduação e não por um centro acadêmico que luta para promover as correntes
políticas defendidas por seus membros. Nosso maior objetivo é resgatar o
interesse político dos alunos para as questões do curso, trazendo de volta a
estes o orgulho de serem representados e participarem de um C.A que se foca
exclusivamente nos interesses acadêmicos. <o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><br />
</span><br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: inherit;"><br /></span></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: inherit;">Inovação e Transformação – Gestão do Centro Acadêmico de filosofia
2014/2015.</span><o:p></o:p></b></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-7544878359392932122015-03-08T20:16:00.002-07:002015-03-08T20:18:01.591-07:00Calourada das Humanas 2015.1<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjB4WBX1bEKFZA0IU2w80_C9oN1XBdlQDX7w4pCNJJDWH8HVFskxetH_oEbyLJVAqK8cGfFhsqqfq4er3GY4se57rfxl-FlhXFuBROUwHCMB2nLAkBcIoIvvEl-Gu87Dy_SWckYwiMeGaEE/s1600/calouradadashumanas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjB4WBX1bEKFZA0IU2w80_C9oN1XBdlQDX7w4pCNJJDWH8HVFskxetH_oEbyLJVAqK8cGfFhsqqfq4er3GY4se57rfxl-FlhXFuBROUwHCMB2nLAkBcIoIvvEl-Gu87Dy_SWckYwiMeGaEE/s1600/calouradadashumanas.jpg" height="147" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
Alô, calouros! Alô, desconstrutores de paradigmas!<br />
<br />Para iniciar esse novo período e dar as boas vindas satisfatoriamente aos nossos novos alunos, os cursos de humanas (Filosofia, Ciências Sociais, Letras, Historia, Psicologia, Pedagogia, Jornalismo e Relações Públicas), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), resolveram se juntar e unificar suas confraternizações numa só, realizando uma sexta-feira repleta de integração, poesia, cores, música e alegria!<br /><br />Dessa forma, iniciaremos nossas atividades às 15h com um corredor especial para os calouros, onde teremos várias etapas, dentre elas: tequileiro nordestino, salão de beleza do fera, mela-mela, happy holi e uma piscininha pra quem quiser se renovar! Lembran<span class="text_exposed_show">do que é tudo opcional! Por volta das 16h, a banda XEROX DE VINIL entra em cena e começamos um SARAU com muita música, poesia e intervenções.<br /><br />Junto a isso, queremos deixar claro que apesar de estarmos nos divertindo não estamos “nem bem, nem zen” com a situação precarizada da nossa formação. Por isso, vamos abrir um espaço de diálogo sobre o sucateamento que o ENEM traz para a universidade e como esse processo reflete em nossos cursos.<br /><br />Por fim, às 18h iniciamos, com muito prazer, o ESCURINHO DAS HUMANAS: Contaremos aqui com o som do DJ Rafael, da Banda Alamoa (pop rock) e da Banda Resistência (reggae) para embalar essa noite incrível que vocês irão recordar até o fim da graduação!<br /><br />Contamos com vocês, calouros e veteranos, para fazer desse momento de integração e de receptividade, um momento especial.<br /><br />TARDE CULTURAL: Nem bem, nem zen, educação sucateada pelo ENEM!<br /><br />15h Trote: Corredor do Calouro<br />16h Sarau: Varal de Poesias, Literatura de Cordel e Banda Xerox de Vinil<br /><br />ESCURINHO DAS HUMANAS:<br />(a partir das 18h)<br /><br />DJ RAFAEL<br />BANDA ALAMOA<br />BANDA RESISTÊNCIA<br /><br />Tudo isso no pátio do ICHCA, no dia 13 de março, das 15h às 22h!<br /><br />Esperamos todos vocês lá!<br /><br />Organização: CAFF, CaFil, CaPsi, CaHis, CaLet, SECOM, ExAEPe</span><br />
<span class="text_exposed_show"><br /></span>
<span class="text_exposed_show"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiErq1xp4h7FsmlU8NimvTK0HTHViDwfMuB5Db_DADjmzfHPe-op_JraeN2X4ldA9lWkeixYAD6yH2Ro2zGPR2x2MflQl1PaNi57uRnMVGDqMxcfWaZd0O-5RpOCSz9CkfvbJKEUGKlmgwo/s1600/11041656_785817528176177_6821244249392966327_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiErq1xp4h7FsmlU8NimvTK0HTHViDwfMuB5Db_DADjmzfHPe-op_JraeN2X4ldA9lWkeixYAD6yH2Ro2zGPR2x2MflQl1PaNi57uRnMVGDqMxcfWaZd0O-5RpOCSz9CkfvbJKEUGKlmgwo/s1600/11041656_785817528176177_6821244249392966327_n.jpg" height="400" width="282" /></a></div>
<span class="text_exposed_show"><br /></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4550955692826413310.post-54900710473451041722015-03-08T20:10:00.003-07:002015-03-08T20:11:12.316-07:00Semana do Fera 2015.1<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdP3d5u4ROtRWzBxjD1anE0AANJ7S_DS_6R4LToXm4pKC_tsev_1ef_K2e5cyNXj0mdrCs194ca_yRnnaPD-ugp4DZyigeSktvyfQg8_wx1ZFXTqwSaOeFOGJ87_iyR7lOWhcIGzTDsYkE/s1600/LogoCA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdP3d5u4ROtRWzBxjD1anE0AANJ7S_DS_6R4LToXm4pKC_tsev_1ef_K2e5cyNXj0mdrCs194ca_yRnnaPD-ugp4DZyigeSktvyfQg8_wx1ZFXTqwSaOeFOGJ87_iyR7lOWhcIGzTDsYkE/s1600/LogoCA.jpg" height="82" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
A Coordenação do Curso e o Centro Acadêmico de Filosofia – Douglas Magalhães, como é de praxe, vão realizar a Semana de Acolhida aos Feras UFAL – 2015. Este semestre, como já ocorreu semestre passado, a Semana de Acolhida terá como foco atividades exclusivas para os Feras: apresentação do curso e docentes, do CAFIL; discussões sobre temáticas iniciais da Filosofia; apresentação e reflexão sobre a realidade do ensino de Filosofia em Alagoas, além de exposição de trab<span class="text_exposed_show">alhos artísticos de nossos estudantes e um momento festivo, ao final da Semana. Sendo assim, as aulas serão normais para os estudantes do 2º ao 8º períodos, com exceção da segunda- feira, dia 09/03/2015, dia de abertura da Semana, pois pretende-se fazer a apresentação pessoal dos professores lotados no Curso. Sendo assim, convidamos a todos(as) a comparecerem neste dia para serem apresentados como professores do Curso aos estudantes novatos, o que significa dizer que, neste dia, os professores estão liberados para participarem da Semana trazendo sua turma para acolherem os nossos novos estudantes. O resto da semana ocorrerá normalmente.</span><br />
<div class="text_exposed_show">
<br />
<b><span style="color: #990000;">PROGRAMAÇÃO SEMANA DE ACOLHIDA AOS FERAS 2015</span></b><br />
<br />
<b>SEGUNDA-FEIRA (09/03)</b><br />
<ul>
<li>Abertura 19:15h - Apresentação da Coordenação do Curso de Filosofia</li>
</ul>
<ul>
<li>Apresentação do Centro Acadêmico de filosofia</li>
</ul>
<ul>
<li>Apresentação cultural PROFANARTE</li>
</ul>
<br />
<b>TERÇA-FEIRA (10/03)</b><br />
<ul>
<li> 17h-18:45h – Mini-curso: Questões Fundamentais da Filosofia</li>
</ul>
<ul>
<li>19:15h -Palestra: A realidade do ensino de filosofia no estado de Alagoas - Robertina Teixeira</li>
</ul>
<ul>
<li>Palestra: Relato de experiências PIBID - Alunos do PIBID</li>
</ul>
<b>QUARTA-FEIRA (11/03)</b><br />
<ul>
<li>17h-18:45 – Mini-curso: Questões Fundamentais da Filosofia</li>
</ul>
<ul>
<li>19:15h - Palestra: O pensamento mitológico - Palestrante: Sérgio Lessa</li>
</ul>
<b>QUINTA-FEIRA (12/03)</b><br />
<ul>
<li>17h-18:45 – Mini-curso: Questões Fundamentais da Filosofia</li>
</ul>
<ul>
<li>19:15h - Mesa redonda: "Os diferentes conceitos de filosofia: Platão, Karl Marx, Nietzsche" Palestrantes: Flávia Benevenuto, Artu Bispo, Marcus José</li>
</ul>
<b>SEXTA-FEIRA (13/03)</b><br />
<ul>
<li>Festa na praça do ICHCA em parceria com os demais centros acadêmicos das Humanas.</li>
</ul>
<br />
Certos da colaboração de todos(as), desejamos, novamente, sucesso nas atividades acadêmicas deste semestre.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00677833612623285706noreply@blogger.com0